Antes ‘suspeita’, AfD é rotulada de força ‘extremista de direita confirmada’ na Alemanha
Agência de espionagem do país aumenta vigilância do partido que ficou em segundo lugar na última eleição

O serviço de inteligência alemão classificou a Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema direita e principal oposição no país, como uma força “confirmada de extrema direita” nesta sexta-feira, 2. Foi um degrau acima da avaliação anterior, de que a legenda é uma ameaça “suspeita” à ordem democrática, o que significa que as autoridades agora podem intensificar sua vigilância, enquanto críticos pedem a proibição da sigla.
O Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV) considerava, desde 2021, filiais regionais da AfD em três estados do leste do país “extremistas confirmadas”. Com sede em Colônia, o órgão agora afirmou ter concluído que a “compreensão étnica e ancestral” da identidade alemã defendida pelo partido é “incompatível com a ordem básica democrática e livre” estabelecida na Constituição.
A legenda “visa excluir certos grupos populacionais da participação igualitária na sociedade, submetê-los a um tratamento desigual inconstitucional e, assim, atribuir-lhes um status legalmente desvalorizado”, afirmou a agência de espionagem.
A decisão suspende restrições às medidas de monitoramento do partido, incluindo grampos telefônicos, observação de suas reuniões e recrutamento de informantes secretos.
Ganha terreno
A AfD tem enfrentado crescentes pedidos de opositores para sua proibição, sob a alegação de que busca minar os valores democráticos, incluindo a proteção dos direitos das minorias. A medida pode ser solicitada por qualquer uma das casas do parlamento – o Bundestag ou o Bundesrat – ou pelo próprio governo.
Friedrich Merz, líder da União Democrata Cristã (CDU), deve tomar posse como próximo chanceler da Alemanha na próxima terça-feira, após sua legenda conservadora vencer as eleições de fevereiro. A AfD ficou em segundo lugar, com pouco mais de 20% dos votos. No entanto, a CDU perdeu terreno desde a votação – diversas pesquisas de opinião recentes mostram a AfD em primeiro lugar nas intenções de voto.
Merz liderará um governo de centro-direita com o Partido Social Democrata (PSD). O acordo de coalizão proíbe qualquer cooperação explícita ou tácita com a AfD, uma política que todos os principais partidos consideram um “firewall” para proteger a democracia alemã.
A AfD conquistou um número recorde de assentos do Parlamento, o que teoricamente lhe dá o direito de presidir várias comissões parlamentares importantes, embora ainda precise do apoio de outros partidos.
Analistas afirmam que o novo governo terá uma janela limitada para reconquistar a confiança dos eleitores, sob o risco de a AfD, que tem cerca de 51 mil membros, vencer as próximas eleições gerais, previstas para 2029. O partido obteve fortes ganhos no último ano, impulsionados pela frustração dos eleitores com a política de imigração e uma economia em crise.