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Camilla da Cornualha, de amante a Rainha Consorte

O divórcio amargo entre Charles e Diana, e depois a morte da princesa, transformaram Camilla na megera-mor. 25 anos depois, sua vitória é cristalina.

Por Amanda Péchy
Atualizado em 8 set 2022, 19h05 - Publicado em 8 set 2022, 18h49

Quando a primeira esposa de Charles, a popular e glamorosa princesa Diana, morreu aos 36 anos em um acidente de carro em Paris em 1997, Camilla foi retratada pela mídia como a mulher mais odiada do Reino Unido, alguém que nunca poderia se casar com Charles, muito menos se tornar rainha.

Só que, 25 anos depois, a Duquesa da Cornualha, que já foi chamada de “rottweiler” pela mulher que ela substituiu, tornou-se rainha consorte do rei Charles III.

Charles e Diana se separaram em 1992 e se divorciaram formalmente em 1996. Diana culpou Camilla, muitas vezes retratada como séria e deselegante, por arruinar seu casamento. Mas Charles e Camilla se casaram em 2005 e, desde então, ela passou a ser reconhecida, embora de má vontade por alguns, como um membro-chave da família real, cujo efeito calmante sobre o marido o ajudou a lidar com seu papel de “príncipe profissional”.

Quaisquer dúvidas remanescentes sobre seu futuro status foram finalmente dissipadas no 70º aniversário da ascensão da rainha Elizabeth II ao trono, em fevereiro deste ano, quando a monarca deu sua bênção a Camilla com o título de rainha consorte.

“É meu sincero desejo que, quando chegar a hora, Camilla seja chamada de rainha consorte”, manifestou Elizabeth, 95 anos, em carta aos súditos em que se diz “eternamente agradecida” e “sensibilizada” pelo apoio que recebeu nos setenta anos de reinado, o Jubileu de Platina

Nascida Camilla Shand, em 1947, em uma família rica – seu pai era um major do exército e comerciante de vinhos que se casou com um aristocrata – ela cresceu em uma propriedade rural e foi educada em Londres antes de ir estudar na Suíça e depois no Instituto Britânico, na França.

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Ela navegou por círculos sociais que a colocaram em contato com Charles, quem conheceu em um campo de polo no início dos anos 1970.

“Seu mundo virou de cabeça para baixo e eu não acho que ele realmente se recuperou disso”, disse Christopher Wilson, autor de um livro sobre o relacionamento do casal.

Diz a lenda que, nos primeiros dias, Camilla lembrou a Charles que sua bisavó, Alice Keppel, era amante de longa data de um antigo príncipe de Gales que se tornou o rei Eduardo VII. Depois disse: “E então?”

O casal namorou por um tempo, mas Charles se sentia jovem demais para casar. Camilla acabou casando com um militar de cavalaria, o brigadeiro Andrew Parker Bowles. O casal teve dois filhos, Tom e Laura. Eles se divorciaram em 1995.

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Já Charles se casou com Diana, de 20 anos, em 1981, com uma cerimônia que encantou não apenas o Reino Unido, mas o mundo. Apesar de terem dois filhos, William e Harry, o relacionamento azedou alguns anos depois e o príncipe reatou seu romance com a ex-amante.

O caso veio a público em 1993, quando uma transcrição de uma conversa privada, gravada secretamente, foi publicada pela mídia britânica. Na conversa, o então príncipe declarou o desejo de “viver dentro das calças” de Camille e reencarnar como um absorvente interno.

“Sua grande conquista é me amar”, disse ele. “Oh, querido, foi mais fácil do que cair de uma cadeira”, ela respondeu.

Em uma famosa entrevista na TV no ano seguinte, Charles admitiu que havia retomado seu caso menos de seis anos depois de se casar com Diana, mas disse que foi apenas depois que o casamento foi irremediavelmente quebrado. No entanto, Diana apelidou Camilla de “a rottweiler” e a culpou pelo rompimento. Quando seu relacionamento com Charles entrou em colapso, ela comentou em uma entrevista na TV em 1995: “Tinha três pessoas neste casamento. Era gente demais.”

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Enquanto Diana trazia glamour para a abafada Casa de Windsor com seus vestidos brilhantes, muitos britânicos não conseguiam entender por que Charles preferia Camilla.

“Charles foi tolo ao arriscar tudo com Camilla, para um homem em sua posição”, disse o príncipe Philip, marido de Elizabeth, em carta a Diana. “Não consigo imaginar ninguém em sã consciência deixando você por Camilla.”

Pessoas próximas a Charles dizem que o apelo de Camilla foi porque ela lhe proporcionou um refúgio de seus rígidos deveres reais e educação no palácio. Logo após o fim de seu casamento com Diana, ele teria comprado um anel de diamante e um cavalo para ela e lhe enviado diariamente buquês de rosas vermelhas.

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O divórcio amargo insuflou nos britânicos um turbilhão de ressentimento para com todos que haviam feito a princesa sofrer: Elizabeth, a sogra insensível, Philip, o sogro impiedoso, Charles, o marido indiferente, e, claro, Camilla, a megera-mor. Um quarto de século depois, comprova-se mais uma vez que o tempo — e uma habilidosa estratégia de restauração de imagem — cura feridas.

Após a morte de Diana, os chamados “homens de terno cinza”, funcionários do Palácio de Buckingham, encarregados de reconstruir a reputação manchada da família real, também começaram lentamente a tarefa de integrar Camilla em um papel mais público. A primeira aparição pública do casal ocorreu em uma festa de aniversário da irmã de Camilla no hotel Ritz, de Londres, em 1999. Seis anos de publicidade e marketing depois, eles conseguiram se casar. (A cerimônia, contudo, foi extremamente reduzida e Elizabeth não compareceu.)

As críticas na imprensa praticamente sumiram quando ela se tornou um membro estabelecido da família. Seu senso de humor travesso – não muito diferente do da própria rainha Elizabeth II – ajudou a conquistar aqueles que a conheceram.

Em 2013, ela se juntou ao marido para a abertura estadual do parlamento, uma ocasião de grande pompa, sentada ao lado de Charles, da rainha e do príncipe Philip e usando a tiara pertencente à mãe da rainha. A imagem foi o resultado de muito trabalho árduo e cuidadoso da equipe de publicidade do novo rei, embora muito se deva à própria personalidade de Camilla.

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Os tabloides que antes eram altamente críticos agora a elogiam. “Ninguém finge que foi fácil para a duquesa da Cornualha suceder Diana. Mas com dignidade tranquila, humor fácil e compaixão visível, ela aceitou o desafio. Ela é, simplesmente, o porto seguro de Charles”, escreveu o Daily Mail em em fevereiro deste ano.

O mesmo jornal, quase 17 anos antes do dia em que Charles e Camilla anunciaram o noivado, havia dito: “Então, o público agora está disposto a perdoar a maneira desprezível como Diana foi tratada? Onde eles estão errados, no entanto, é permitir que Camilla seja conhecida como Sua Alteza Real – o título tão impiedosamente tirado de Diana após seu divórcio”.

Foi uma vitória cristalina e irrecorrível da “outra”. Ela fez por onde: desde que pôs os pés no palácio, empenhou-se em se mostrar simpática, comedida e pé no chão. Desajeitada no começo, acostumada à vida no campo e a circular apenas na rarefeita panelinha da aristocracia, aprendeu a se vestir, a acenar e a representar a família em cerimônias oficiais, além de se dedicar com vigor às causas humanitárias que estão na descrição do emprego.

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No entanto, Camilla nunca conquistou totalmente a afeição do público. De acordo com pesquisas do YouGov, em maio de 2022, apenas 20% dos entrevistados achavam que ela deveria ser rainha, enquanto 39% achavam que ela deveria receber o título de princesa consorte. No entanto, depois que a rainha Elizabeth II lhe concedeu o título, uma pesquisa do Daily Mail sugeriu que 55% apoiaram a mudança.

Embora muitos britânicos tenham sido implacáveis ​​sobre qualquer papel que ela desempenhou no rompimento do casamento de Charles e Diana, o príncipe Harry indicou que esse não era o caso dele e de seu irmão mais velho.

“Para ser honesto com você, ela sempre foi muito próxima de mim e de William”, disse Harry em uma entrevista para marcar seu aniversário de 21 anos em 2005. “Ela não é a madrasta má.”

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