Fé e Genética
“... para que fosse pai de todos os que crêem.” Romanos 4:11

Introdução
Recentemente, pudemos testemunhar a era genômica, em que os mais de 20.000 genes humanos codificadores de proteínas, além dos milhares de genes para RNAs funcionais, foram sequenciados. Neste momento, começamos a identificar melhor suas funções, como eles interagem entre si e orquestram a belíssima sinfonia molecular dentro de cada célula. Assim, o ser humano começa a deslumbrar seu “livro da vida”, porém permanece sem conhecer o “livro da vida” de Deus (Apocalipse 3:5).
A Bíblia nos mostra um elemento central no projeto de Deus para a salvação do homem: a fé. Porém, a fé não é uma característica biológica humana, ela não é herdada de nossos pais terrenos, portanto, não está em nosso DNA; ela vem de nosso Pai celestial (Efésios 2:8) [1]. Por outro lado, verifica-se que pessoas de uma mesma família são geneticamente semelhantes e, devido a isso, diz-se que elas “possuem o mesmo sangue” – aspecto esse que tem fundamento na Genética, a ciência que estuda a transmissão das características biológicas ao longo das gerações. Neste artigo, veremos a relação entre fé e Genética, por meio do Sangue de Jesus – que é outro elemento-chave na Bíblia. Faremos paralelos simbólicos com duas abordagens: (i) a herança Genética humana e (ii) a herança “genética de Deus Pai”.
A herança genética humana
No Velho Testamento, o Senhor Deus apresenta especial zelo pelos laços de sangue biológico (herança genética humana). Um exemplo notório é mostrado na busca por uma esposa para Isaque. Consciente da promessa de Deus, Abraão entendeu que Isaque não poderia se casar com uma mulher cananeia, cujos costumes e deuses eram diferentes. Nesse sentido, Abraão faz seu servo jurar que buscaria entre a sua parentela (os hebreus) uma esposa para Isaque (Gênesis 24:3-4) [1]. Ele sabia que dentro de sua família existiam mulheres que haveriam de crer no mesmo Deus. Abraão, portanto, visava assegurar que seu filho Isaque perpetuaria uma descendência genética (sangue biológico) e fiel (isto é, que teria a mesma fé nele manifesta). Para encontrar aquela que portava o sangue da família, o servo buscou na parentela; e para encontrar aquela que teria uma vida de fé, o servo de Abraão pede um sinal (“aquela que tirar água do poço, para ele e seus camelos”, Gênesis 24:14) [1]. Essa característica foi encontrada em Rebeca, que simbolizava a Igreja Fiel, a qual tem tido experiências com a fonte de águas que jorra para a vida eterna (João 4:14) [1].
A herança “genética” de Deus Pai
A Bíblia nos relata que Jesus, como homem, não deixa uma descendência, evidenciando, assim, que a intenção de Deus Pai não era transmitir a fé biologicamente; mas concedê-la diretamente ao homem, a partir dele mesmo – uma herança sua.
Porém, como essa característica é passada para o homem? Uma das alegorias que a Bíblia registra é denominada de o novo nascimento (João 3:3) [1]. Note que, para o nascimento de um filho biológico, é necessário que pai e mãe contribuam com seus materiais genéticos; a criança é uma mistura genética de ambos (herança genética biparental). Entretanto, no novo nascimento, isto é, quando aceitamos o Senhor Jesus como nosso salvador, nos tornamos filhos de um só Pai – nosso Deus (Efésios 4:6) [1], temos um só genitor (herança uniparental) (Figura 1). Portanto, tudo que recebemos vem de Deus Pai, em especial a fé! Reiterando, é essencial entendermos que somos incapazes de gerar a fé verdadeira, ela precisa vir dEle por meio da eleição (1 Pedro 1) [1] – assim como Rebeca fora eleita por Deus. O novo nascimento permite que herdemos a “genética” do Pai eterno e nos tornemos irmãos em Cristo. Em especial, recebemos um novo nome (Apocalipse 2:17) [1], e temos uma nova morada celestial (João 14:1-3) [1]!
É interessante notar que, outrora, o foco do olhar de Deus Pai estava sobre o vínculo de sangue biológico (um povo – Israel). Entretanto, a partir de Jesus, durante o atual período da Graça, a atenção do amor de Deus está sobre o vínculo do Sangue de Jesus (um corpo – a Igreja). Sim, a Bíblia nos informa que a Igreja de Cristo é vista por Deus como um só corpo – os servos de Deus são membros desse corpo, unidos pela fé – o Espírito Santo é o sangue, e Cristo é a cabeça (1 Coríntios 12) [1]. Notoriamente, as propriedades do corpo de Cristo são típicas da Obra Redentora [2] que suplantam, em diversos aspectos, aquelas que são próprias de um corpo da Obra Criadora [2], tal como a expectativa máxima de vida (abaixo dos 120 anos).
Isso é possível porque, conforme vimos anteriormente, quando o homem é eleito e passa pelo novo nascimento, ele adquire uma nova “identidade genética”, que lhe proporciona diversas características espirituais da Obra Redentora, entre elas, a fé e uma vida celestial sem limite temporal. Por isso, a Bíblia nos ensina que, ao aceitarmos Jesus como nosso único e suficiente salvador, recebemos a vida eterna.
Conclusão
A biologia do homem natural é incapaz de gerar fé, e sua genética limita seu tempo de vida. Quando Abraão enviou o seu servo para buscar uma esposa no meio da sua parentela, ele estava agindo dentro de uma profecia. Isto é, nesse projeto eterno, Abraão, que é tido como pai da fé (Romanos 4:11 [1], verso destacado abaixo do título), simbolizava profeticamente o próprio Deus Pai, transmissor dessa característica eterna para o homem. Isaque, seu filho, era uma figura profética de Deus Filho – o Senhor Jesus. O servo de Abraão tipificava o Espírito Santo, que está em contato próximo com a noiva, Rebeca – a Igreja. Essa última, por sua vez, precisava ser da mesma parentela, ter a mesma “identidade genética”, as mesmas características espirituais, entre elas, a fé. Somente por meio do novo nascimento é que herdamos a fé e o sangue da família celestial – o Sangue de Jesus –, os quais possibilitam ao homem natural ser identificado como um filho de Deus e se tornar um cidadão dos céus.
Portanto, observa-se que a fé é um aspecto-chave na Bíblia. Ela é o elo imaterial entre Deus e o homem. Possuímos milhares de genes valiosíssimos em nosso genoma, herdados de nossos pais biológicos e que permitem nossa vida nessa Terra. Porém, a fé é a herança de nosso Pai celeste, a qual permite a vida eterna.

REFERÊNCIAS
[1] A Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Sociedade Bíblica do Brasil, 1969. [2] Fé: o elo perdido. Tarcísio N. Teles. Apresentado por Igreja Cristã Maranata. Revista Veja, Edição 2682 (15/04/2020)
