Após 100 anos, Paris se prepara para reabrir o rio Sena para banhistas
Eventos olímpicos vão ocorrer nas águas do Sena após projeto de regeneração de 1,4 bilhão de euros; depois dos Jogos, rio será aberto a todos

A um ano das Olimpíadas, Paris está na fase final de uma limpeza histórica do rio Sena, que em breve receberá nadadores e mergulhadores de volta às suas águas. Tomar banho no curso de água que atravessa a capital da França é proibido há um século, mas após a execução de um plano de regeneração para os Jogos de 2024, diversas áreas do rio parisiense serão abertas para o público geral.
O projeto da ordem de 1,4 bilhão de euros (R$ 7,33 bilhões), aclamado como um sucesso permitirá que três eventos olímpicos e paraolímpicos – triatlo, maratona de natação e paratriatlo – ocorram no Sena. Em seguida, até 2025, três áreas de natação ao ar livre serão acessíveis a todos pelo cais.
Como muitas cidades industrializadas, Paris viu a qualidade do rio diminuir drasticamente devido à poluição e às demandas de saneamento de uma população crescente. Na década de 1960, o impacto era tão dramático que apenas três espécies de peixes foram registradas na cidade.
Autoridades proibiram banhos no rio em 1923, embora uma competição anual de Natal tenha sobrevivido até a Segunda Guerra Mundial.
Um dos principais problemas é a infraestrutura de drenagem em “sistema único” do século XIX, que une as todas as águas sujas, desde as usadas em cozinhas e pias até o esgoto dos vasos sanitários. Os dejetos fluem por um complexo de túneis subterrâneos para centros de tratamento na periferia, mas, quando chove muito, o sistema fica saturado e o excesso tem que ser escoado para o Sena.
Como solução, foi construído um vasto reservatório subterrâneo, que armazenará o excesso de água em épocas de chuva. O canteiro de obras na estação de Austerlitz – e em frente ao hospital Pitié-Salpetrière, onde a princesa Diana morreu após seu acidente de carro, em 1997 – esconde um enorme cilindro de 34 metros de profundidade e 50 metros de largura, suficiente para reter a água de 20 piscinas olímpicas.
O mega-reservatório estará pronto nos Jogos do próximo ano, que começam no final de julho. O rio revitalizado não será apenas palco para as provas, mas também para a cerimônia de abertura. Uma fila de 160 barcos devem transportar 10 mil atletas por um trecho de 6 quilômetros do Sena, até a Torre Eiffel.
Segundo as autoridades parisienses de saneamento, a regeneração já está dando resultados antes mesmo de 2024. Hoje, há entre 30 e 35 espécies de peixes no rio, dez vezes mais que em 1960, além de moluscos, insetos aquáticos, esponjas e lagostins.
Os parisienses poderão trocar a comodidade conhecida como Paris-plages (praias de Paris), nas quais seções do cais fluvial são transformadas com areia, guarda-sóis e jogos de praia, pelo negócio de verdade.
A prefeita da cidade, Anne Hidalgo, revelou os três pontos no Sena que também estarão abertos para banhistas a partir do verão de 2025: no centro de Paris, perto da Île Saint-Louis, e nas extremidades leste e oeste da cidade. Será um legado significativo das Olimpíadas.