Arábia Saudita recebe apoio de países árabes contra o Irã
Governo iraniano acusa Riad de "semear discórdia"; conflito entre os países do golfo foi agravada por ataques a petroleiros sauditas no dia 12
A sunita Arábia Saudita obteve o apoio quase unânime dos demais países árabes a sua posição de repúdio às ações recentes do xiita Irã, nesta sexta-feira, 31. Os encontros aconteceram em um momento de tensão crescente na região, motivados pelos últimos ataques e atos de sabotagem contra petroleiros e oleodutos sauditas.
Durante as reuniões dos últimos dias, o rei Salman fez acusações fortes ao Irã, denunciando a interferência em questões internas de países vizinhos, como o Iêmen, e suas ameaças ao fornecimento do mercado mundial de petróleo.
Em seu comunicado final, o encontro de cúpula do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) expressou solidariedade à Arábia Saudita e renovou seu “apoio à estratégia americana sobre o Irã, inclusive no que diz respeito aos programas nuclear e balístico, suas atividades de desestabilização, seu apoio ao terrorismo e às atividades hostis dos houthis” no Iêmen.
No dia 12 de maio, quatro embarcações comerciais foram sabotadas na Costa dos Emirados Árabes Unidos, um dos maiores centros de abastecimento de petróleo do mundo, pouco depois do estreito de Hormuz. Dois petroleiros sauditas de propriedade da empresa de transportes Bahri estavam entre as embarcações atingidas pelo ataque, além de uma barca usada no abastecimento dos Emirados e de um petroleiro norueguês.
Dois dias depois, 14 drones atingiram um oleoduto na Arábia Saudita. O ato foi reinvidicado pelos rebeldes houthis, no Iêmen, grupo apoiado pelo governo iraniano.
O monarca e seu filho, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, são abertamente aliados do governo americano, que enviou reforços militares à região durante os ataques, alegando haver “ameaças” iranianas.
As relações entre os Estados Unidos e o Irã estão em seu pior momento desde 2018, quando o governo de Donald Trump anunciou a saída unilateral do acordo internacional sobre a questão nuclear iraniana, de 2015, e adotou novas sanções econômicas contra o país. Washington também incluiu a Guarda Revolucionária, o exército ideológico do regime iraniano, em sua lista de “organizações terroristas”.
Trump também é aliado do governo iemenita, atualmente ameaçado pelos rebeldes de orientação xiita. Sua administração faz parte de uma coalizão com Kuwait, Catar e Bahrein para reinstalar o governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, que perdeu poder desde o início da guerra no país, em 2011.
Insatisfação iraquiana
Em seu discurso na reunião árabe, o rei Salman defendeu “usar todos os meios” para dissuadir o Irã, que, assim como vários Estados do Golfo, é um país membro da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep).
O Iraque, país que tem relações estreitas com o Irã, não aprovou o posicionamento do CCG. A opinião do país ignora um ataque recente a sua capital, Bagdá, em que um míssil supostamente iraniano foi lançado à chamada Zona Verde, em local muito próximo da Embaixada dos Estados Unidos e da sede do governo iraquiano.
Respondendo ao ataque, no último dia 19, o presidente Trump adotou um tom ameaçador contra o governo iraniano. “Se o Irã quiser lutar, este será oficialmente o fim do Irã. Nunca ameacem os Estados Unidos novamente!”, escreveu o republicano.
Antes das reuniões em Meca, o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, considerado o principal idealizador da política da Casa Branca para o Irã, declarou seu apoio ao evento. Disse que Teerã parecia estar por trás dos atos de sabotagem de 12 de maio contra os petroleiros sauditas.
Visita da oposição
Apesar de ter relações rompidas com a Arábia Saudita, o primeiro-ministro do Catar, Abdallah bin Naser Al-Thani, participou das reuniões de Meca.
Ele foi a primeira autoridade catari de alto nível a visitar o reino saudita desde 2017, quando o país e três de seus aliados (Emirados, Barein e Egito) romperam relações com o governo de Doha por sua aproximação com o Irã e seu suposto apoio a grupos extremistas.
O governo dos Estados Unidos, também aliado do Catar, saudou sua participação. Washington já tentou mediar uma solução para a crise, que afeta sua estratégia de isolamento do Irã. Não está claro se a viagem do primeiro-ministro significa um princípio de degelo nas relações entre os países.
(Com AFP)