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Socorro: perdidos no Palácio de Versalhes

A luxuosa sede das provas de hipismo virou um labirinto enlameado

Por Monica Weinberg, de Paris
28 jul 2024, 10h41

Na porta de Versalhes, segue absoluta a estátua do monarca que mandou construir o palácio, Luís XIV, mas não se vê nenhuma placa nem há um único mortal que saiba informar qual a entrada certa.

A epopeia pela gigantesca propriedade (e agora deu para ter uma boa noção de quão grande é) começou com uma decisão que soava razoável. Não pegar o transporte designado à imprensa, já que o traslado com três trocas de ônibus, segundo o app, exigiria uma espera de uma hora e meia entre estações, enquanto uma ida de Uber levaria 25 minutos, sem escalas. Éramos, eu e o fotógrafo Richard Callis, dois inocentes.

Chegando lá, uma mulher disse que a entrada certa era a 4, a mais de um quilômetro de distância, seguindo o Boulevard da Rainha e botando o pé na lama, literalmente, naquele dia de chuva inclemente. Sem placa, nada, conseguimos desembocar na cara do gol, para assistir à prova de adestramento, modalidade em que homem e animal devem estar elegantemente harmônicos.

Mas aí a realidade passou a se impor, implacável. Revista daqui, revista dali, bufos aos montões, o responsável decide: “Vocês não podem entrar por aqui, tem câmera, tem computador, e a imprensa é no portão 2.” Aquela informação inaugurou todo um novo capítulo.

É REI OU RAINHA?

A lama se infiltrando por dentro do sapato, dá-se início à saga de achar a entrada 2. Um diz que é no Boulevard do Rei, e não da Rainha, à esquerda, logo ali. Outro garante que é à direita, mas longe, inalcançável caminhando. Um policial que só quer ajudar está boiando e consulta o mapa. Nada. “C’est la France”, diz, sobre a bagunça.

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Passa um daqueles carrinhos de golfe levando convidados vip. Suplicamos por uma carona, precisamos trabalhar. Uma voluntária simpática liga para o chefe, depois para o chefe do chefe. Quer ajudar, mas precisa de autorização. Resposta positiva. Era só esperar o carrinho, que os franceses chamam de navette.

Ele nunca veio. Aí nos restou voltar à condição de andarilhos, rumo à estátua do Rei Sol, quando uma voluntária se apiedou de nós. Vai arranjar uma navette. E dessa vez ela vem, para nos levar ao sonhado portão 2. Um sujeito que se apresenta como “oi, eu sou grego” nos conduz. Ufa, vai dar.

PRESENTE DE GREGO

Só que o homem não estava muito a par de suas circunstâncias. Pegou o mapa e, sem se dar conta, foi se afastando do palácio, cada vez mais. E adentrou a cidade num veículo feito para andar a 10 por hora, apenas dentro da propriedade. “Esse carrinho não deveria estar aqui. Errei”, confessa. Enquanto o carro se arrasta, o Waze calcula em 12 minutos o trajeto de volta ao esplendor de Versalhes.

Na estrada, dá-lhe shopping center, hotel de bandeira americana, posto de gasolina – um tour por uma cidade altamente plebeia, nada a ver com o palácio. Aparece uma subida, e o amigo grego pede ajuda. “Pode olhar esse mapa?” Quer desestressar e puxa assunto sobre futebol brasileiro.

De repente, os portões dourados surgem no horizonte quase como uma miragem. Então é só entrar e achar o portão 2, certo? Errado. Uma outra chefe informa que, a partir dali, não será mais o grego, mas ela que guiará a navette.

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Um detalhe: só daria para ir até o portão 4, mais perto, porque o carrinho está sendo requisitado. Vamos esbarrar no mesmo paredão de segurança? “Não”, ela jura. Dá o caso por resolvido e vai embora. Mas resolvido não estava.

ACABOU EM PIZZA

No final, talvez com pena – àquela altura a história dos dois pobres jornalistas já havia circulado pela propriedade – me deixam entrar, mas não o fotógrafo. Uma vez lá dentro, o que restara eram filas e mais filas de gente tentando conseguir, pelo amor de deus, uma pizza. A competição mesmo havia acabado.

Tudo o que pude ver foi o palco da prova, emoldurado pelos famosos jardins e, mais atrás, pelo latifúndio de três Luíses da França. Tocava rock na caixa.
Muita água de chuva na cabeça depois, retomamos nossa já habitual marcha atlética, até a estação de trem para Paris. Ainda cruzamos com um colega japonês, prestes a embarcar no mesmo pesadelo. Ciente do que o aguardava, deu meia volta volver.

Saldo da viagem: 15 quilômetros caminhados e muita lama no pé.

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