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A reunião nazista que há exatos 80 anos consolidava o Holocausto

Quase um século após a Conferência de Wannsee, falas e atitudes antissemitas ainda são comuns pelo mundo, de acordo com especialistas

Por Sabrina Brito 20 jan 2022, 11h47

No dia 20 de janeiro de 1942, líderes e chefes do Partido Nazista organizaram uma reunião hoje conhecida como Conferência de Wannsee, em Berlim. O objetivo era simples: consolidar os detalhes do que viria a ser o genocídio judeu na Europa do século XX.

O evento foi coordenado por Reinhard Heydrich, diretor da Gestapo, polícia e serviço secreto do governo de Adolf Hitler. Juntaram-se a ele diversos representantes do Estado, o que levou o encontro a ser denominado, na época, “conferência dos secretários adjuntos”.

O principal resultado da reunião foi a conscientização de peças importantes do governo nazista acerca dos planos de extermínio judeu, que culminaria em mais de seis milhões de mortes pela Europa. Durante o evento, o aparato estatal que aniquilou a maior parte dos judeus europeus foi calibrado, coordenado, organizado.

A partir de então, a “solução final” (baseada em ações como o envenenamento de judeus em câmaras de gás) tornou-se um plano administrativo muito bem organizado e disseminado entre os altos escalões do Estado. A este ponto, portanto, o assassinato de membros da comunidade judaica não se restringiria mais a algumas ações isoladas em certas regiões da Europa, mas sim abrangeria todo um complexo plano cujo objetivo último seria o desaparecimento dos judeus do continente.

De fato, nos últimos anos, parece ter ganhado força, por exemplo, a teoria da conspiração de que o genocídio judeu é uma farsa. Segundo os conspiracionistas, os nazistas jamais assassinaram seis milhões de judeus. Para eles, tampouco existiram câmaras de gás capazes de matar pessoas em massa, e a perseguição estatal desses povos durante a Segunda Guerra seria uma mentira.

A atenção chamada por pessoas que defendem essa teoria foi tão grande que, em 2018, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, saiu publicamente em defesa do direito desses negacionistas de participarem de sua rede social, por meio da qual frequentemente espalham desinformação e notícias falsas. Resta pouca dúvida que a presença de supremacistas e neonazistas nas mídias torna a ação desses grupos mais fácil, já que, com a ajuda da internet, a comunicação e a disseminação de seus ideais é mais fácil hoje do que nunca.

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“Chegamos até mesmo a ver pessoas culpando judeus pela disseminação da Covid-19 recentemente”, conta Laurence Weinbaum, diretor geral do Congresso Judaico Mundial. “Somos bodes expiatórios convenientes usados por todo o mundo.”

Quando se trata de antissemitismo, a América Latina não é exceção. Em novembro do ano passado, o comentarista José Carlos Bernardi afirmou publicamente que o Brasil poderia enriquecer a níveis alemães “se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico deles”. Além disso, alguns líderes da região têm estreitado suas relações com o Irã, cujas autoridades frequentemente negam em público o Holocausto judaico.

Por outro lado, há indivíduos que defendem que, ainda que o Holocausto tenha acontecido, seria importante — inclusive para os judeus — deixá-lo para trás e esquecer dos terrores vividos durante as décadas de 40 e 50 na Europa como forma de seguir em frente. Raheli Bratz-Rix discorda.

“É crucial que lembremos os aniversários de eventos como a Conferência de Wannsee e aprendamos com ele”, diz o especialista. Desse modo, é de extrema importância para a comunidade lembrar-se de todos que foram vitimizados pelo Holocausto, que são muito mais do que apenas números e estatísticas. É em nome deles que, no próximo dia 27, a Conib, a Federação Israelita do Estado de São Paulo e a Congregação Israelita Paulista realizarão, às 19h30, o Ato em Memória às Vítimas do Holocausto.

“O melhor modo de combater o antissemitismo é pela educação, por meio de medidas como a implantação de aulas sobre o Holocausto em escolas e universidades. Somente assim poderemos garantir que o povo judeu viva com segurança e prosperidade onde quer que esteja”, declara Bratz-Rix.

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Afinal, conforme explica Laurence Weinbaum, o antissemitismo não é um problema apenas para judeus, mas para a sociedade toda. O preconceito com que age uma sociedade é um barômetro de sua moralidade e bem-estar, e a prevalência do ódio e julgamento da comunidade judaica é certamente um sinal de que algo está errado.

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