Após EUA, Israel lança ataque contra instalação nuclear iraniana de Fordow
Usina de enriquecimento de urânio a 80 km de profundidade, ao sul de Teerã, foi alvo de bombardeios americanos no sábado

Israel realizou um novo ataque à instalação nuclear de Fordow, uma planta subterrânea de enriquecimento de urânio ao sul de Teerã, informou a agência de notícias AFP citando um veículo de comunicação do Irã. A investida vem após um bombardeio dos Estados Unidos ao local, que aumentou tensões na guerra aérea que abala o Oriente Médio há dez dias.
“O agressor atacou novamente a instalação nuclear de Fordow”, informou a agência de notícias iraniana Tasnim, citando um porta-voz da autoridade de gerenciamento de crises na província de Qom, onde a usina está localizada.
O exército israelense confirmou o bombardeio a Fordow, dizendo que seu objetivo era obstruir as rotas de acesso à usina de enriquecimento que abriga laboratórios a 80 quilômetros de profundidade em cavernas sob formações montanhosas.
Enquanto isso, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou que o Exército do país estava atacando alvos no centro de Teerã com “intensidade sem precedentes”. Um dos locais atingidos foi a Prisão de Evin, que, segundo ele, abriga prisioneiros políticos e opositores da República Islâmica. É considerado um dos símbolos mais poderosos do sistema de governo iraniano.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, compartilhou imagens da prisão sendo atacada em sua conta no X (antigo Twitter), com a legenda em espanhol “vida longa à liberdade”. O veículo de notícias iraniano Mizan confirmou o ataque israelense a Evin e afirmou que parte do complexo foi danificado, mas que a situação estava sob controle. O jornal local Nournews afirmou que as famílias dos detidos “devem saber que eles estão seguros”.
Ao mesmo tempo, o Exército israelense afirmou que houve ataques contra instalações da Guarda Revolucionária Iraniana em Teerã. Os militares disseram que atingiram centros de comando da poderosa unidade de elite dos aiatolás, bem como outras forças de segurança domésticas, responsáveis por “manter a estabilidade do regime”.
“Essas forças consistem em vários corpos e centros de comando e são responsáveis, em nome dos militares do regime iraniano, por defender a segurança interna, suprimir ameaças e manter a estabilidade do regime”, afirmaram as Forças Armadas israelenses em um comunicado.
Os ataques desta segunda vêm depois de Katz defender, na última sexta-feira 20, que Israel deve “atacar todos os símbolos do governo (do Irã) e mecanismos de repressão”.
Ataque dos EUA
Na noite deste sábado, 21, os Estados Unidos entraram na guerra entre Israel e Irã, iniciada em 13 de junho, e atacaram três instalações nucleares no país persa, elevando a tensão no Oriente Médio. Os desfechos ainda são imprevisíveis.
As informações divulgadas pelo presidente americano, Donald Trump, deram conta de que os alvos incluíam os dois principais centros de enriquecimento de urânio: a instalação subterrânea de Fordow e a usina de enriquecimento maior, em Natanz. Um terceiro local, perto da antiga cidade de Isfahan, é onde se acredita que o Irã guarda seu material radioativo.
Em pronunciamento em cadeia nacional, Trump ameaçou o regime dos aiatolás, caso eles venham a retaliar o ataque. “Haverá paz, ou uma tragédia maior para o Irã. Maior do que vimos nos últimos oito dias. Há muitos alvos ainda. Essa noite foi a mais difícil de todas e talvez a mais letal. Mas se a paz não vier rapidamente, nós iremos atrás desses outros alvos, com precisão, velocidade e capacidade. E eles podem ser destruídos em minutos. Não há força militar no mundo que possa fazer o que fizemos essa noite”, disse em pronunciamento em cadeia nacional.
Segundo informações da imprensa americana, os Estados Unidos teriam informado o governo iraniano de que não pretende realizar novos ataques. Os dois países não mantém relações diplomáticas desde 1979, mas a Casa Branca teria feito as informações chegarem até o chefe supremo do país, Ali Khamenei, por meio de intermediários.
Os governos de Israel e dos EUA sustentam que o Irã estava prestes a obter um grau de enriquencimento de urânio de 90%, o que seria suficiente para a construção de uma arma atômica. A nação xiita é signatária de um tratado internacional de não proliferação de armas nucleares, o que siginifica que a tecnologia seria utilizada apenas para fins pacíficos. Teerã sempre negou essa possibilidade.
O bombardeio americano ocorreu após uma nova onda de ataques aéreos israelenses contra bases de mísseis e uma instalação nuclear no Irã, na região de Ahvaz. O alvo é estratégico, pois estaria em qualquer rota de voo usada por aviões de guerra americanos.
Ainda não há confirmação sobre o tipo de armamento utilizado no ataque americano. Nos últimos dias, porém, se apontou para o uso de uma bomba capaz de destruir instalações subterrâneas. Chamada oficialmente de Massive Ordnance Penetrator, ou GBU-57, o artefato é conhecido como “bunker-buster”, ou “destruidor de bunkers”. A arma foi especialmente desenvolvida para atacar instalações nucleares construídas nas profundezas das montanhas do Irã e da Coreia do Norte.
Testada durante o primeiro mandato de Trump, ela passou a compor o arsenal americano. A bomba tem um invólucro de aço muito mais espesso do que o normal, o que permite que a munição permaneça intacta enquanto perfura solo, antes de detonar. Trata-se de uma das maiores bombas do mundo, com 6 metros de comprimento e 13.660 quilos, o que significa que apenas o bombardeiro americano B-2, com tecnologia anti-radar, pode carregá-la. Essas aeronaves deixaram os Estados Unidos, rumo ao Oriente Médio na tarde de sábado.
Danos
Segundo o Irã, não houve vítimas civis dos ataques americanos. O último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde do país informou que mais de 400 iranianos, incluindo 54 mulheres e crianças, foram mortos desde que Israel iniciou seus ataques, e pelo menos 3.056 outros ficaram feridos. Um porta-voz iraniano afirmou que a maioria das vítimas era civil.
Mas o bombardeio provavelmente causou danos “muito significativos” às áreas subterrâneas da usina de Fordow, disse o chefe da agência nuclear das Nações Unidas, Rafael Grossi, nesta segunda-feira.
“Dada a carga explosiva utilizada e a natureza extremamente sensível à vibração das centrífugas, espera-se que tenham ocorrido danos muito significativos”, declarou Grossi em um comunicado durante uma reunião de emergência do Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIE), composto por 35 países.
Ele acrescentou: “Indiquei que qualquer transferência de material nuclear de uma instalação protegida para outro local no Irã deve ser declarada à agência, conforme exigido pelo Acordo de Salvaguarda do Irã, e expressei minha disposição em trabalhar com o Irã nessa questão.”