Hortas comunitárias espalham alimentos orgânicos em Porto Alegre
Iniciativas mostram que é possível plantar e colher de forma livre e compartilhada
No jardim da vida da jornalista Anahi Fros, Margarida nasceu em 25 de agosto de 2017. Brotou silenciosa e livre, após ter sido regada de amor por muitas mãos. Completando quatro meses no dia de Natal, Margarida também atende por Horta Comunitária da Margarida, mais um espaço verde compartilhado que nasceu em Porto Alegre. A prática de plantar e colher com amigos, vizinhos e até desconhecidos tem sido cada vez mais comum na capital gaúcha. Atualmente, pelo menos quatro hortas comunitárias se unem à Margarida, cuja história inspirou o #hellocidades, projeto de Motorola que mostra novas formas de vivenciar os espaços urbanos.
Margarida mora ao lado de uma parede do prédio da 2ª Companhia da Brigada Militar, na Praça Gregório de Nadal, mais conhecida como Praça do Arvoredo. Toma sol pela manhã e, à tarde, descansa sob a sombra do Palácio Piratini, sede do governo do Estado. Mata a sede com a água que cai do céu ou de regadores que a visitam frequentemente. Nela, foram plantadas mudas de temperos, como alecrim e manjericão, e de legumes, como pimentão, berinjela e chuchu, alimentos orgânicos que podem ser colhidos por qualquer pessoa. “A Horta Comunitária da Margarida nasceu de uma vontade imensa de cultivar sem amarras, sem hierarquia, sem portões ou chaves, livremente e em local público, onde todos pudessem acessar”, explica Anahi, idealizadora do espaço.
A jornalista visita a horta diariamente e fica comovida quando vê novas mudas ou a terra molhada — sinal de que alguém já passou ali para regá-la. Quando as pessoas dizem a ela que lhe darão uma muda, logo responde: “quero que você venha plantar”. “A horta é um espaço para compartilhar muito mais do que os alimentos. É uma oportunidade para criar relações pessoais horizontais e de bondade”, completa.
Foi dessa mesma vontade de viver em uma cidade mais livre e em contato com a natureza que acabou surgindo a Associação das Hortas Coletivas do Centro Histórico, que hoje reúne mais de 30 sócios e 2 000 apoiadores. Todos que demonstram interesse e vontade de participar são bem-vindos.
Nas mãos de engenheiros, professores, agrônomos, advogados, publicitários e artistas da vizinhança, antigos terrenos abandonados, pontos de despejo de lixo, se transformam em espaços verdes onde plantas de diversos tipos são produzidas sob manejo agroecológico. “Acredito na revolução por meio da comida e quanto mais local for a produção, mais saudáveis serão as pessoas, tanto física quanto psicologicamente, e mais forte será a economia local”, defende Carmen Fonseca, uma das integrantes da associação.
O grupo luta agora para convencer a prefeitura a doar um terreno abandonado há 20 anos no coração do Centro Histórico. Os três hectares situados na rua José do Patrocínio abrigariam a maior horta comunitária da cidade. As tratativas começaram em 2016, mas emperraram. Apesar de considerar a iniciativa louvável, a secretaria da Fazenda do município afirma ter outro plano para o terreno. O comunicado oficial diz que “embora o projeto apresentado seja inovador, capaz de proporcionar transformações positivas para os moradores do entorno, o referido imóvel já está sendo destinado a ser utilizado por setores deste município”. No entanto, a prefeitura não especifica o destino do local.
Enquanto seguem impedidos de plantar produtos orgânicos na área, os moradores colhem assinaturas para um abaixo-assinado que servirá como argumento para convencer o atual prefeito de Porto Alegre a aderir à ideia.
E eles não param por aí. Atualmente investem esforços no melhoramento de uma outra horta comunitária, a Formiga. Construída ao lado de uma das escadarias históricas de Porto Alegre, a poucas quadras da desejada área da José do Patrocínio, em um terreno particular concedido pelo dono, eles colocam a mão na massa. Fazem o reconhecimento do local, preparam a terra, escolhem as sementes mais apropriadas para o plantio e compartilham experiências. Tudo feito em mutirão. “Cada um traz alguma coisa. Terra, ferramenta, vasinhos, tinta, pincel, amor. É uma construção coletiva”, diz Carmen.
A associação também desenvolve um sistema de compostagem comunitária para melhorar a separação de resíduos orgânicos e incentiva os moradores a plantarem em suas residências. Para quem gostou da ideia, mas não tem muito costume com a terra, não há problema: também são oferecidas oficinas por voluntários sobre manejo das plantas.
Aproveite essa oportunidade de colocar a mão na terra em Porto Alegre e, depois, compartilhe esses momentos com a hashtag #hellocidades. Veja a seguir outras sugestões de lugares onde você pode ajudar a plantar e colher e reconecte-se com a cidade com a ajuda do hub hellomoto.com.br.
Horta Comunitária da Margarida
Construída há quatro meses junto a Praça do Arvoredo, no centro histórico, já começa a dar as primeiras colheitas.
Horta da Lomba do Pinheiro
Voltada para a comunidade da Lomba, a horta (Av. João de Olivira Remião, parada 12A) é uma das iniciativas desse tipo mais antigas na cidade.
Horta Urbana Arado Velho
Antes um espaço de despejo de lixo, no bairro Belém Novo (Av. Inácio Antônio da Silva, s/n), a área foi transformada em 2016 em horta e pomar.
Espaço Floresta
Horta construída no bairro Floresta (Travessa Carmem, 111) em espaço cedido pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana.
Horta Comunitária do Morro da Formiga
Localizada ao lado da escadaria que liga as ruas Fernando Machado e João Manoel, a horta comunitária foi construída em um terreno privado cedido temporariamente.