Alemanha ignorou alertas sobre ameaça da Rússia, diz ministra
Em posicionamento crítico, Annalena Baerbock diz que receios de repetir "horrores da Segunda Guerra" impediram posicionamento contra Putin

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou nesta quinta-feira, 6, que seu país subestimou os alertas dos “vizinhos do leste” sobre as crescentes ameaças russas. Através de um texto publicado no jornal britânico The Guardian, a política explica como os receios de participar de um conflito após os “horrores da Segunda Guerra Mundial” (1939-1945) impediram os alemães de tomar providências contra o governo de Vladimir Putin.
Em um posicionamento crítico, Baerbock relata que a política externa alemã tinha como base a “diplomacia do talão de cheques”, na qual o dinheiro funcionaria como um motor para impulsionar a democracia em Moscou. Ela alega, no entanto, que essa “interação econômica e política também não influenciou o regime russo” como o esperado.
“Por muito tempo, não ouvimos as advertências de nossos vizinhos do leste, que nos exortavam a levar a sério as ameaças vindas da Rússia. Aprendemos que ‘esperar pelo melhor’ não é suficiente quando se lida com um líder cada vez mais autocrático”, escreveu.
A ministra destacou que a Alemanha passou a confiar nas missões da Organização das nações Unidas (ONU) e na influência Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) como possíveis ferramentas para a resolução de conflitos.
Apesar de ressaltar a capacidade alemã de estar preparada para todos os cenários, Baerbock disse que era impossível imaginar a “ideia de a Alemanha entregar tanques, sistemas de defesa aérea e canhões parar uma zona de guerra”, como tem feito em auxílio às Forças Armadas da Ucrânia. Em fevereiro de 2022, poucos dias após a invasão russa ao território ucraniano, a Alemanha reviu sua política de não enviar armamentos para conflitos e aprovou o despacho de 400 RPGs, granadas lançadas por foguetes.
“Sabemos que num futuro previsível, a Rússia do presidente Putin continuará a ser uma ameaça à paz e à segurança no nosso continente e que temos de organizar a nossa segurança contra a Rússia de Putin, não com ela”, ressaltou.
Em maio deste ano, o governo alemão prometeu uma nova remessa de armas, no valor de 2,7 bilhões de euros (cerca de 14,4 bilhões de reais) para os soldados de Volodymyr Zelensky. A ministra indicou que o confronto causado pelos russos provocou uma mudança de paradigma na mentalidade de autoridades alemães, já que os ucranianos estariam precisando de ajuda assim como os alemães precisaram no pós-guerra.
“Nós, alemães, nunca esqueceremos que devemos nossa liberdade em um país reunificado também aos nossos aliados e vizinhos orientais. Assim como eles estavam lá para nós, nós estaremos lá para eles agora, porque a segurança da Europa Oriental é a segurança da Alemanha”, afirmou.