Alemanha dá aval para polícia abater drones em meio a denúncias de guerra híbrida com Rússia
Incursão de aeronaves não tripuladas no espaço aéreo de países da Otan têm causado problemas para a aviação. Alguns líderes atribuíram a situação à Rússia

O gabinete do chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, apresentou nesta quarta-feira, 8, uma lei que dará à polícia federal permissão para abater drones que invadirem o espaço aéreo do país, como os que vêm causando uma série de interrupções em aeroportos por toda a Europa nas últimas semanas — e que alguns líderes atribuíram a uma guerra híbrida travada pela Rússia.
O texto, que ainda precisa ser aprovado pelo Bundestag, o parlamento alemão, autoriza explicitamente as forças policiais a derrubarem as aeronaves não tripuladas do céu, inclusive “em casos de ameaça aguda ou danos graves”. As técnicas para abater os objetos incluem o uso de lasers ou sinais de interferência para interromper as conexões de controle e navegação.
“Incidentes com drones ameaçam nossa segurança”, declarou Merz em uma publicação no X (ex-Twitter). “Não permitiremos isso. Estamos fortalecendo os poderes da Polícia Federal para que drones possam ser detectados e combatidos mais rapidamente no futuro.”
Unidade dedicada
Com a nova lei, a Alemanha se junta aos países europeus que recentemente deram às forças de segurança poderes para abater drones que violam seu espaço aéreo, incluindo Reino Unido, França, Lituânia e Romênia.
O Ministro do Interior alemão, Alexander Dobrindt, anunciou que uma unidade dedicada ao combate a drones será criada dentro da polícia federal — a polícia vai lidar com aqueles que voam ao nível das árvores, e os militares serão responsáveis por deter os mais potentes. Pesquisadores se consultarão com Israel e Ucrânia, uma vez que esses países são mais avançados no que diz respeito à tecnologia das aeronaves não tripuladas.
No mês passado, exercícios militares em Hamburgo, no norte do país, demonstraram como podem ser as possíveis capturas. Como uma aranha, um grande drone militar disparou uma rede contra uma aeronave menor em pleno voo, enredando suas hélices e derrubando-o no chão. Em seguida, um cão-robô foi usado para se aproximar do objeto, em busca de possíveis explosivos. No entanto, abater drones pode ser perigoso em áreas urbanas densamente povoadas.
Incursões misteriosas
A nova lei foi apresentada depois que dezenas de voos precisaram ser desviados ou cancelados na última sexta-feira no Aeroporto de Munique, o segundo maior da Alemanha, após avistamentos de drones. Mais de 10.000 passageiros foram afetados.
Merz disse presumir que a Rússia estava por trás do incidente, mas não apresentou provas. De acordo com ele, nenhum dos drones estava armado; seriam apenas voos de reconhecimento.
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Incursões semelhantes ocorreram na Dinamarca, Noruega, Romênia e Estônia nas últimas semanas. O primeiro caso foi na Polônia, quando quase duas dezenas de drones invadiram o espaço aéreo do país, que é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e acionou o Artigo 4 do grupo, convocando uma reunião urgente dos 32 membros. Lá, as autoridades identificaram oficialmente os equipamentos como russos.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu no mês passado a criação de um “muro de drones” — uma rede de sensores e armas para detectar, rastrear e neutralizar aeronaves não tripuladas intrusas — para proteger o flanco leste da Europa. Mas alguns dizem que os drones envolvidos em incidentes recentes também podem ter sido lançados de dentro da União Europeia.
A Alemanha registrou 172 interrupções no tráfego aéreo relacionadas a drones entre janeiro e o final de setembro, um aumento em relação às 129 marcadas no mesmo período do ano passado, e 121 em 2023, de acordo com dados da Deutsche Flugsicherung (DFS).