“Quero entrar nos lugares e me sentir representada”
Vencedora do Prêmio Veja-se na categoria Diversidade comanda uma aceleradora de startups dedicada a promover empreendedores e executivos negros
No comando de uma startup que promovia recolocação profissional, batizada de Cia de Currículos, a psicóloga Maitê Lourenço passou a notar algo que passava despercebido aos olhos da maioria dos empreendedores. Nos eventos dos quais participava, era frequentemente a única empresária negra nos auditórios ou salas de reunião. “Sentia um incômodo em ver essa diferença, sabendo quanto eram importantes aqueles espaços”, recorda. O quadro era paradoxal, pensou: o Brasil tem 54% da população preta ou parda, segundo projeção do IBGE, e sempre aparece entre os principais países em rankings internacionais de empreendedorismo, mas praticamente só existem brancos nos postos de liderança ou negócios de destaque. Nasceu desse choque, há dois anos, a BlackRocks, empresa com sede no centro da cidade de São Paulo que promove a ascensão de profissionais negros e pardos, de diversas formas. “Não é uma ONG, mas um negócio que busca impacto social”, explica Maitê.
Em seu programa de mentoria, executivos e empresários negros orientam a carreira de profissionais também negros, com o objetivo de que, em um futuro breve, eles deixem de ser exceções. Nesses dois anos, cerca de 550 já passaram pelos encontros, nos quais se discute desde o planejamento de modelos de negócio até o processo de captação de recursos. Neste ano, Maitê promoveu seu maior evento: o Arena BlackRocks, que reuniu 400 participantes em dez horas de apresentações sobre tecnologia, entre palestras, workshops e mesas de discussão. Pela primeira vez, Maitê viu, em uma plateia tão grande num encontro de negócios, o predomínio de pessoas com cor de pele escura. Outra frente, que dá seus passos iniciais, é a aceleração de startups geridas por empreendedores de ascendência africana. Com parcerias com o Sebrae e a consultoria Lambda3, Maitê e sua equipe de cinco profissionais preparam jovens empresas para atrair os chamados investidores “anjo”, participando da elaboração do modelo de negócio e da apresentação do projeto. Para Maitê, cada empresário negro de sucesso representa uma vitória sobre as desigualdades que ela presenciou desde a infância no Jardim das Rosas, no extremo da Zona Leste de São Paulo. Filha de um segurança (que morreu quando ela tinha 11 anos) e de uma governanta, Maitê estudou em escola pública durante o ensino fundamental e o médio, batalhou por uma bolsa integral do Prouni para cursar psicologia em uma faculdade particular e, mais tarde, especializou-se em neuropsicologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Quero entrar nos lugares e me sentir representada, ir a um evento de tecnologia e ver uma mulher negra falando lá na frente”, resume. “Meu desejo é mostrar a outros cidadãos negros que eles também podem estar naquela posição.”
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