A rotina dos cardeais pré-conclave: frigobar pago, carbonara e partida de tênis
Em entrevista ao 'Corriere della Sera', o arcebispo emérito Anselmo Guido Pecorari compartilha episódios bem-humorados dos bastidores do Vaticano

Às vésperas do conclave que escolherá o novo papa a partir do dia 7 de maio (fontes vaticanas acreditam que o nome já seja conhecido em 8 ou 9 de maio), nem tudo no centro da Igreja Católica é solene. Em entrevista ao Corriere della Sera, o arcebispo emérito Anselmo Guido Pecorari, 79 anos, revelou cenas inusitadas da vida dos cardeais durante os dias de preparação, misturando rotina religiosa com momentos inesperadamente mundanos.
Um dos episódios mais comentados envolve um cardeal estrangeiro — cujo nome Pecorari preferiu não divulgar — que acreditava que a hospedagem na Casa Santa Marta (onde vivia o papa Francesco e hoje abriga alguns dos representantes que votam no conclave) fosse totalmente gratuita. Sem saber que os itens do frigobar seriam cobrados, ele convidou colegas para um encontro informal em seu quarto, que terminou com todas as miniaturas de bebidas alcoólicas consumidas. A surpresa veio depois: tudo apareceu na fatura. “Ficou bastante decepcionado”, contou o arcebispo, com um sorriso.
Muitos cardeais têm preferido discutir assuntos importantes fora do Vaticano, optando por restaurantes como La Rustichella, na Via Emo, e Ristorante Pizzeria Marcantonio, no Borgo Pio, famoso por sua carbonara. Há também quem se aventure por um sorvete na Latteria Giuliani, onde dois deles foram surpreendidos por fiéis que se ajoelharam diante deles, causando certo constrangimento. Para evitar atenção excessiva ou preços inflacionados — especialmente no vinho —, é recomendável que evitem roupas clericais muito visíveis. Esses episódios mostram como os momentos à mesa têm se tornado uma oportunidade de convivência e leveza mesmo em tempos de decisões importantes.
Outro destaque da conversa foi a paixão do cardeal espanhol Santos Abril y Castelló pelo tênis — e sua aversão à derrota. Pecorari revelou que, quando o jogo começa a ir mal, o jogador tem um truque: faz um sinal discreto ao seu assistente, que interrompe a partida alegando uma ligação urgente. “Assim ele evita perder o set”, comentou.
A rotina dos cardeais antes do conclave segue uma programação intensa e repetitiva. “Participamos das Congregações Gerais duas vezes por dia na Aula Paulo VI, vamos às missas novendiali em São Pedro, visitamos igrejas e encontramos os fiéis”, explicou Pecorari. Com essa agenda apertada, pequenos momentos de lazer se tornam preciosos.
Em um desses raros intervalos, Pecorari contou sobre um jantar que teve com o cardeal Mario Zenari, núncio apostólico na Síria. Juntos, saborearam carciofi alla romana — alcachofras preparadas ao estilo típico de Roma — em um restaurante nas imediações do Vaticano. “Zenari adorou, porque na Síria não encontra esse tipo de prato”, comentou.
Com o início do conclave se aproximando, os cardeais entram em clausura. Celulares serão recolhidos, janelas trancadas e varreduras contra escutas serão realizadas. A informalidade dos dias anteriores dará lugar ao silêncio absoluto — até que a fumaça branca anuncie ao mundo que Habemus Papam.