Após Francisco trocar palácio por quarto em Santa Marta, onde vai morar o próximo papa?
Residência discreta dentro do Vaticano rompeu tradição secular do Palácio Apostólico – e pode seguir como morada papal no futuro

No coração do Vaticano, entre jardins muito bem cuidados e guardado pela Guarda Suíça Pontifícia, está um edifício discreto que ganhou destaque mundial desde 2013: a Casa Santa Marta. A entrada é feita pelo lado esquerdo da Praça São Pedro, acompanhando as colunas projetadas por Gian Lorenzo Bernini (1598-1680). Projetada inicialmente como uma hospedagem para visitantes e clérigos, a construção de quatro andares abrigou, desde o início de seu pontificado, o papa Francisco — que optou por viver ali em vez do tradicional e luxuoso Palácio Apostólico.
A Casa Santa Marta (Domus Sanctae Marthae, em latim) foi inaugurada em 1996 por iniciativa do Papa João Paulo II. A intenção era oferecer acomodações dignas aos cardeais durante o conclave e acolher hóspedes eclesiásticos em visitas ao Vaticano. Moderna, prática e discreta, ela conta com cerca de 130 quartos, capela, refeitório coletivo e espaços comuns — bem diferente da estrutura palaciana, histórica e isolada que marcou os papados anteriores.
Desde o início de seu pontificado, Francisco demonstrou preferência por uma vida mais simples e acessível. Após ser eleito em março de 2013, ele surpreendeu ao recusar os apartamentos pontifícios no Palácio Apostólico, onde viveram papas por mais de 400 anos. “Não posso viver isolado”, teria dito. Desde então, passou a morar em um quarto modesto da Casa Santa Marta, onde circulava livremente, almoçava com funcionários e mantinha encontros informais.
A decisão foi simbólica. Ao se distanciar dos ambientes opulentos do palácio, Francisco marcou um novo estilo de liderança, focado na humildade, no contato direto com as pessoas e na reforma da Igreja.
Mais recentemente, após receber alta do hospital Gemelli, onde foi internado para tratar problemas de saúde, o papa Francisco retornou à Casa Santa Marta, sua residência habitual. O local foi preparado com equipamentos médicos e adaptações específicas para garantir seu conforto e segurança durante o período de recuperação. Mesmo em convalescença, o Santo Padre reforçou seu vínculo pessoal com o espaço que ele considerava um verdadeiro lar. Ele faleceu na Casa Santa Marta. De lá, seu corpo foi trasladado para a Basílica de São Pedro, onde foi velado pelos fiéis. Depois, partiu para o túmulo na igreja Santa Maria Maggiore.
A residência do sucessor de Francisco ainda é uma incógnita. Quando perguntada hoje em coletiva, a Sala de Imprensa da Santa Sé não forneceu detalhes sobre onde o próximo papa residirá após sua eleição.
“Não tenho bola de cristal”, Matteo Bruni, secretário de imprensa do Vaticano, foi forçado a responder ao ser pressionado por repórteres. “O novo Papa decidirá…”
Não existe norma que obrigue o líder da Igreja Católica a viver no Palácio Apostólico, o que significa que o próximo pontífice poderá continuar na Casa Santa Marta — ou retomar a tradição e voltar ao palácio.
Especialistas do Vaticano apontam que a escolha da residência diz muito sobre o perfil de cada papa e sua visão da Igreja. Se o sucessor de Francisco tiver uma linha pastoral semelhante, a Casa Santa Marta pode continuar como centro do pontificado. O cardeal italiano Pietro Parolin, secretário de estado do Vaticano e em alta como nome a ser escolhido como sucessor do pontífice, já mora no segundo andar do local.
Enquanto isso, o edifício segue cumprindo seu papel original: hospedar os cardeais que chegam de todo o mundo para participar do conclave e receber convidados do Vaticano. E, discretamente, permanece como um dos cenários mais importantes e simbólicos da Igreja nos tempos atuais.