Promoção do Ano: VEJA por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

A caminho da extinção, Otan recupera relevância em meio à guerra

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) voltou a ser vista como refúgio dos países que se sentem ameaçados pela sanha expansionista de Putin

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h13 - Publicado em 22 abr 2022, 06h00

Os estrondos da guerra entre Rússia e Ucrânia, a primeira a confrontar dois países da Europa em quase oitenta anos, continuam a se fazer ouvir. Ao completar dois meses da brutal e injustificável invasão do país vizinho, tropas russas se aglomeravam na faixa de fronteira e bombas despencavam sobre cidades ucranianas, o que ambos os lados descrevem como o início de uma nova — e, provavelmente, mais devastadora — fase de combates. Nessa ofensiva, o comando militar russo está mostrando que aprendeu com os erros da primeira investida, a impressionante resistência ucraniana parece exausta, o castigado porto de Mariupol está prestes a se render e os apelos do governo de Kiev por armas e ajuda carregam um tom de desespero. Em meio aos escombros, uma relíquia da Guerra Fria que se julgava obsoleta e decadente ganha nova relevância: a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) voltou a ser vista como refúgio dos países que se sentem ameaçados pela sanha expansionista de Vladimir Putin.

Chegando a trinta membros desde 1997, a Otan agora é alvo do interesse da Finlândia e da Suécia, que nunca lhe deram a menor bola. Bastiões da neutralidade e da independência militar — em parte por opção e, em parte, para agradar à vizinha Rússia —, os dois países estudam a possibilidade de ingressar na aliança ocidental. A primeira-ministra finlandesa Sanna Marin justificou a mudança de posição citando a necessidade de o país “estar preparado para todo tipo de ação por parte da Rússia” e vendo sua melhor chance na “defesa comum garantida pelo Artigo 5” da Otan, que estipula que qualquer ataque a um país-membro é uma agressão a todos. Em dezembro, o apoio dos finlandeses à participação na aliança era de 24%. Quatro meses depois, subiu para 68%, incluindo mais da metade dos 200 parlamentares. “Até agora, a opção de ingresso era apenas uma ferramenta de pressão. As últimas semanas mudaram completamente a situação”, analisa Rasmus Hindrén, pesquisador da Iniciativa de Segurança Transatlântica, vinculada ao think tank americano Atlantic Council.

REVISÃO - A primeira-ministra Marin: a Finlândia estuda deixar a neutralidade -
REVISÃO - A primeira-ministra Marin: a Finlândia estuda deixar a neutralidade – (Thierry Monasse/Getty Images)

A aliança ocidental foi fundada em 1949, com doze membros — dez países europeus mais Canadá e Estados Unidos, seu maior patrocinador, para garantir proteção militar contra a União Soviética. A Europa Oriental, de seu lado, contava com os soldados e armamentos do Pacto de Varsóvia. Desmantelada a URSS, no início dos anos 1990, o pacto se pulverizou e vários países do Leste, livres da tutela comunista, correram para a Otan — nos anos seguintes, o rol de integrantes incharia com dezoito novos membros (veja o mapa). Deu-se então a ducha de água fria: sem inimigo à vista, de que serve uma aliança militar? Até os Estados Unidos, interessados em manter esse pé na Europa, balançaram: Donald Trump declarou, em alto e bom som, que não via sentido em continuar despejando armas e dinheiro na organização. O francês Emmanuel Macron chegou a decretar a “morte cerebral” da aliança.

arte mapa Otan

Continua após a publicidade

A ressurreição se deu agora pela mão de Putin — a intenção da Ucrânia de aderir à Otan, cravada até na sua Constituição, foi uma das desculpas para a invasão. Empurrada pela mão pesada do presidente russo, a aliança ocidental aproximou-se da Ucrânia, a quem fornece armas e treinamento desde que a Rússia começou a despachar tropas para a fronteira, no fim do ano passado. Não sendo um país-membro, porém, a ajuda é limitada. Por um lado, isso impede uma escalada do conflito de consequências imprevisíveis. De outro, garante a superioridade bélica da Rússia.

Como era de se esperar, o governo de Moscou reagiu muito mal à possibilidade de Finlândia e Suécia entrarem para a organização. Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, disse que, se os dois países aderirem, não se poderá mais falar de “um Báltico (o mar que banha o Norte da Europa) livre de armas nucleares”. “A magnitude do conflito atual já tem, e pode ter ainda mais, potencial para aprofundar as atitudes anti-­Ocidente na Rússia”, ressalta Stephen Whitefield, professor do departamento de política da Universidade de Oxford. Para Putin, desancar a Otan é bandeira que une a população a seu favor. Para os Estados Unidos, reforçar a aliança é no momento o para-raios mais eficiente contra a Rússia. Washington de um lado, Moscou de outro — quem sente aí o cheiro mofado da Guerra Fria tem boa dose de razão.

Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

3 meses por 12,00
(equivalente a 4,00/mês)

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.