Canadense alega ter sofrido ‘tortura psicológica’ em prisão na China
Acusado de espionagem, Michael Kovrig diz ter sido interrogado por até nove horas todos os dias e colocado em confinamento solitário por meses
O canadense Michael Kovrig, detido pela China por mais de 1.000 dias sob a acusação de espionagem, afirmou ter sofrido “tortura psicológica” na prisão durante uma entrevista à emissora pública canadense CBC, que foi ao ar na noite de segunda-feira 23.
Kovrig disse ter sido colocado em confinamento solitário por meses e interrogado por até nove horas todos os dias quando foi detido em dezembro de 2018, tratamento que ele descreveu como uma violação do direito internacional. “O padrão das Nações Unidas é não mais do que 15 dias em confinamento solitário. Mais do que isso é considerado tortura psicológica. Fiquei lá por quase seis meses”, disse ele.
O homem acrescentou que ficou preso em uma cadeira por horas várias vezes e que foi forçado a sobreviver com apenas três tigelas de arroz por dia.
“Foi psicologicamente, com certeza, a coisa mais extenuante e dolorosa pela qual já passei”, disse Kovrig à CBC News.
Após seis meses detido em uma cela sem janelas, Kovrig foi transferido um centro de detenção preventiva, onde dividiu um quarto com uma dúzia de detentos. “Foi como ir do inferno para o purgatório”, disse ele, acrescentando que ao menos havia luz do dia entrando pelas janelas e espaço para caminhar.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, negou as acusações, alegando que as autoridades chinesas lidaram com o caso de acordo com a lei.
“Mentiras e difamações não podem mudar o fato de que a pessoa que você mencionou cometeu um crime. Aconselhamos as partes relevantes a respeitar os fatos e refletir sobre seus erros”, disse ele nesta terça-feira, 24, quando questionado por repórteres em Pequim sobre a entrevista de Kovrig.
‘Diplomacia de reféns’
Kovrig foi detido ao mesmo tempo que seu colega canadense Michael Spavor, também acusado de espionagem, logo após a prisão da empresária chinesa Meng Wanzhou, diretora financeira da empresa de equipamentos de telecomunicações Huawei, em Vancouver, sob acusações de fraude nos Estados Unidos. Na época, o Canadá chamou o caso de “diplomacia de reféns”.
Os “dois Michaels”, como foram apelidados, foram soltos quase três anos depois, em setembro de 2021, no mesmo dia em que os promotores americanos retiraram o pedido de extradição e concordaram em libertar Meng.
Durante a entrevista, Kovrig descreveu pela primeira vez o momento de sua prisão. Ele afirmou que estava voltando para casa com sua companheira, na época grávida de seis meses, após um jantar em Pequim em dezembro de 2018, quando foi detido por uma dúzia de homens chineses vestidos de preto e gritando “É ele”.
O ex-diplomata que trabalhava como consultor sênior para o think tank International Crisis Group disse que foi algemado, vendado e jogado em uma SUV preta.
“Naquele momento, eles disseram: ‘Você está sob suspeita de colocar em risco a segurança do estado da China. Você será interrogado’”, disse Kovrig. “Um arrepio percorreu minha espinha.”