Buscando reeleição, premiê da Índia diz que foi ‘escolhido por Deus’
Narendra Modi, que deve continuar no poder quando eleições acabarem em 4 de junho, afirma que Deus age por meio dele, embora 'não revele suas cartas'
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, disse acreditar que foi “escolhido por Deus” para liderar o país, em meio à corrida para ser reeleito. O pleito no país, que tem vários estágios, chegará ao fim no dia 4 de junho, e tudo indica que o premiê populista continuará no poder.
“Estou convencido de que Parmatma (Deus) me enviou com um propósito. Uma vez alcançado o propósito, meu trabalho estará concluído. É por isso que me dediquei completamente a Deus”, disse ele ao canal de notícias NDTV no domingo 26.
Modi, que deve ganhar um terceiro mandato como primeiro-ministro quando os resultados das eleições gerais forem anunciados, explicou na entrevista que embora Deus seja seu guia, ele não sabe o que o futuro reserva.
“(Deus) não revela suas cartas, apenas fica me obrigando a fazer coisas. E não posso ligar diretamente para ele para perguntar o que vem a seguir”, declarou ele.
Nacionalismo hindu
Modi construiu um bem-sucedido culto à personalidade dentro do seu partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP). Uma pesquisa recente da Morning Consult classificou o premiê indiano como o líder global mais popular do mundo, com um índice de aprovação de 76% no país. Muitos dos eleitores votam no BJP só por causa de Modi, sem nem conhecer candidatos locais ou outros membros do gabinete governamental.
O BJP também promove ativamente o hinduísmo, a maior religião da Índia, em todos os aspectos da vida pública. Na inauguração do templo em Ayodhya, em janeiro, foi Modi, e não os sacerdotes hindus, quem desempenhou o papel principal nos rituais. Além disso, desde que chegou ao poder, em 2014, aumentaram os casos de perseguição a muçulmanos, fé minoritária no país.
No entanto, esta é a primeira vez que Modi, que raramente dá entrevistas e não realizou coletivas de imprensa nos seus dez anos no poder, fala de si mesmo com tanta franqueza como um instrumento divino.
“Essa declaração de Modi é o culminar lógico do tema dominante do BJP”, escreveu o jornal indiano The Telegraph em editorial.
Críticas
O chefe do Partido do Congresso, Rahul Gandhi, líder da oposição na Índia, ridicularizou os comentários do premiê. “Se uma pessoa comum tivesse feito as declarações que Modi fez recentemente, ela seria levada diretamente a um psiquiatra”, disse ele.
Quando questionado em entrevista se o primeiro-ministro sofria de um “complexo de Deus”, o porta-voz do BJP, Sanju Verma, porém, exaltou sua energia e comprometimento.
“Em apenas um dia, ele realiza road shows, alguns comícios, viaja para três estados diferentes e, quando retorna a Délhi à noite, dá entrevistas completas à mídia. Ele é dotado de energia ilimitada”, disse Verma.