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‘Cafés da morte’: um espaço para falar sem tabus na Suíça

Reuniões costumam contar com idosos que sentem a proximidade do fim ou pessoas que sofreram perda repentina e não sabem como reagir

Por agência EFE
16 jun 2018, 16h16

O ambiente é quente e acolhedor, tanto que parece querer desafiar o tema que será debatido durante uma hora e meia: falar em público sobre a morte nos chamados “cafés mortels” (“cafés mortais”, em francês) na Suíça.

A ideia de falar sobre a morte em uma cafeteria foi lançada pela primeira vez pelo sociólogo suíço Bernard Crettaz durante uma conferência em 2004. A concretização disso veio com os cafés da morte, que já existem em vários outros países, como França e Bélgica.

Crettaz inaugurou o seu último café em 2014 e passou o bastão para a associação ‘En vie de dire a mort’ (“Em vida para falar da morte”).

Ninguém é especialista quando, por uma causa ou outra, se depara com a morte. É um tema no qual todos podemos contribuir com opiniões e experiências, e todas elas são válidas

Em um país onde o suicídio assistido é legalizado — no ano passado a associação Exit aprovou 450 solicitações e ajudou a realizar 286 mortes desejadas –, a ideia de Crettaz não surpreende.

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De fato, a possibilidade de decidir o momento da própria morte é um dos temas abordados nos “cafés mortels”. Dos doze participantes de um dos encontros, nem todos tomam a palavra. Os turnos de fala são sempre respeitados, além do silêncio e das emoções.

“Este tipo de reunião costuma contar com idosos que começam a pensar que a morte não está longe ou pessoas que sofreram uma perda repentina e não sabem como reagir”, explica uma das coordenadoras da associação, Albane Bérard.

O que é contado no café fica no café, uma regra que facilita que os presentes se abram e expressem porque muitas vezes têm histórias difíceis de contar.

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Como a história da senhora com câncer que sabe que não tem muito tempo pela frente. Como a do homem que decidiu desligar os aparelhos que mantinham viva a esposa em coma. Como a da mulher que descobriu que a mãe tinha morrido após deixar de tomar o remédio por vontade própria. Como a do casal que perdeu um filho recém-nascido.

Embora já tenham se passado dezoito anos, as lágrimas voltam a se amontoar nos olhos do pai que se abre no “café mortel”, mas a dor não é o único fator em comum neste lugar: as pessoas se reúnem para buscar respostas para uma pergunta que todos têm — como continuar vivendo quando um ente querido morre? Ninguém busca um enfoque teórico, nem especialistas no assunto.

“Ninguém é especialista quando, por uma causa ou outra, se depara com a morte. É um tema no qual todos podemos contribuir com opiniões e experiências, e todas elas são válidas”, esclareceu Bérard.

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Stefania Lemière, outra das organizadoras, expôs um dos problemas desses encontros: “Muitas vezes, a primeira sensação que encontramos é a rejeição quando propomos organizar um ‘café mortel'”, analisou.

“Isso complica a continuidade e a regularidade das reuniões. E para alguém que está enfrentando uma perda recente, uma reunião por mês não é suficiente”, comentou.

Para evitar que falar da morte se torne um tabu, os cafés propõem uma conversa livre, franca e honesta sobre o inevitável: repensar o sentido da vida e entender que a morte não tem por que ser uma catástrofe. No fim, “a morte espera por todos”, disse Lemiére.

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