20% da Ucrânia e novas eleições: as exigências de Putin para o fim da guerra
Presidente russo se reunirá com Donald Trump nesta sexta-feira no Alasca

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai se encontrar com seu homólogo russo, Vladimir Putin, no Alasca nesta sexta-feira, 15, às 11h30 locais (16h30 em Brasília), para a primeira cúpula entre líderes das duas potências desde 2021. Poucas horas antes da reunião, o americano prometeu que não se deixará enganar, garantiu que seu colega está “pronto” para fechar um acordo sobre a guerra na Ucrânia e causou alarme ao repetir que Kiev e Moscou teriam que “dividir as coisas”, em referência a territórios ocupados — a Ucrânia não foi convidada para a reunião desta sexta-feira.
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As condições da Rússia para um eventual cessar-fogo seguem inalteradas, segundo o Kremlin, girando em torno da retirada completa de tropas de Kiev das regiões que Moscou pretende anexar (cerca de 20% do território do vizinho) e o abandono das ambições ucranianas de se juntar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a principal aliança militar ocidental.
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Após relatos na imprensa de que Washington entendia que o presidente russo, Vladimir Putin, estava pronto para ceder em suas demandas territoriais, o porta-voz adjunto do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Alexei Fadeev, rejeitou quaisquer mudanças.
“A posição da Rússia permanece inalterada e foi expressa neste mesmo salão há pouco mais de um ano, em 14 de junho de 2024”, disse Fadeev, referindo-se a um discurso proferido por Putin na época no Ministério das Relações Exteriores. Atualmente, a Rússia controla 19% da Ucrânia, incluindo toda a Crimeia, toda Luhansk, mais de 70% das regiões de Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson, e partes das regiões de Kharkiv, Sumy, Mykolaiv e Dnipropetrovsk.
Entram também no pacote de condições, segundo as agências estatais russas Tass e Interfax, a retirada completa de tropas ucranianas dos territórios desejados por Moscou, a interrupção de fornecimento de armas e inteligência do Ocidente à Ucrânia, a limitação do Exército ucraniano, tanto na quantidade de tropas quanto armas, e realização de novas eleições. Putin não reconhece Volodymyr Zelensky como líder legítimo da Ucrânia, afirmando que ele teria continuado no poder ilegalmente neste ano (eleições estavam previstas, mas não aconteceram devido ao estado de guerra).
Apesar das falas de Trump e do desejo de Putin, Zelensky reforçou nos últimos dias que não poderia concordar com a cessão de terras em troca de um cessar-fogo, uma vez que Moscou poderia usar o novo território como trampolim para iniciar uma futura guerra.
As três rodadas de negociações entre Rússia e Ucrânia realizadas neste ano não tiveram resultados. Ainda é incerto se a cúpula no Alasca ajudará a aproximar as partes para alcançar a paz. Os Estados Unidos e a Rússia buscam elaborar um acordo de cessar-fogo no qual será estabelecido que territórios ucranianos capturados passarão a fazer parte do mapa russo, afirmou a agência de notícias americana Bloomberg nesta sexta-feira, 8, com base em fontes familiarizadas com o assunto.
A Ucrânia, contudo, não pode constitucionalmente abrir mão de territórios. Além disso, Zelensky rejeita qualquer proposta que vá contra o princípio da soberania — mas, caso o presidente aceite o acordo, tropas ucranianas deverão bater em retirada de Luhansk e Donetsk, áreas que nunca foram completamente dominadas pelos russos desde o início da guerra, em fevereiro de 2022.
Segundo a Bloomberg, há um risco de que Zelensky seja encurralado com um acordo de “pegar ou largar”. Com o retorno de Trump à Casa Branca, em 20 de janeiro, o líder ucraniano passou a ser jogado para escanteio nas negociações sobre o fim da guerra. O republicano, ao contrário do ex-presidente Joe Biden, optou por privilegiar discussões com Putin, ainda que a relação dos dois tenha sido marcada por altos e baixos, de admiração a críticas efervescentes.
No tabuleiro bélico, aliados europeus temem que a Ucrânia termine a guerra no prejuízo, sem parte de seu mapa, enquanto Putin ganha tempo e espaço para reconstruir as forças armadas russas. O acordo, disseram autoridades à agência, exigiria que Putin interrompesse a ofensiva nas regiões de Kherson e Zaporizhzhia, bem como em outras linhas de frente do confronto. Mas o plano ainda está em andamento, sendo passível a mudanças. Uma trégua permitiria o avanço das negociações de paz para o fim da guerra, que caminha para o seu quarto ano.