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Apesar de guerra, Hungria aposta em parceria com Rússia para usina nuclear

Projeto de construção da usina prevê país menos dependente dos russos, mas guerra na Ucrânia trouxe alta dose de incerteza a respeito de sua continuidade

Por Matheus Deccache 15 dez 2022, 11h05

O governo da Hungria está apostando alto na construção de uma usina nuclear em seu território com a ajuda da Rússia, mas a guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, traz uma dose maior de incerteza ao projeto a cada dia.

A Paks 2 é o maior investimento individual da história do país e, de acordo com Budapeste, tornará a nação menos independente do petróleo e do gás russo. No entanto, os críticos apontam para o contrário, com a Hungria se tornando ainda mais dependente de Moscou durante grande parte deste século. 

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O anúncio da construção de dois novos reatores de 1.200 megawatts foi feito em 2014 após a assinatura de um acordo entre o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e o presidente russo, Vladimir Putin, devido ao fato de que a Paks 1 irá encerrar suas atividades em 2030. 

A Rússia financiará a nova usina com um empréstimo de 10 bilhões de euros (R$ 56 bilhões), que os consumidores húngaros devem pagar em suas contas de energia a partir de 2026, data prevista para o complexo entrar em operação. Anos de atraso nas licitações, no entanto, fizeram com que o processo de limpeza do local começasse apenas em agosto do ano passado. 

À medida que a Hungria avança para a construção da Paks 2, a Finlândia cancelou o projeto de construção de uma usina semelhante por causa da guerra na Ucrânia, que paira como uma nuvem de incerteza. 

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Os combates nos primeiros dias de guerra em torno da usina de Zaporizhzhia e o constante isolamento econômico imposto pelos países ocidentais à Rússia surgem como grandes fatores que podem inviabilizar o acordo. 

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De acordo com políticos contrários ao governo, o projeto é puramente político e o dinheiro poderia ser melhor investido em outras energias renováveis, das quais a Hungria obtém 10% do total energético do país, e na melhoria da rede elétrica.

Neste ano, Budapeste encerrou abruptamente os subsídios para residências que instalam painéis solares porque a rede não estava conseguindo lidar com os novos insumos. Além disso, o governo também tornou a energia eólica algo inviável após proibir a construção de turbinas a 10 quilômetros de qualquer assentamento. 

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Além do isolamento, a guerra na Ucrânia traz outros problemas para a criação da nova usina. Em primeiro lugar, muitos componentes necessários devem ser construídos na Rússia e trazidos por terra para a Hungria. O plano inicial era transportá-los via território ucraniano, mas com o andamento do conflito isso não será possível. 

Em segundo lugar, por pressão da União Europeia, a planta do projeto não é inteiramente russa, mas sim híbrida, envolvendo um consórcio franco-alemão liderado pelo conglomerado alemão Siemens. Além disso, as turbinas devem ser construídas pela GE Hungria, uma subsidiária da empresa americana General Eletric em território húngaro. 

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Desse modo, é difícil imaginar engenheiros alemães, americanos, franceses e russos trabalhando lado a lado a cerca de 400 quilômetros de um país que é bombardeado dia e noite. 

Somam-se às altas doses de pessimismo no projeto as dúvidas sobre como a Rússia fornecerá combustível nuclear, como a Hungria enviará elementos de combustível usados altamente radiativos de volta ao território russo, e as sanções impostas pela União Europeia contra Moscou.

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