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A mensagem do governo brasileiro sobre a situação humanitária na Ucrânia

Em documento, Itamaraty reconhece violência contra civis, mas não cita a Rússia, acusada por Kiev e aliados ocidentais como responsável por mortes 

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 abr 2022, 14h14 - Publicado em 7 abr 2022, 09h14

Em meio às fortes reações internacionais às centenas de vítimas encontradas no fim de semana na cidade ucraniana de Bucha, ao norte de Kiev, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma nota na noite de quarta-feira, 6, prestando solidariedade ao país em guerra.

Em documento, o governo brasileiro diz que “recebeu, com grande consternação, as notícias e imagens de violência contra civis e de elevado número de mortos, muitos dos quais com sinais de tortura e maus-tratos, na localidade de Bucha, na Ucrânia”.

O texto completo do Itamaraty, de quatro parágrafos, não cita a Rússia, acusada por Kiev e aliados ocidentais de ser responsável pela morte de civis. A Procuradoria-Geral da Ucrânia divulgou no domingo que 410 corpos foram encontrados em valas comuns e nas ruas da cidade e, segundo o governo ucraniano e de acordo com imagens difundidas por veículos internacionais, os corpos apresentavam sinais de terem sido sumariamente executados. As vítimas estariam trajando roupas civis e muitas estavam com as mãos atadas.

“Ao solidarizar-se com as famílias das vítimas e todo o povo ucraniano, o Brasil reitera o chamado à proteção de civis e ao pleno respeito ao Direito Internacional Humanitário”, diz o documento, ressaltando que o governo brasileiro defendeu no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas a realização de uma investigação independente para apurar responsabilidades e as supostas violações.

“Como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil permanece plenamente engajado nas discussões com vistas à imediata cessação das hostilidades e à promoção de diálogo conducente a solução pacífica e duradoura, em consonância com a tradição diplomática brasileira, a Carta das Nações Unidas e o direito internacional.”

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Embora o Brasil tenha votado a favor de resoluções contra o governo russo no órgão internacional, o governo segue uma estratégia de tentar evitar críticas diretas para aliviar possíveis impactos econômicos, sobretudo no setor agrícola.

Na quarta-feira, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, o chanceler Carlos França afirmou que o Brasil poderia atuar como mediador para encerrar o conflito e voltou a criticar sanções econômicas aplicadas aos russos.

“O Brasil tem credenciais para ser mediador. Somos membros do Brics [bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], somos um ator global, com tradição democrática, e temos uma diplomacia que se construiu ao longo de 200 anos como formadora de consensos e voz sempre respeitada na ONU”, disse o ministro aos senadores.

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O ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França —
O novo ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França – (Gustavo Magalhães/Ministério das Relações Exteriores/Divulgação)

Sobre as sanções, mesmo reconhecendo que a agressão da Rússia ao país vizinho é inadmissível, disse que as medidas econômicas são seletivas e prejudicam países fornecedores de alimentos, como o Brasil, que tenta conseguir fertilizantes.

“Eu até entendo o uso de sanções pela Europa e pelos EUA. No entanto, não posso deixar de estranhar a seletividade das sanções”, afirmou França. “Sanções tendem a preservar interesses imediatos de um pequeno grupo de países e prejudicam quem mais depende de importação de alimentos e tem menor capacidade financeira.”

Durante sua fala ao Senado, o ministro afirmou que o Itamaraty conseguiu retirar 230 brasileiros da Ucrânia, dos quais 43 retornaram ao Brasil pela Polônia. Há ainda outros 17 cidadãos brasileiros em território ucraniano, dos quais 11 querem permanecer no país, e o restante é formado por jornalistas que atuam cobrindo o conflito.

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