A diplomacia do barulho do governo Lula em meio ao conflito Israel-Irã
É louvável defender os interesses nacionais, mas seria melhor fazer isso de forma mais cuidadosa, deixando de lado as equivocadas ideologias

Nas manifestações por escrito do governo Lula, até o momento, em torno da guerra contra o Irã, o Itamaraty condenou os atos de Israel e dos Estados Unidos pela “violação da soberania”. Calou-se, contudo, a respeito do programa nuclear do país dos aiatolás, que enriquece urânio a porcentagens muito superiores às necessárias para fins pacíficos. O tom expõe a percepção nos corredores do Ministério das Relações Exteriores de que os ataques são injustificáveis, já que não haveria qualquer evidência de os iranianos estarem prestes a desenvolver a bomba atômica. À boca pequena, a ala mais próxima ao Planalto chega a demonstrar certa admiração pelo regime dos aiatolás, capaz de peitar o imperialismo americano exacerbado na era Trump no Oriente Médio. A postura se alinha aos planos sonháticos da construção do chamado Sul Global, eixo geopolítico alternativo ao das superpotências, bandeira das gestões petistas que instala o Brasil ao lado de países sem nenhum compromisso com a democracia, como a Rússia, a China e a Venezuela. Pensamento similar levou a outros erros crassos, como o apoio à entrada do Irã no Brics, no ano passado, e permitir que dois navios de guerra persas aportassem no Rio de Janeiro, em 2023, causando a revolta de senadores americanos. Mais recentemente, o vice-presidente Geraldo Alckmin prestigiou a posse do presidente iraniano Masoud Pezeshkian, sob alegação de ele ter perfil moderado e reformista.
A atual postura é até tímida em relação a 2010, quando o então chanceler, Celso Amorim, tentou intermediar um acordo nuclear que garantisse uso exclusivamente civil da tecnologia, com apoio da Turquia, do autocrata Recep Tayyip Erdogan. Lula chegou a se encontrar com Ali Khamenei e recebeu com pompa o presidente iraniano à época, Mahmoud Ahmadinejad, aquele que negava o Holocausto. O arranjo não durou doze horas. O governo americano se recusou a assinar o documento, diante da fragilidade da costura. “Era para ser o maior êxito de Amorim, mas se tornou seu maior trauma”, confidencia um diplomata brasileiro. Soma pontos ainda na posição do Brasil de criticar duramente os ataques contra o Irã as exportações de mais de 3 bilhões de dólares para o país, em uma pauta composta principalmente por gêneros alimentícios. “Se não fizermos esse comércio, outros países farão”, justifica Eduardo Gradilone, ex-embaixador em Teerã. É louvável defender os interesses nacionais, mas seria melhor fazer isso de forma mais cuidadosa no atual campo minado do Oriente Médio — de preferência, deixando de lado as equivocadas ideologias.
Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950