Após apagão, Portugal e Espanha restabelecem energia e investigam causa da falha
Incidente atribuído a variações de temperatura deixou dezenas de milhões de pessoas no escuro e provocou caos nos transportes e telecomunicações

O fornecimento de energia na Espanha foi restaurado em 99,95% na manhã desta terça-feira, 29, segundo a operadora REE, enquanto em Portugal, o serviço dos 6,4 milhões de clientes da REN está “perfeitamente estabilizado”, segundo a companhia, após um grande apagão deixar a Península Ibérica sem eletricidade por mais de 12 horas. O incidente, que também afetou o sul da França, deixou passageiros presos em trens e elevadores, afetou os transportes e milhões ficaram sem cobertura de telefone e internet.
Quase nenhum canto da península, que tem uma população combinada de quase 60 milhões de pessoas, escapou do blecaute. Mas as autoridades ainda não identificaram uma causa concreta para a falha.
O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, disse que a fonte do apagão estava “provavelmente na Espanha”. Seu homólogo espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que todas as possíveis causas estavam sendo analisadas e alertou o público para não especular devido ao risco de “desinformação”.
Nesta terça, o líder da Espanha comunicou que apenas 344 dos 6 mil voos de segunda-feira no país foram cancelados e que a rede rodoviária já está funcionando bem, exceto por alguns congestionamentos. Ele anunciou, ainda, a criação de uma comissão para investigar o que levou ao apagão massivo.
A declaração ocorreu momentos após o diretor de operações da REE descartar que um ataque cibernético tivesse causado o apagão. A hipótese surgiu ainda na segunda-feira, com a suspeita de um possível envolvimento de hackers russos. Autoridades portuguesas e da União Europeia também afirmaram que não encontraram indícios de ataque hacker.
Caos e incerteza
O blecaute, que viu o fornecimento de energia cair o equivalente a 60% da demanda espanhola em apenas cinco segundos, deixou os dois países sem trens, metrôs, semáforos, caixas eletrônicos, redes telefônicas e acesso à internet.
“Isso é algo que nunca aconteceu antes”, afirmou o premiê Sánchez. “O que motivou esse desaparecimento repentino do fornecimento é algo que os especialistas ainda não conseguiram determinar. Mas eles vão… Todas as causas potenciais estão sendo analisadas e nenhuma hipótese ou possibilidade está sendo descartada”, completou, agradecendo à França e ao Marrocos pelo envio de energia.
Pessoas ficaram presas em elevadores, em trens, paradas no trânsito e ilhadas em aeroportos. Centenas precisaram sair do metrô aos tropeços nos túneis escuros, usando apenas as lanternas do celular; outras correram para comprar itens básicos em supermercados que só aceitavam dinheiro.
Hospitais adiaram operações de rotina, mas usaram geradores para atender casos críticos. Além de voos cancelados, serviços ferroviários em toda a Península Ibérica foram interrompidos: 35 mil passageiros presos em mais de 100 trens foram socorridos por companhias ferroviárias e pela unidade de emergência militar. Sem semáforos, o congestionamento entupiu as ruas. E embora bancos eletrônicos funcionassem com sistemas de backup, a maioria das telas dos caixas eletrônicos ficou em branco. O torneio de tênis Madrid Open foi suspenso.
A operadora REE, da Espanha, já havia alertado que poderia levar de seis a dez horas para restabelecer totalmente o fornecimento após o que chamou de um incidente “excepcional e totalmente extraordinário”.
Em uma importante via no bairro de Argüelles, em Madri, o restabelecimento do fornecimento de energia provocou gritos de alegria e uma onda de aplausos calorosos entre as muitas pessoas que circulavam pela rua.
Fenômeno atmosférico
A REN, operadora portuguesa, chegou a afirmar, segundo a agência de notícias Reuters, que a interrupção foi causada por um “fenômeno atmosférico raro”, com variações extremas de temperatura na Espanha, que provocou “oscilações anômalas” em linhas de altíssima tensão.
O fenômeno, que seria conhecido como “vibração atmosférica induzida”, causou “falhas de sincronização entre os sistemas elétricos, levando a perturbações sucessivas em toda a rede europeia interconectada”, teria dito a REN.
No entanto, a operadora, depois, negou ter atribuído o apagão ao fenômeno, entrando em contato com a Reuters para esclarecer a situação. A matéria foi, então, retirada do ar. Em nota à emissora CNN Portugal, a REN desmentiu “categoricamente a informação de fonte anônima colocada a circular em nome da empresa, em que se estima que a normalização do abastecimento de energia ao país possa demorar uma semana”.
“A REN reafirma que está já a proceder às operações tendentes à reenergização do sistema elétrico nacional, de cujo andamento irá dando conhecimento publico, através dos seus canais oficiais. Todas as informações prevenientes de outras fontes devem ser desconsideradas”, disse o comunicado.