As altíssimas (e secretas) despesas de Albert, príncipe de Mônaco
Demitido, ex-funcionário de confiança abre o livro-caixa do palácio e traz a público as revelações
Por mais de duas décadas, Claude Palmero, 67 anos, controlou tudo que entrava e saía do caixa da Casa de Grimaldi, governante do rico e exclusivo principado de Mônaco, incrustado no sul da França. Desse camarote privilegiado, Palmero acompanhou de perto a ascensão ao trono do filho do príncipe Rainier III e da ex-atriz americana Grace Kelly, Albert II, playboy tão convicto que conseguiu adiar até os 53 anos o inevitável casamento que garante a sucessão — em 2011, subiu ao altar com a ex-campeã de natação sul-africana Charlene Wittstock, com quem tem um casal de gêmeos. Para surpresa geral, o todo-poderoso administrador foi demitido no ano passado, enrolado em acusações de corrupção. Caiu, mas caiu esperneando: além de processar o ex-chefe em 1 milhão de euros, entregou ao jornal Le Monde cinco cadernos de capa preta repletos de detalhes dos gastos e intrigas do palácio, dos quais Sua Alteza Serena (o título oficial de Albert) sai pintado com as cores de gastador inveterado preocupado em esconder do público suas altíssimas despesas. “Anotei a grande maioria dos assuntos discutidos durante os meus encontros com o príncipe”, diz Palmero.
Os cadernos mostram que, usando os recursos de fundos em paraísos fiscais e de uma conta secreta sob as iniciais AG (Albert Grimaldi), o príncipe — dono de uma fortuna de 1 bilhão de dólares — comprou um discreto apartamento parisiense para seu uso pessoal após o casamento e autorizou pagamentos de até 600 000 euros por ano para “atividades paralelas” — como pagar a polícia por “informações úteis” e “recuperar fotos comprometedoras”. Também presenteou os dois filhos fora do casamento que reconheceu formalmente. Jazmin, atriz incipiente de 31 anos, fruto de um rápido encontro com uma garçonete americana, recebeu depósitos trimestrais de 80 000 euros por alguns anos e um pied-à-terre de 3 milhões de dólares em Nova York, onde mora. Alexandre, 21, fruto de um romance com uma aeromoça franco-togolesa, ganhou igualmente mimos do pai — não só ele como a mãe, Nicole Coste, agora designer de moda, que levou 350 000 euros para abrir uma loja em Londres.
A maior receptora dos euros secretos é, de longe, a melancólica Charlene, que teria tentado fugir horas antes do casamento e já passou por clínicas de repouso. Ela dispõe de um estipêndio anual de 1,5 milhão de euros, mais do que as irmãs do príncipe, Stéphanie (800 000) e Caroline (900 000), mas vira e mexe precisa de depósitos adicionais, seja para pagar a decoração do escritório (1 milhão de euros), seja para os 300 euros por dia cobrados por seu chef particular. Só economiza mesmo em babás — quase todas filipinas em situação ilegal no país. “Essas práticas são perigosas”, adverte Palmero em um caderno. A advogada Canu-Bernard afirmou, em nota a VEJA, que seu cliente “nunca fez nada sem o conhecimento daqueles que o empregavam”.
No campo das intrigas palacianas, Palermo revela, entre outras coisas, que Rainier chegou a consultar advogados sobre a possibilidade de passar o trono para a filha Caroline, que ela e a cunhada batem boca com frequência e que Charlene não suporta nem ouvir falar da ex-aeromoça Nicole, com quem Albert se dá bem até hoje. Porta afora do palácio, Albert, em comunicado, afirmou que os ataques de Palmero “mostram seu verdadeiro caráter e o desrespeito que tem pela família e o principado”. Porta adentro, pode-se imaginar que Suas Altezas Serenas não estão fazendo jus ao título.
Publicado em VEJA de 2 de fevereiro de 2024, edição nº 2878