Argentinas pró-aborto protestam com trajes de “O Conto da Aia”
Aprovado pela Câmara dos Deputados, projeto que descriminaliza o aborto deverá ser votado em 8 de agosto; Macri promete não vetar nova lei
Vestidas como a personagem principal da série de televisão “O Conto da Aia”, as integrantes da organização Jornalistas Argentinas fizeram uma manifestação ontem (25) em favor da aprovação da lei que descriminaliza o aborto até a 14ª semana de gestação em frente ao Congresso, em Buenos Aires. A Câmara dos Deputados já aprovou o projeto, que deverá ser submetido ao plenário do Senado em 8 de agosto.
As manifestantes defendem o direito de as mulheres decidirem sobre seus corpos e sobre a continuidade de gestações indesejadas. O movimento entregou uma carta a senadores na qual insistiram na necessidade de não haver mais postergação da votação. O presidente argentino, Maurício Macri, já avisou que não vetará a nova lei, embora se diga pessoalmente contrário à liberalização do aborto.
As manifestantes caminharam pelas ruas de Buenos Aires em fila indiana e em silêncio, cada uma coberta pelo manto vermelho e com gorro branco na cabeça, assim como as aias da série da produtora americana Hulu, baseada no livro “The Handmaid´s Tale”, da escritora canadense Margaret Atwood.
No Brasil, a primeira temporada da série foi exibida neste ano pelo canal Paramount, que promete colocar no ar a segunda parte até dezembro. Pelo Twitter, a escritora deu apoio às ativistas e pediu à vice-presidente argentina, Gabriela Michetti, apoio à causa.
“Bem agora, mulheres na Argentina estão lutando por seus direitos e suas vidas”, afirmou Atwood em sua mensagem. “Não dê as costas às milhares de mortes [causadas] por abortos ilegais. Deem às mulheres argentinas o direito de escolher!”, escreveu ela para Michetti.
A referência ao best-seller e à série de televisão deu um apelo adicional e mais visibilidade à causa do grupo Jornalistas Argentinas . “O Conto da Aia” traz a história de uma nova forma de governo a totalitário e fundamentalista religioso adotado em parte dos Estados Unidos depois de uma revolução e do colapso ambiental que, entre outros, prejudicou a fertilidade das mulheres
Na ficção, as mulheres que continuaram férteis foram escravizadas, com a missão de conceber e dar à luz a bebês para as famílias das autoridades de Gilead, o novo país formado por parte da atual costa leste americana. Para tanto, elas são estupradas a cada mês pelo chefe da família. O descumprimento de uma série de regras de conduta é punido com mutilações. As mulheres inférteis, de forma geral, são proibidas de ler, escrever e trabalhar e obrigadas a se trajarem com vestidos discretos sempre da cor azul petróleo.