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A diplomacia do barulho do governo Lula em meio ao conflito Israel-Irã

É louvável defender os interesses nacionais, mas seria melhor fazer isso de forma mais cuidadosa, deixando de lado as equivocadas ideologias

Por Ricardo Ferraz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 jun 2025, 11h05 - Publicado em 27 jun 2025, 06h00

Nas manifestações por escrito do governo Lula, até o momento, em torno da guerra contra o Irã, o Itamaraty condenou os atos de Israel e dos Estados Unidos pela “violação da soberania”. Calou-se, contudo, a respeito do programa nuclear do país dos aiatolás, que enriquece urânio a porcentagens muito superiores às necessárias para fins pacíficos. O tom expõe a percepção nos corredores do Ministério das Relações Exteriores de que os ataques são injustificáveis, já que não haveria qualquer evidência de os iranianos estarem prestes a desenvolver a bomba atômica. À boca pequena, a ala mais próxima ao Planalto chega a demonstrar certa admiração pelo regime dos aiatolás, capaz de peitar o imperialismo americano exacerbado na era Trump no Oriente Médio. A postura se alinha aos planos sonháticos da construção do chamado Sul Global, eixo geopolítico alternativo ao das superpotências, bandeira das gestões petistas que instala o Brasil ao lado de países sem nenhum compromisso com a democracia, como a Rússia, a China e a Venezuela. Pensamento similar levou a outros erros crassos, como o apoio à entrada do Irã no Brics, no ano passado, e permitir que dois navios de guerra persas aportassem no Rio de Janeiro, em 2023, causando a revolta de senadores americanos. Mais recentemente, o vice-presidente Geraldo Alckmin prestigiou a posse do presidente iraniano Masoud Pezeshkian, sob alegação de ele ter perfil moderado e reformista.

A atual postura é até tímida em relação a 2010, quando o então chanceler, Celso Amorim, tentou intermediar um acordo nuclear que garantisse uso exclusivamente civil da tecnologia, com apoio da Turquia, do autocrata Recep Tayyip Erdogan. Lula chegou a se encontrar com Ali Khamenei e recebeu com pompa o presidente iraniano à época, Mahmoud Ahmadinejad, aquele que negava o Holocausto. O arranjo não durou doze horas. O governo americano se recusou a assinar o documento, diante da fragilidade da costura. “Era para ser o maior êxito de Amorim, mas se tornou seu maior trauma”, confidencia um diplomata brasileiro. Soma pontos ainda na posição do Brasil de criticar duramente os ataques contra o Irã as exportações de mais de 3 bilhões de dólares para o país, em uma pauta composta principalmente por gêneros alimentícios. “Se não fizermos esse comércio, outros países farão”, justifica Eduardo Gradilone, ex-embaixador em Teerã. É louvável defender os interesses nacionais, mas seria melhor fazer isso de forma mais cuidadosa no atual campo minado do Oriente Médio — de preferência, deixando de lado as equivocadas ideologias.

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950

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