Clique e Assine VEJA por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Cadê a comida que estava aqui? Prateleiras britânicas começam a esvaziar

A escassez geral de produtos e de mão de obra resultante da pandemia, somada aos efeitos do Brexit, já causa impacto nos supermercados

Por Caio Saad Atualizado em 4 jun 2024, 12h53 - Publicado em 5 set 2021, 08h00

Conhecida por servir seu cardápio de fast-food em áreas remotas e de difícil acesso — exemplo: a base militar americana na Baía de Guantánamo, em Cuba —, a rede McDonald’s tomou uma providência inusitada nos últimos dias de agosto: em pleno Reino Unido, suspendeu a venda de milk-sha­ke nas 1 250 lojas por falta de matéria-prima. É uma amostra, das mais dramáticas para aficionados, da escassez de produtos que tem afetado o mundo inteiro por causa da pandemia e que se abate com vigor redobrado na ilha britânica pós-Brexit. Seja pelo caos que se instalou nos transportes, seja pela mão de obra barata que acordou para sua importância e se recusa a voltar ao trabalho nas mesmas condições, seja pela pura e simples suspensão da produção durante meses, o fato é que, à medida que o planeta começa a girar como antes, serviços e indústrias esperneiam para suprir a demanda renovada. O gargalo é geral, mas se estreita mais ainda no reino divorciado da União Europeia, de onde se calcula que 1 milhão de moradores estrangeiros tenham ido embora desde a virada da página final da separação, em 31 de janeiro de 2020 — a maior queda anual da população residente desde a II Guerra Mundial.

O nó mais crucial está no setor de transportes: a força de trabalho, de 600 000 motoristas pré-pandemia, minguou e as empresas estão tendo enorme dificuldade para preencher cerca de 100 000 vagas de necessidade premente. Como o Brexit acabou com a livre circulação entre a ilha e o continente, os motoristas precisam encarar uma enorme burocracia e longas filas na fronteira, o que atrasa a chegada de mercadorias e reduz os ganhos (eles são pagos por quilometragem) — fatores que tornam o Reino Unido um mercado pouco atraente para entregas. Dentro do país, o interesse pela profissão também está caindo. Segundo a associação de transportadoras, 25 000 pessoas a menos fizeram exame de habilitação para dirigir caminhão neste ano. Preocupado com o desabastecimento e as prateleiras vazias nos supermercados, o governo flexibilizou a jornada de trabalho, elevando o limite diário de nove para onze horas ao volante duas vezes por semana. “Isso permitirá que motoristas de veículos pesados façam viagens um pouco mais longas”, diz o comunicado, ressaltando que a exceção só deve ser usada quando não comprometer a segurança. Até agora, a medida não surtiu muito efeito.

BUROCRACIA - Fila de caminhões 
na alfândega: entregas atrasadas -
BUROCRACIA – Fila de caminhões 
na alfândega: entregas atrasadas – (Gareth Fuller/PA Images/Getty Images)

A falta de mão de obra também emperra o setor de alimentação. A Asso­ciação Britânica de Produtores de Carne, com 15% de funcionários a menos, cogitou convocar presidiários para atuar no processamento, mas a proposta foi vetada. “As regras de imigração adotadas depois do Brexit fecharam abruptamente o acesso ao mercado britânico de estrangeiros com experiência e competências específicas”, explica Rick Allen, executivo-­chefe da associação de produtores do setor que emprega mais de 75 000 pessoas e movimenta 8,2 bilhões de libras por ano. A produção de aves e derivados passa pelos mesmos transtornos — segundo o Conselho Britânico de Avicultura, 7 000 vagas (um em cada seis empregos) ficaram vazias com a volta de trabalhadores estrangeiros para o continente.

Continua após a publicidade

A rede Nando’s, que faz sucesso com seu péssimo frango apimentado, acaba de fechar 45 lojas por causa da falta de matéria-prima. A criação de perus se reduziu e já se antecipam problemas de fornecimento para as festas de fim de ano. “O tempo passa rápido. Estamos nos aproximando do movimento intenso do Natal e Ano-Novo, quando uma cadeia confiável de suprimento é vital”, alerta Richard Walker, diretor da rede de supermercados Iceland. Do outro lado da queda de braço, o governo insiste na tecla de que as empresas precisam achar meios de atrair britânicos para os postos vagos. “Contratar estrangeiros é uma solução temporária, de curto prazo”, afirma o ministro do Comércio, Kwasi Kwarteng.

Os atrasos no setor de transportes resultam, no momento, em estoques 21% abaixo do nível esperado de vendas no varejo, a menor proporção desde que o índice passou a ser medido, em 1983. O comércio de materiais de construção está igualmente comprometido — o prazo de entrega passou de uns poucos dias para até três meses. Montadoras de automóveis deixam de produzir por falta de peças. “As empresas precisam se planejar para a nova situação”, diz Alex Hersham, diretor-executivo da empresa de logística Zencargo. Aos consumidores, resta torcer para o abastecimento se regularizar — ou começar a mudar de hábitos. A VEJA, o McDonald’s informou que não há previsão de retorno dos milk-shakes às lojas britânicas.

Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2021, edição nº 2754

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.