Clique e Assine VEJA por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Apesar das duras sanções, comércio exterior russo continua faturando alto

O motivo: o país vende o que todo mundo precisa

Por Caio Saad Atualizado em 4 jun 2024, 11h11 - Publicado em 27 nov 2022, 08h00

Caminhando para seu décimo mês, a invasão russa da Ucrânia segue provocando morte, destruição e caos, sem sinal de solução pela frente. Acuadas por ofensivas militares ucranianas em várias frentes, as tropas da Rússia formam fileiras em posição de defesa, enquanto, pelo ar, mísseis e drones arrasam usinas elétricas e redes de água e esgoto, atormentando ainda mais a população civil. Houve avanços e posições retomadas, mas o inimigo ainda controla um quinto do território e parece disposto a esperar que o inverno implacável paralise a frente de combate, abrindo espaço para um reposicionamento. Ou seja: os dois lados se preparam para uma guerra longa. Na parte da Ucrânia, a resistência e a sobrevivência têm sido asseguradas por um generoso fluxo de armas e recursos vindos dos aliados. E a Rússia, assolada por rigorosas sanções econômicas e isolada no Ocidente, como está se saindo no financiamento do conflito? Muito bem, obrigada.

Detentor de petróleo, gás, metais, minérios e grãos vitais para a maior parte do mundo, o país simplesmente redirecionou os destinos de suas exportações — e ainda saiu ganhando. Desde que a invasão se concretizou, em 24 de fevereiro, Estados Unidos e União Europeia se movimentaram para estrangular economicamente Moscou cortando laços comerciais, banindo transações no sistema financeiro internacional, congelando as fortunas dos oligarcas e figurões do regime no exterior e penalizando empresas que continuassem atuando no país ou transportando suas importações e exportações. Em abril, o Fundo Monetário Internacional previu que, por causa dessas medidas, o PIB russo encolheria 8,5% neste ano. De lá para cá, o tamanho do baque foi revisado para 6% em julho e 3,4% em outubro — uma queda significativa, mas menor do que as previstas para outras economias europeias. O motivo da volta por cima da Rússia é simples: dois terços de seu comércio exterior giram em torno de petróleo, gás, metais e minérios imprescindíveis — ou seja, ela vende o que todo mundo quer comprar.

NADA DE RECUO - Putin: a invasão continua, apesar dos equívocos militares -
NADA DE RECUO – Putin: a invasão continua, apesar dos equívocos militares – (./Getty Images)

Sendo assim, o recuo de 35% nas exportações para os Estados Unidos e 80% para o Reino Unido, entre outros, foi plenamente compensado pelo aumento do volume de comércio com a Índia (310%), Turquia (200%) e China (64%), essa hoje a maior parceira comercial de Moscou. Nessa conta, o Brasil — que até agora evitou condenar abertamente a invasão — tem papel relevante: a importação de produtos russos aqui aumentou 120% no último ano, puxada principalmente pelos fertilizantes, cuja oferta cresceu (e o preço também) depois do afastamento de outros compradores.

No caso do petróleo, esteio da economia russa, China e Índia apressaram-se a estocar o que o Ocidente dispensou e a fatia do óleo russo que os dois países importam pulou de 25% para 55%. No caso do gás e petróleo, os exportadores russos contaram com uma vantagem extra: a escalada de preços por causa da guerra. Segundo a Agência Internacional de Energia, mesmo com uma queda de 25% no volume de vendas, o faturamento cresceu 30%. A média mensal de exportação de petróleo passou de 8 bilhões de dólares em 2019 (antes, portanto, da parada da pandemia) para 10 bilhões neste ano (veja o gráfico). A Gazprom, gigante estatal russa de energia, registrou um lucro recorde no primeiro semestre.

Continua após a publicidade

arte Rússia

Os especialistas alertam que a bonança comercial experimentada pela Rússia neste ano pode mudar nos próximos meses. Na Europa, a quem a Rússia supria 30% das necessidades energéticas, o bloco da União Europeia está implementando um calendário de troca gradual de fornecedores, segundo o qual as importações de carvão foram suspensas em agosto, as de petróleo via transporte marítimo vão parar em dezembro e as de todos os derivados de óleo, em fevereiro. Outro ponto fraco é a restrição às vendas de gás — o grosso ia para a Alemanha e outros países europeus via gasodutos agora obstruídos ou desativados, e a liquefação, que permite o transporte marítimo para outros pontos do planeta, exigirá investimentos caros e demorados. Também é preciso levar em conta o efeito de longo prazo das sanções, que eventualmente têm condições de paralisar a fabricação de produtos na Rússia por falta de insumos. Pode ser que o futuro seja complicado, mas até agora não faltou dinheiro a Vladimir Putin para sustentar sua desaforada invasão da Ucrânia.

Publicado em VEJA de 30 de novembro de 2022, edição nº 2817

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.