Arábia Saudita alerta EUA sobre expansão da guerra no Oriente Médio
Sauditas afirmam que incursão terrestre israelense na Faixa de Gaza poderá provocar efeitos catastróficos para a região
A Arábia Saudita tem alertado os Estados Unidos que a incursão terrestre israelense na Faixa de Gaza poderá provocar consequências catastróficas para o Oriente Médio, informou o jornal americano The New York Times. A reportagem indica que autoridades do país advertiram legisladores e funcionários de Washington sobre a escalada de violência na região, em meio ao conflito entre Israel e o movimento palestino radical Hamas, e o possível desencadeamento de um conflito entre sauditas e iranianos, antigos e conhecidos rivais.
Ao lado de outros 10 congressistas, o senador democrata Richard Blumenthal, membro do Comitê de Serviços Armados, participou de um encontro com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman em Riad, capital saudita, no último final de semana. Em depoimento ao NYT, ele afirmou que a “liderança saudita estava esperançosa de que uma operação terrestre pudesse ser evitada por razões de estabilidade”, e que MBS, como o governante saudita de facto é conhecido, estaria preocupado com o efeito “extremamente prejudicial” da ofensiva de Tel Aviv, bem como com as “perdas de vidas” de civis.
Por sua vez, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também democrata, reforça desde a eclosão do confronto, em 7 de outubro, que Israel tem direito à autodefesa, citando a morte de mais de 1.400 cidadãos. Ao mesmo tempo, ele solicitou ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que a invasão por terra fosse adiada, de forma a permitir que novos sistemas antimísseis chegassem ao país, que as negociações para libertação de reféns avançassem e que o envio de ajuda humanitária a Gaza fosse concluído antes da entrada no território vizinho.
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Com o anúncio do “cerco total” contra a Faixa de Gaza, decretado pelo ministro da Defesa israelense, Yoav Galant, em 9 de outubro, a provisão de energia, combustível e água ao enclave palestino foi interrompida. Como consequência, a crise humanitária no local se agrava dia após dia. Em vídeos publicados nas redes sociais da emissora árabe Al Jazeera, médicos são vistos operando pacientes apenas com a lanterna de celulares. Os hospitais, lotados, não têm sido capazes de suprir a demanda interna por atendimento, enquanto os bombardeios de Tel Aviv se intensificam.
Em meio à falta de segurança, MBS e Biden “concordaram em prosseguir esforços diplomáticos mais amplos para manter a estabilidade em toda a região e evitar a expansão do conflito”, comunicou a Casa Branca na terça-feira, 24, sem citar a incursão terrestre. No início do ano, as tensas relações sauditas-americanas foram suavizadas com a aproximação do democrata ao príncipe, enquanto exploravam um possível acordo em que a Arábia Saudita reconheceria Israel.
Assim como outros governos árabes, o líder saudita colocava como condição a criação de um Estado palestino para que fossem, enfim, estabelecidos laços diplomáticos. Os profundos vínculos entre EUA e Israel, que viabilizariam benefícios econômicos e de segurança, teriam feito com que bin Salman mudasse de ideia. Em troca pela aproximação com Netanyahu, ele demandou a assinatura de um pacto de defesa mútua EUA-Saudita, o apoio americano a um programa nuclear civil nacional e o aumento de vendas de armas dos EUA ao país.
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A escalada da guerra Israel-Hamas, contudo, tem impossibilitado qualquer avanço entre os governos. Manifestantes foram às ruas em todo o Oriente Médio para defender os direitos dos palestinianos, condenando Israel e os Estados Unidos pelos bombardeios incessantes. Em reflexo, as autoridades sauditas condenaram publicamente o cerco de Tel Aviv contra Gaza e apelaram pelo cessar-fogo, mas também explorando a narrativa de que o príncipe deseja transformar a nação em um centro de negócios global – plano inviável sem o apoio de Biden.
A mensagem teria sido ainda mais direta nas reuniões de portas fechadas. Blumenthal e Lindsey Graham, senador republicado, disseram ao NYT que o Mohammed “entende que se trata de um ato de terror” e defende que a resposta israelense deve ser “ponderada” para evitar “um conflito mais longo e profundo”, com uma expansão regional.
Financiador do Hamas, o Irã ameaça abrir novas frentes na guerra em resposta às operações de Israel, sendo a Arábia Saudita um alvo potencial. Os países são considerados rivais nacionais, em razão da intervenção frustrada das tropas sauditas contra o Iémen, em 2015. A ação procurava expulsar do território os rebeldes Houthi, apoiados pelos iranianos. Os militantes, no entanto, permanecem no local até hoje. A preocupação de bin Salman é que a instabilidade regional amplie o conflito, ameaçando não só a Arábia Saudita, como Jordânia e Egito.