Após cessar-fogo, Índia diz que operação militar contra Paquistão só foi ‘pausada’
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, diz estar 'monitorando cada passo' do país vizinho durante trégua na disputada Caxemira

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, afirmou nesta segunda-feira, 12, que a operação militar do país contra o Paquistão só foi “pausada”, dois dias após os países implementarem um cessar-fogo diante de uma escalada na disputa pela Caxemira, região cujo controle é dividido entre eles. Segundo o líder indiano, Nova Délhi “retaliará em seus próprios termos” a quaisquer ataques.
Em seu primeiro discurso desde o início dos ataques entre Índia e Paquistão – que culminaram com o lançamento de mísseis de ambos os lados contra as principais bases militares e campos de aviação um do outro no sábado –, Modi disse estar “monitorando cada passo do Paquistão”.
No sábado 10, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o cessar-fogo entre os dois países, dissipando os temores de que as duas nações, detentoras de armas nucleares, estivessem caminhando para sua primeira guerra total em décadas.
Escalada de hostilidades
A tensão já latente entre Nova Délhi e Islamabad transbordou para as vias de fato quando ataques aéreos indianos atingiram alvos no Paquistão e na Caxemira paquistanesa na quarta-feira 7. A “Operação Sindoor” foi lançada como uma resposta a um ataque terrorista que matou 26 pessoas, em sua maioria turistas hindus, na região disputada por ambos os países na semana passada, e segundo a Índia seu objetivo é atacar “infraestruturas terroristas”.
No dia 22 de março, homens armados abriram fogo contra turistas em um resort, deixando 26 mortos, em sua maioria indianos hindus, em Pahalgam. A Índia classificou o massacre como um “ataque terrorista” e acusou o país vizinho de apoiar o grupo responsável pela ação, autodenominado “Resistência da Caxemira”.
O Paquistão, por sua vez, negou qualquer envolvimento e retaliou com o fechamento do espaço aéreo para aviões indianos, o cancelamento de vistos e suspensão das relações comerciais com o vizinho. Nova Délhi, em resposta, retirou-se de um acordo de compartilhamento de águas, do qual a agricultura paquistanesa é altamente dependente.
O combate se ampliou, apesar de esforços diplomáticos para aliviar as tensões. Houve relatos de bombardeios ininterruptos e tiros ao longo da fronteira durante dos dias que se seguiram, bem como relatos de ataques do Paquistão à cidade de Jammu, capital da Caxemira indiana, que junto a outras cidades ficaram completamente sem energia. Explosões também atingiram cidades no lado paquistanês do território em disputa, danificando algumas casas.
Papel dos EUA
Tanto Trump quanto autoridades paquistanesas creditaram ao secretário de Estado americano, Marco Rubio, e ao vice-presidente, J.D. Vance, a mediação da paz entre os dois países, após horas de intensas negociações.
Mas Modi não fez referência, durante o discurso, ao papel dos Estados Unidos no cessar-fogo. Em vez disso, manteve a posição da Índia de que foi o Paquistão quem primeiro entrou em contato com o chefe de operações militares indiano no sábado para propor uma trégua, e que foi Islamabad, e não Nova Délhi, quem pediu ajuda à comunidade global.
Nesta segunda-feira, Trump acrescentou à lista de declarações superlativas em seu segundo mandato à de que os Estados Unidos “impediram um conflito nuclear” com sua intervenção na situação do Sul Asiático. “Acho que poderia ter sido uma guerra nuclear ruim, milhões de pessoas poderiam ter sido mortas. Então, estou muito orgulhoso disso”, afirmou a repórteres na Casa Branca.
Modi também fez alusão à ameaça nuclear que pairava sobre as crescentes tensões da semana passada, acrescentando que, em qualquer conflito futuro com o Paquistão, eles não tolerariam “chantagem nuclear”.
Índia e Paquistão, que se tornaram independentes do Reino Unido em 1947, travaram três guerras, a disputa pela Caxemira central em cada uma delas. Nos anos 1970, o conflito terminou temporariamente com o estabelecimento da Linha de Controle, que dividiu a área disputada em dois.
Negociações futuras
Nesta segunda, autoridades de segurança do Paquistão declararam que um dos termos do cessar-fogo era um acordo para que futuras negociações fossem realizadas em um terceiro país, possivelmente os Emirados Árabes Unidos. Em seu discurso, Modi fez semelhante referência a tratativas vindouras, mas disse que “se conversarmos com o Paquistão, será apenas sobre terrorismo… será sobre a Caxemira ocupada pelo Paquistão”.
Ainda assim, o frágil cessar-fogo parece continuar de pé. Ao longo da Linha de Controle, os bombardeios e agressões da semana passada não deram sinais de retomada. A Índia também reabriu 32 aeroportos no norte do país, que haviam sido fechados devido à escalada das hostilidades na fronteira.
“A noite permaneceu em grande parte pacífica em Jammu e Caxemira e em outras áreas ao longo da fronteira internacional”, afirmou o Exército indiano em comunicado na noite de domingo 11.
Em um telefonema entre oficiais militares da Índia e do Paquistão, ambos os lados também concordaram em reduzir a presença de soldados na divisa.
A Caxemira é uma região na cordilheira do Himalaia. Atualmente, o controle da área é partilhado entre eles, além da China, que controla uma porção ao leste. Na porção administrada pela Índia, equipes de especialistas foram enviadas às áreas de fronteira para desarmar bombas não detonadas, enquanto dezenas de milhares de pessoas que haviam sido retiradas de suas aldeias retornaram para casa.