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Existe vida extraterrestre em outros planetas do sistema solar?

O livro 'A Terra é excepcional?' (Record), de Merio Livio e Jack Szostak, mostra a evolução da busca por matéria orgânica em nossa vizinhança planetária

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 Maio 2025, 08h00

O livro A Terra é excepcional? (Record) aborda as origens da vida e a possibilidade de encontrá-la fora do nosso planeta. A obra foi escrita pelo astrofísico Mario Livio e pelo biólogo molecular e ganhador do Nobel Jack Szostak. Baseando-se em descobertas recentes, os autores exploram como os blocos fundamentais da vida, como RNA, aminoácidos e células, emergiram do caos primordial da Terra, ao mesmo tempo em que discutem a busca por vida além do planeta de forma multidisciplinar.

O volume coloca em destaque perguntas fundamentais que têm se tornado fronteiras vibrantes e dinâmicas da investigação científica: “Como começou a vida na Terra?” e “Estamos sozinhos na Via Láctea?”. Os autores revelam como o “véu” da dúvida que ainda cobre essas questões está finalmente sendo levantado. Uma questão crucial que conecta essas indagações é a probabilidade de surgir vida na superfície de um planeta potencialmente habitável, um tema central para a compreensão da origem e do destino da vida no universo. Leia trecho a seguir:

A TERRA É EXCEPCIONAL?, de Mario Livio e Jack Szostak. Tradução: Marina Vargas. Páginas: 350. Editora: Record. Livro: R$ 84,90. E-book: R$ 39,90
A TERRA É EXCEPCIONAL?, de Mario Livio e Jack Szostak. Tradução: Marina Vargas. Páginas: 350. Editora: Record. Livro: R$ 84,90. E-book: R$ 39,90 (Editora Record/Divulgação)

Naturalmente, o primeiro lugar para procurar vida extraterrestre seria em outros objetos do sistema solar. É muito mais fácil estudar, de maneira remota ou direta, as condições em planetas que orbitam o Sol, ou mesmo nas luas que orbitam esses planetas, do que examinar em minúcias planetas extrassolares. A razão é simples: os objetos do sistema solar estão muito mais perto. Essa proximidade relativa nos permite explorar melhor tais planetas não apenas com telescópios, mas também com sondas que podem sobrevoar os “viajantes” do céu noturno (como os gregos antigos se referiam aos planetas), orbitá-los ou até mesmo (em alguns casos) pousar em sua superfície e realizar observações e experimentos in situ.

Entre todos os planetas do sistema solar (além da Terra), não há dúvida de que os seres humanos sempre consideraram Marte o mais atraente e o que tinha mais probabilidade de abrigar vida. O fascínio pelo Planeta Vermelho também inspirou diversos livros de ficção científica, que vão de Two Planets [Dois planetas] (1897), do “pai da ficção científica alemã”, Kurd Lasswitz, e do famoso e influente A guerra dos mundos (1898), do prolífico autor H. G. Wells, até Uma princesa de Marte (1912), de Edgar Rice Burroughs (autor de Tarzan), e a coleção de contos As crônicas marcianas (1950), de Ray Bradbury (famoso por Fahrenheit 451). Esses e outros livros contavam histórias de uma sociedade marciana vivendo em um mundo deslumbrante e se envolvendo em aventuras eletrizantes, que incluíam a exploração do Polo Norte da Terra, batalhas ferozes, brilhantes duelos de espada e invasões violentas com o objetivo de se apropriar de recursos minerais. Essas últimas histórias tornaram-se parte da rica literatura sobre invasões alienígenas na Inglaterra do fim do século XIX.

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Os contos imaginários foram, por um lado, sem dúvida, inspirados pela semelhança de Marte com a Terra (apenas como exemplo, um dia em Marte é apenas cerca de quarenta minutos mais longo do que um dia na Terra) e, por outro, pela crença equivocada, no fim do século XIX, de que havia uma elaborada rede de “canais” na superfície de Marte. Tais canais fictícios acabaram se revelando apenas ilusões de óptica lineares produzidas pelos telescópios de baixa resolução da época. Os artefatos lineares foram observados pela primeira vez em 1858, pelo padre jesuíta e astrônomo italiano Angelo Secchi, e depois mapeados, em 1877, pelo astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli. Ambos descreveram esses traços em italiano como canali (que quer dizer “canais” e se refere a formações naturais) — palavra que foi traduzida incorretamente como “canais”, dando a impressão de que representavam um avançado sistema de irrigação, projetado e escavado por seres inteligentes. De maneira um tanto inexplicável, o empresário, autor e astrônomo americano Percival Lowell tornou-se um fervoroso defensor da interpretação dos “canais” e passou grande parte de sua carreira tentando provar que Marte era habitado por uma civilização inteligente — um conceito abraçado com entusiasmo durante cerca de meio século por boa parte do público em geral. Na verdade, nós dois, os autores, lembramos que, em nosso tempo de escola primária, muitas pessoas acreditavam que Marte poderia abrigar uma sociedade pensante e desenvolvida.

Uma curiosidade fascinante: o cocriador da teoria da seleção natural na evolução da vida na Terra, Alfred Russel Wallace, publicou em 1907 um livro no qual apresentou uma crítica perspicaz e contundente às ideias de Lowell, concluindo com as seguintes palavras implacáveis: “Marte, portanto, não é apenas desabitado por seres inteligentes, como postula o sr. Lowell, mas é absolutamente INABITÁVEL” [em maiúsculas no original].

De fato, enquanto o século XX avançava, os astrônomos foram ficando cada vez mais céticos em relação à existência de uma civilização marciana. Apesar disso, no fim do século XIX, um número suficiente de astrônomos ainda estava tão convencido de que Marte era habitado que, quando o “Prêmio Pierre Guzman”, no valor de 100 mil francos, foi criado na França para ser concedido à primeira pessoa que conseguisse fazer contato com outros planetas, a comunicação com Marte foi especificamente excluída, por ser considerada fácil demais!

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Para a decepção de muitos cientistas e, na verdade, do público em geral, todas essas fantasias românticas em relação a Marte foram rapidamente destruídas logo após o início da era da exploração espacial. Em particular, as imagens da superfície marciana enviadas pela sonda espacial Mariner 4, em 1965, e imagens posteriores apresentadas por missões mais avançadas que a sucederam — o módulo de aterrissagem Phoenix, em 2008, e o rover Curiosity, em 2012 — revelaram que Marte não passava de um deserto gélido, árido e vazio, repleto de crateras como a Lua, e com uma atmosfera muito rarefeita, com pressão extremamente baixa. Pior ainda, cientistas desolados descobriram que Marte nem sequer tinha um campo magnético global (apenas áreas relativamente pequenas de crosta magnetizada). Em outras palavras, Marte carecia de dois dos principais sistemas de defesa da Terra. A atmosfera terrestre, que mantém a temperatura média da superfície do planeta a cerca de 14ºC e também protege a vida na Terra da radiação ultravioleta prejudicial do Sol e dos raios cósmicos energéticos provenientes do espaço profundo. Da mesma forma, o campo magnético global da Terra protege a atmosfera terrestre da erosão pelo vento solar (partículas carregadas que o Sol emite continuamente) desviando essas partículas para longe do nosso planeta.

Mesmo com essas constatações desanimadoras, Marte continua sendo o principal alvo na busca por vida extraterrestre no sistema solar, embora com expectativas drasticamente reformuladas. Essas possibilidades foram basicamente reduzidas à mera esperança de encontrar evidências de vida microbiana passada (ou presente).

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