Uma Copa diferentona: seis situações inéditas do Mundial do Catar
Competição que acontece entre 20 de novembro e 18 de dezembro, reserva novidades — e uma despedida polêmica preparada pela Fifa
Mais de quatro anos depois que a França não deu chance para a zebra, na grande final disputada em Moscou contra a Croácia, e garantiu seu segundo título do maior torneio de seleções do planeta, a bola vai voltar a rolar no dia 20 de novembro, na Copa do Mundo do Catar.
Desta vez, em um país sem nenhuma tradição futebolística — que garantiu o direito de sediar o evento só pela força da grana (aquela mesma que ergue e destrói coisas belas, como os estádios climatizados que receberão jogadores e torcedores para as 64 partidas mais esperadas do ano).
Pela primeira vez a festa será realizada no Oriente Médio. Mas este não é o único ineditismo desta Copa diferentona. Há outras “novidades” deste Mundial: a primeira Copa disputada em novembro e dezembro; a primeira com estádios tão próximos entre si; a primeira com 26 convocados; a primeira com mulheres como árbitras e assistentes; e a primeira com impedimento controlado pelo VAR — e uma “despedida” que acontecerá (a última com 32 países em busca da taça).
A primeira em novembro e dezembro
Desde 1930, as 21 edições da Copa sempre foram disputadas em junho e julho, ao final da temporada europeia. Este ano, porém, a bola só vai rolar agora, por causa do calor. No meio do ano, são comuns as temperaturas na casa dos 50 graus no Catar.
Em novembro e dezembro, elas são mais “amenas” (máximas em torno de 35 graus). Ainda assim, foram construídos estádios fechados e refrigerados, para garantir a saúde e o bem-estar de jogadores e torcedores.
A primeira no Oriente Médio
Há mais de trinta anos a Fifa deu início a seu projeto de internacionalização. Passou a ter mais países filiados do que a Organização das Nações Unidas — e investe em programas de formação de jovens jogadores (e jogadoras) em áreas em que o futebol é menos desenvolvido. Esse esforço inclui um rodízio na realização dos principais torneios (a Copa e também os Mundiais Sub-20 e
Sub-17, tanto no masculino quanto no feminino).
Assim, foi com um misto de surpresa e resignação que a comunidade da bola recebeu a notícia de que o Catar seria a sede do evento neste ano. A primeira vez no Oriente Médio será no país que é considerado o mais rico do planeta — não faltaram denúncias de que a escolha teria sido comprada, bem como acusações de descumprimento das leis trabalhistas e de direitos humanos durante a construção dos estádios. Tudo para popularizar o esporte na região.
A primeira em um país tão pequeno
É fato que a primeira Copa, em 1930, só teve jogos em Montevidéu. Mas apenas treze países compareceram para a disputa. Agora, pela
primeira vez o Mundial será realizado num país tão pequeno (com 11 610 quilômetros quadrados, o Catar tem metade da área de Sergipe, o menor estado brasileiro).
Assim, a maior distância entre os oito estádios é de apenas 71 quilômetros. Dá para visitar todos num único dia — e acompanhar mais de um jogo sem grande esforço.
A primeira com 26 convocados
Em entrevista a PLACAR, Tite disse que nem todos os treinadores gostaram da decisão. Pela primeira vez, as seleções terão 26 jogadores convocados (e disponíveis) em todos os jogos.
São três vagas a mais em relação aos times que foram à Rússia, em 2018. Mais opções no banco, mais debate entre a torcida para ver quem merece a chance de estar lá — e também mais atrito entre quem entra e quem não entra em campo (confira as listas completas).
A primeira com mulheres juízas
Talvez a mais saudável novidade da Copa de 2022 seja a presença de árbitras e assistentes do sexo feminino. Na lista divulgada em maio, são 36 juízes, 69 assistentes e 24 árbitros de vídeo, entre eles seis mulheres. A brasileira Neuza Back é uma delas.
Entre os homens, nossos representantes são Raphael Claus e Wilton Pereira Sampaio — e isso também é novidade, pois sempre havia apenas um brasileiro nesse grupo.
A primeira com VAR de impedimento
Para o bem e para o mal, o árbitro assistente de vídeo (VAR, na sigla em inglês) chegou para ficar. A novidade este ano é que teremos não apenas a tecnologia que indica, no relógio do juiz de campo, quando a bola cruza totalmente a linha em lances de gol. Estarão em operação também os sensores que vão conferir os lances de possível impedimento.
O sistema é chamado de semiautomatizado porque consegue apontar o momento exato em que a bola saiu do pé do jogador para o
companheiro. A decisão final continua sendo da equipe de juízes que ficam na cabine durante o jogo.
A promessa é que isso agilize o processo, inclusive a divulgação de uma imagem em 3D do lance duvidoso, mostrando as linhas e o posicionamento dos atletas tanto na TV, em casa, quanto nos telões dentro dos estádios.
A última com 32 participantes
Numa Copa com tantos ineditismos, a principal “despedida” é a do número de seleções participantes. Pela última vez serão 32. A partir de 2026, o número de países em busca da taça passa a ser de 48. A Fifa já confirmou que o próximo Mundial será disputado
no Canadá, nos Estados Unidos e no México.
As distâncias são tão grandes que serão criadas divisões regionais, para reduzir os deslocamentos durante o torneio. A previsão
é que haja dezesseis cidades-sede: onze estadunidenses (Atlanta, Boston, Dallas, Filadélfia, Houston, Kansas, Los Angeles, Miami, Nova York, São Francisco e Seattle), três mexicanas (Cidade do México, Guadalajara e Monterrey) e duas canadenses (Toronto e Vancouver).
O inchaço certamente levará equipes com muito menos tradição a participar da festa — com direito a jogos pouco interessantes. Tudo para garantir a tal da internacionalização do futebol sonhada pela Fifa. Mas, por ora, fiquemos no Catar.