Bukele é reeleito em El Salvador com mais de 80% dos votos
'Ditador mais descolado do mundo' cantou vitória antes dos resultados oficiais; seu governo colheu 90% de aprovação devido a duras medidas de segurança
![Salvadoran President Nayib Bukele greets supporters next to his wife Gabriela Rodriguez after the presidential and legislative elections in San Salvador on February 4, 2024. Fireworks erupted in El Salvador's capital as gang-busting President Nayib Bukele claimed to have won reelection with more than 85 percent of votes cast: "a record in the entire democratic history of the world." (Photo by Marvin RECINOS / AFP)](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/02/000_34HN3GH.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, foi reeleito no domingo 4, confirmando sua força no pleito que lhe concedeu, segundo resultados provisórios, 83% dos votos. Embora seu governo esteja envolto em controvérsias devido à concentração de poderes no executivo, levantando preocupações a respeito da erosão da democracia no país centro-americano, suas duras medidas para a repressão de gangues e segurança parecem ter sido suficientes para garantir um novo mandato.
O líder de 42 anos, que refere-se a si mesmo como “o ditador mais descolado do mundo”, chamou as eleições de um “referendo” sobre o sua administração. Bukele declarou-se vencedor antes do anúncio dos resultados oficiais, alegando ter obtido 87% dos votos. Milhares de apoiadores do presidente, vestidos de azul ciano e agitando bandeiras, aglomeraram-se na praça de San Salvador para celebrar a vitória esmagadora.
“Todos juntos, a oposição foi pulverizada”, disse Bukele, ao lado de sua esposa, na varanda do Palácio Nacional, aos seus apoiadores. “El Salvador passou de [país] mais inseguro a mais seguro. Agora, nos próximos cinco anos, esperem para ver o que faremos”, acrescentou.
Espera-se que o seu partido, Novas Ideias, conquiste quase todos os 60 assentos no corpo legislativo, o que significa que Bukele terá ainda mais influência, tornando-se efetivamente o líder mais poderoso da história moderna de El Salvador, e será capaz de reformar a constituição. Seus oponentes temem que isso resulte na eliminação dos limites de mandato.
Segurança em foco
Com popularidade beirando os 90%, Bukele fez uma campanha baseada no sucesso de sua estratégia de segurança. A criminalidade caiu de 107 homicídios para cada 100 mil pessoas, em 2015, para 2,3 homicídios por 100 mil habitantes, em 2023, mas a um custo alto. Estima-se que mais de 75 mil salvadorenhos foram presos sem acusações, mais de 1% de toda a população.
As políticas de segurança de linha-dura, além disso, são apoiadas em um enorme investimento em estratégica comunicacional, e ao mesmo tempo um ataque direto às instituições. Em paralelo às prisões, Bukele destituiu o procurador-geral e substituiu os juízes da Suprema Corte por aliados, criando um modus operandi de encarceramentos indiscriminados (sem ordens judiciais), ausência de processos legais (prorrogando indefinidamente o tempo de prisão), e abusos e condições precárias na cadeia.
Poucos duvidam, porém, do resultado das eleições. Pesquisas eleitorais evidenciam que a maioria dos eleitores queria recompensar Bukele por dizimar as gangues, ou “maras”, como são conhecidos os grupos de crime organizado em El Salvador, que tornaram a vida intolerável no país e alimentaram ondas de imigração para os Estados Unidos.
A projeção é que os candidatos do FMLN e ARENA, dois partidos que, antes da primeira eleição de Bukele, em 2019, costumavam alternar o poder entre si, receberam apoio de um dígito, marcando a rejeição às forças tradicionais cujo governo foi marcado pela violência e pela corrupção por décadas.
Desafios
O maior obstáculo de Bukele no segundo mandato será, provavelmente, a economia, que registou o crescimento mais lento da América Central durante o seu período no poder. Mais de um quarto dos salvadorenhos vive na pobreza.
A pobreza extrema duplicou e o investimento privado caiu sob Bukele. O Fundo Monetário Internacional (FMI), que está negociando um resgate de US$ 1,3 bilhões com El Salvador, descreveu no final de 2023 a situação fiscal do país como “frágil”.