Boris Johnson diz que desabastecimento no Reino Unido pode durar até Natal
Nesta segunda-feira, cerca de 200 militares começaram a transportar combustível para postos de gasolina em tentativa de reduzir pressão
Com certa relutância, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu neste domingo, 3, que a escassez de combustíveis no Reino Unido pode durar até o Natal, mas reiterou que não pretende recorrer à imigração descontrolada para resolvê-la.
Em entrevista à rede BBC, Johnson adotou uma postura defensiva diante das perguntas feitas pelos entrevistadores, no mesmo dia em que o Partido Conservador, do qual faz parte, deu início ao seu congresso anual. Para o premiê, os problemas enfrentados pela economia britânica, que ameaçam ofuscar o Congresso, são devidos ao período de ajuste no mercado de trabalho após o Brexit e à rápida recuperação depois que o Reino Unido deixou a União Europeia.
O secretário de Estado da Fazenda, Rishi Sunak, não descartou a possibilidade de que a crise de abastecimento pudesse se estender até o Natal. Perguntado a respeito, o premiê assentiu. “Rishi está sempre certo no que ele diz”, respondeu.
“O que estamos vendo são as pressões e as tensões sofridas por uma economia que é a que mais cresce nos países do G7”, argumentou Johnson repetidamente, a fim de minimizar as crises em vários setores.
Nesta segunda-feira, cerca de 200 militares do Exército britânico, sendo a metade composta por motoristas, começaram a transportar combustível para postos de gasolina no Reino Unido, em tentativa de conter o desabastecimento e reduzir as filas de espera.
A escassez tem sido particularmente sentida nos últimos dias nos postos de gasolina do país, que não estão recebendo combustível devido à falta de motoristas de caminhão, o que acentuou a escassez de produtos alimentícios nos supermercados.
Falta de mão de obra
A escassez de aproximadamente 100 mil caminhoneiros, causada pela Covid-19 e pelo aumento da burocracia para profissionais de outros países atuarem na região após o Brexit, levou o governo britânico a anunciar uma série de medidas para suprir esta falta de motoristas e, principalmente, evitar que o esgotamento dos combustíveis nos postos de gasolina e a interrupção no fornecimento de mercadorias para supermercados se agravem ainda mais.
Em 25 de setembro, Johnson anunciou a concessão de 5 mil vistos temporários para profissionais de outros países poderem atuar na região. O comunicado foi feito pelo Departamento Britânico de Transporte, que detalhou a concessão para motoristas de caminhões-tanque e caminhões de alimentos por três meses com objetivo de aliviar a situação na região pelo menos até o Natal.
Líderes do setor de transportes, no entanto, classificaram a medida como insuficiente, ressaltando que são necessários cerca de 100.000 trabalhadores adicionais. Tanto os transportadores como os representantes da indústria da carne e das aves atribuíram parte do problema à impossibilidade de contratar europeus sem visto de trabalho após o Brexit e a saída de milhares de cidadãos da União Europeia residentes no Reino Unido para os seus países de origem durante a pandemia.
Johnson, por sua vez, defendeu a saída de seu país da UE como uma forma, precisamente, de não ter que usar trabalhadores mal remunerados e assim forçar as empresas a pagar melhor a seus funcionários.
“O caminho a seguir não é puxar a alavanca da imigração descontrolada e permitir a entrada de um grande número de pessoas”, disse Johnson, referindo-se às duras restrições em vigor para cidadãos da União Europeia obterem um visto de trabalho no Reino Unido. “Durante décadas temos contado com pessoas trabalhadoras vindas principalmente dos países do alargamento da UE, que estavam dispostas a fazer esses trabalhos por baixos salários e por isso agora são pouco atraentes”.
O primeiro-ministro insistiu que o problema específico dos postos de gasolina se deve ao aumento da demanda devido ao que chamou de “efeito de tração” causado pela escassez de combustível entre os motoristas. Ele ainda lembrou que a falta de motoristas de caminhão afeta outros países, como Estados Unidos, China e Polônia.