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A vitória de Camilla, a mulher que infernizou a princesa Diana

Casada com Charles há 17 anos, ela acaba de receber da rainha o aval para, quando acontecer a sucessão no trono, ganhar sua própria coroa

Por Duda Monteiro de Barros Atualizado em 4 jun 2024, 12h39 - Publicado em 13 fev 2022, 08h00

“Tinha três pessoas neste casamento. Era gente demais.” Com essa frase, dita em tom suave e encerrada com um risinho triste na célebre entrevista à TV em 1995, a princesa Diana selou de vez a repulsa do público a Camilla Parker Bowles, a amante de longa data de seu marido, o príncipe Charles. O casal se divorciou um ano depois e Diana morreria tragicamente em 1997, insuflando nos britânicos um turbilhão de ressentimento para com todos que haviam feito a princesa sofrer: Elizabeth, a sogra insensível, Philip, o sogro impiedoso, Charles, o marido indiferente, e, claro, Camilla, a megera-mor. Um quarto de século depois, comprova-se mais uma vez que o tempo — e uma habilidosa estratégia de restauração de imagem — cura feridas. Casada com Charles há dezessete anos, Camilla acaba de receber da rainha o aval para, quando acontecer a sucessão no trono, ganhar sua própria coroa. “É meu sincero desejo que, quando chegar a hora, Camilla seja chamada de rainha consorte”, manifestou Elizabeth, 95 anos, em carta aos súditos em que se diz “eternamente agradecida” e “sensibilizada” pelo apoio que recebeu nos setenta anos de reinado, o Jubileu de Platina, comemorado no domingo 6.

Título, como se sabe, é coisa muito séria entre os nobres. Ao se casar com Charles em cerimônia íntima à qual a rainha não compareceu, Camilla se tornou duquesa da Cornualha porque a versão feminina do título máximo do herdeiro do trono — princesa de Gales — tinha ido para o túmulo com Diana. Pela tradição, a ascensão de Charles a elevaria à condição de rainha consorte (só as mulheres de soberanos têm essa sorte. Homens que se casam com soberanas viram, no máximo, príncipes consortes, já que, na machista hierarquia nobiliárquica, rei sempre ganha de rainha). Na época, porém, e por muitos anos, inglês que fosse inglês nem queria ouvir falar de rainha Camilla — no máximo, aceitava-se princesa, com muxoxo.

A fala de Elizabeth representa, portanto, uma vitória cristalina e irrecorrível da “outra”. Ela fez por onde: desde que pôs os pés no palácio, empenhou-se em se mostrar simpática, comedida e pé no chão. Desajeitada no começo, acostumada à vida no campo e a circular apenas na rarefeita panelinha da aristocracia, aprendeu a se vestir, a acenar e a representar a família em cerimônias oficiais, além de se dedicar com vigor às causas humanitárias que estão na descrição do emprego. “Camilla tem sido leal, discreta e trabalha duro com suas instituições de caridade”, diz a escritora Penny Junor, especializada em realeza. Sempre sorrindo, envelhecendo sem truques, foi apagando da memória dos britânicos a imagem de madrasta de Branca de Neve — até o príncipe William, de quem é madrasta de verdade, elogiou a decisão de Elizabeth (Harry, o rebelde, não se manifestou).

PRONTA - Kate, na fila de espera: dedicação total ao aprendizado -
PRONTA - Kate, na fila de espera: dedicação total ao aprendizado – (Paolo Roversi/Kensington Palace/Getty Images)

Camilla e Charles estão juntos praticamente desde que se conheceram, em 1970, e não se casaram antes, ao que tudo indica, por caprichos do destino. Já tinham namorado quando o príncipe resolveu passar um tempo viajando e se divertindo. Ela engatou então um romance com Andrew Par­ker Bowles, decidiu (sempre segundo terceiros) que melhor um marido na mão do que um príncipe mulherengo solto pelo mundo e se casou com ele. Tiveram dois filhos e o casamento mais aberto de sua época: ela voltou para os braços de Charles e ele engatou um caso atrás do outro até se divorciarem, em 1995. O drama da separação traumática de Charles e Diana, com acusações e escândalos de parte a parte (culminando com o vazamento de um telefonema em que o príncipe dizia à amante que queria ser seu Tampax), agravado pela trágica morte da princesa, encostou os adúlteros na parede: ou se separavam de vez, ou se casavam.

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Aos 74 anos, Camilla é hoje a pessoa mais próxima em idade de Elizabeth (Charles é um ano mais novo) e as duas parecem se entender. Mas, acima de tudo, a intenção da rainha ao ungir a nora é desarmar desde já um potencial problema, entre tantos que atormentam o Palácio de Buckingham — de onde o príncipe Andrew está banido desde que virou réu em um processo por abuso sexual e de onde Harry saiu chutando a porta. Refresco para a soberana, a esta altura, é pensar no que vem depois de Charles: o filho William, herdeiro mais do que certinho, e sua mulher, Kate. Antes esnobada pela aristocracia por sua origem plebeia, Kate mergulhou de cabeça no aprendizado da arte de ser rainha e hoje, aos 40, tem luz própria e credenciais impecáveis para o posto. Antes, porém, quando Charles for coroado rei, é sua mulher que receberá a coroa que foi da mãe de Elizabeth, de valor incalculável, cravejada com um dos maiores diamantes do mundo, o Koh-i-Noor, de 105 quilates. Longa vida à rainha Camilla.

Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2022, edição nº 2776

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