Após revolta de mulheres, Paris anuncia repressão a abusadores em piscinas públicas
Em movimento semelhante ao #MeToo, mulheres denunciam abusos em áreas de lazer da capital francesa

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, anunciou a intensificação do combate ao voyeurismo e às agressões sexuais em piscinas públicas da capital da França, após uma série de denúncias feitas por mulheres que vivenciaram esse tipo de abuso.
No sábado, 12 de abril, a prefeitura anunciou uma série de novas medidas para enfrentar o problema.
O governo já iniciou uma auditoria nas 40 piscinas municipais da capital, com foco em “fragilidades estruturais” que possam facilitar esse tipo de agressão. Os vestiários serão um dos principais pontos de atenção, informou a nota da prefeitura.
“As mulheres devem poder se sentir seguras em todos os espaços públicos, especialmente em locais dedicados ao bem-estar e ao esporte, como as piscinas”, acrescentou o comunicado.
A decisão foi tomada após a jornalista Laurène Daycard relatar, em uma publicação no Instagram no início de abril, que foi vítima de uma agressão sexual por voyeurismo nos vestiários da piscina Georges-Hermant, na badalada região do 19º arrondissement.
Segundo ela, um homem foi flagrado a filmando enquanto se trocava.
Ela contou ter percebido uma mochila saindo debaixo do trocador ao lado do seu, com um pequeno furo por onde era possível ver a lente de uma câmera de smartphone. Ao notar a situação, expulsou o dono da bolsa do cubículo e, com a ajuda de um funcionário da limpeza, conseguiu encurralá-lo.
Segundo seu relato, o homem passou a noite sob custódia policial. No entanto, ela afirmou ter ficado “arrepiada” ao saber que ele confessou ter filmado várias outras mulheres usando o mesmo método — incluindo “meninas muito jovens”.
A publicação de Daycard motivou diversas outras mulheres a se manifestarem, compartilhando experiências semelhantes.
Mais tarde, a jornalista afirmou ter descoberto que ao menos 17 denúncias parecidas haviam sido registradas na mesma piscina nos últimos meses.
Esses casos “não devem ser tratados como incidentes isolados, mas sim como parte de um fenômeno nacional que exige uma resposta urgente”, destacou o comunicado da prefeitura.
Além das medidas anunciadas, a administração municipal também abriu um inquérito para apurar as denúncias.
O vice-prefeito responsável pelo esporte, Pierre Rabadan, afirmou que a prefeitura está avaliando a possibilidade de criar instalações separadas por gênero como uma das soluções em estudo.
“Vamos formar grupos de trabalho para que todas as partes interessadas, especialmente os usuários, possam se manifestar sobre o tema”, declarou Rabadan ao jornal Le Parisien.
Entre as medidas anunciadas estão a presença diária de agentes e funcionários nos vestiários, com inspeções noturnas voltadas à identificação de buracos ou falhas estruturais que possam ser utilizados para práticas de voyeurismo; a capacitação de equipes para atuar na vigilância e o lançamento de campanhas com cartazes contra a violência sexual.
A prefeitura informou ainda que irá alertar e colaborar com o governo federal e outras administrações municipais, com o objetivo de ampliar o enfrentamento ao problema não apenas em Paris, mas em todo o território francês.