Ataque de Israel a Rafah indica que o drama da guerra está longe do fim
O presidente Lula tirou de Jerusalém o embaixador Frederico Meyer — transferido para Genebra
Parece proposital. Quanto mais a comunidade internacional pressiona pelo fim da matança de civis palestinos na Faixa de Gaza, mais o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu despeja bombas no superpovoado e minúsculo território. Na noite de domingo 26, um suposto ataque de alta precisão contra líderes do grupo terrorista Hamas, com quem as Forças israelenses estão em guerra, depois dos atentados de 7 de outubro, descambou para um incêndio de vastas proporções em barracas na cidade de Rafah, no sul de Gaza. Em meio à correria e aos gritos desesperados, 45 pessoas morreram carbonizadas, a maioria crianças, mulheres e idosos. No dia seguinte, enquanto meninos e meninas miravam com desesperança as ruínas da mais brutal cena do conflito até agora, tanques israelenses se movimentavam. De acordo com um porta-voz das Forças Armadas, estilhaços do “ataque cirúrgico” atingiram um depósito de combustível. “Foi um trágico acidente”, limitou-se a dizer Netanyahu, reiterando que vai seguir com os ataques na cidade onde ele afirma se localizar o QG da cúpula do Hamas. As pressões se multiplicam. Irlanda, Noruega e Espanha reconheceram o Estado palestino. O presidente Lula tirou de Jerusalém o embaixador Frederico Meyer — transferido para Genebra —, que fora constrangido pelas autoridades israelenses depois de o presidente brasileiro comparar as ações de Israel a crimes de Hitler contra os judeus. O drama está muito longe do fim.
Publicado em VEJA de 31 de maio de 2024, edição nº 2895