Ataques de Israel matam mais de 50 em Gaza, incluindo deslocados que se abrigavam em escola
Escalada em ofensiva israelense ocorre em meio a bloqueio que agravou escassez de alimentos, combustível e medicamentos

Ataques de Israel contra a Faixa de Gaza mataram mais de 50 pessoas nesta segunda-feira, 26, sendo 33 delas deslocados que se abrigavam em uma escola, segundo a Defesa Civil do território palestino.
Os ataques separados foram registrados em Khan Younis, no sul, Jabalia, no norte, e Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, disseram médicos.
Israel escalonou sua ofensiva sobre o território palestino em meados de março, após quebrar uma trégua de cerca de dois meses. Em 17 de maio, intensificou suas operações. Mais de 53.000 pessoas, em maioria civis, morreram desde o início da guerra, em outubro de 2023, após ataques do grupo militante palestino Hamas contra território israelense.
A ofensiva israelense ocorre em meio a um bloqueio que agravou a escassez de alimentos, água, combustível e medicamentos e despertou o temor de uma fome no território palestino. Organizações humanitárias afirmam que a pouca ajuda que Israel permitiu entrar nos últimos dias está longe de ser suficiente.
A população da Faixa de Gaza, composta por 2,3 milhões de pessoas antes da guerra, está em “risco crítico” de fome e enfrenta “níveis extremos de insegurança alimentar”, apontou um relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiada por agências das Nações Unidas, grupos de ajuda e governos.
O documento indicou que o cesar-fogo, que durou de janeiro a março, “levou a um alívio temporário” em Gaza, mas as novas hostilidades israelenses “reverteram” as melhorias. Cerca de 1,95 milhão de pessoas, ou 93% da população de Gaza, vivem níveis de insegurança alimentar aguda. Desse número, mais de 244 mil enfrentam graus “catastróficos”. A fome generalizada, segundo a pesquisa, é “cada vez mais provável” no território. No momento, meio milhão de palestinos, um em cada cinco, estão famintos em Gaza.
Críticas a Israel
Na semana passada, a União Europeia (UE) anunciou que revisará os laços comerciais com Israel devido à crise humanitária palestina, resultado da campanha militar israelense na Faixa de Gaza. A chefe de política externa do bloco, Kaja Kallas, afirmou que Comissão Europeia, braço executivo da UE, reavaliará o Acordo de Associação UE-Israel, que regula as relações políticas e econômicas entre os dois lados através do livre comércio. A decisão, segundo ela, foi aprovada por uma “forte maioria” dos ministros dos 27 países membros.
“A situação em Gaza é catastrófica. A ajuda que Israel permitiu a entrada é, obviamente, bem-vinda, mas é uma gota no oceano. A ajuda deve fluir imediatamente, sem obstrução e em grande escala, porque é disso que precisamos”, disse Kallas a repórteres em Bruxelas.
A movimentação da UE ocorreu um dia após o governo britânico suspender as negociações de livre comércio com Israel e impor novas sanções contra assentamentos na Cisjordânia. Na segunda-feira, 19, Reino Unido, França e Canadá ameaçaram “ações concretas” contra Israel em comunicado. O trio também se opôs “a qualquer tentativa de expandir os assentamentos na Cisjordânia” e afirmou que, apesar de apoiar o direito de defesa israelense, não ficaria “de braços cruzados enquanto o governo (de Benjamin) Netanyahu realiza essas ações atrozes”.
O alerta foi seguido por uma declaração conjunta assinada por 22 países, que exige que Israel passe a “permitir a retomada total da ajuda a Gaza imediatamente e permitir que a ONU e as organizações humanitárias trabalhem de forma independente e imparcial para salvar vidas, reduzir o sofrimento e manter a dignidade”.
“Quero deixar registrado hoje que estamos horrorizados com a escalada de Israel”, reforçou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, ao Parlamento do Reino Unido nesta terça-feira. “Precisamos coordenar nossa resposta, porque esta guerra já dura tempo demais. Não podemos permitir que o povo de Gaza morra de fome.”
Além disso, Starmer repetiu o apelo para um cessar-fogo em Gaza e argumentou que uma trégua era a única forma de libertar os reféns mantidos pelo grupo palestino radical Hamas. Ele disse, ainda, que a a quantidade básica de ajuda humanitária permitida por Israel é “completamente inadequada”.
Trata-se de um aumento do tom de uma gama de países contra a campanha militar israelense em Gaza. Ainda na segunda-feira, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, também apelou para que Israel seja excluído de eventos culturais internacionais. Ele destacou que não se deve “permitir padrões duplos, nem mesmo na cultura” e criticou aqueles que defendem “um setor cultural insípido, silencioso e equidistante”.