Aústria nega refúgio a homossexual afegão por “não parecer gay”
'A maneira de caminhar, sua atitude e sua forma de se vestir não dão a entender em absoluto que possa ser homossexual', registrou o funcionário
Um afegão de 18 anos pediu asilo na Áustria alegando sofrer perseguição por sua condição de homossexual, mas recebeu resposta negativa do escritório de estrangeiros e refúgio de Viena. A justificativa apresentada pelo órgão surpreendeu ainda mais: ele não parecia ser suficientemente gay, informou nesta quarta-feira (15) a revista austríaca Falter.
As detalhadas descrições do aspecto “não suficientemente gay” provocaram manchetes irônicas tanto na imprensa austríaca como na alemã. “A maneira de caminhar, sua atitude e sua forma de se vestir não dão a entender em absoluto que possa ser homossexual. Ao não sê-lo, não tem nada a temer se retornar ao Afeganistão“, diz o relatório.
Outro dos “indícios” alegados pelos funcionários austríacos foi que o jovem brigou com outros meninos e, portanto, “tem um potencial de agressão que não cabe esperar em um homossexual”. A isto se soma que o requerente “tem poucos amigos” e gosta de sair sozinho ou em grupos pequenos, quando na opinião dos avaliadores, “os homossexuais são mais sociáveis”.
Por fim, os funcionários não acreditam no jovem quando ele afirma que beijou meninos que não eram gays porque, se fosse verdade, “teria levado uma tremenda surra”.
Dada a argumentação, o afegão recorreu, afirma a revista, que não expõe o nome do jovem.
Na corrente imigratória do Oriente Médio e da África para a Europa, algumas pessoas buscam no refúgio o fim de perseguições e ameaças pelo fato de serem homossexuais. A União Europeia tem como política conceder o refúgio para esses casos. No caso de pedidos de refúgio negados, o retorno do imigrante a seu país de origem significa, em geral, risco à sua vida.
Mas a medida nem sempre é respeitada pelos países europeus, sobretudo por aqueles governados por políticos de direita coligada a partidos de extrema direita.
Esse é o caso da Áustria, onde o primeiro-ministro, Sebastián Kurz, foi eleito em 2017, formou uma coalizão de governo com o Partido da Liberdade (FPO), fundado nos anos 1950 por oficiais da SS nazista. Kurz elegeu-se com a promessa de fechar as fronteiras da Áustria aos imigrantes.
Na Holanda, associações de defesa de gays e lésbicas denunciaram dezenas de casos de pedidos de refúgio rejeitados porque os requerentes não pareciam ser “gays o suficiente”.
(Com EFE)