Preso, Carlos Arthur Nuzman se afasta da presidência do COB
Em carta, o dirigente do Comitê Olímpico do Brasil garante: "Vou defender minha honra e provar minha inocência diante dos desportistas do mundo inteiro"
Preso desde a última quinta-feira no presídio de Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Carlos Arthur Nuzman, decidiu se licenciar do cargo que exerce desde 1995, quando assumiu o comando do COB. Em comunicado publicado no site da entidade neste sábado, foi apresentada uma carta datada de sexta-feira, na qual Nuzman também confirma o afastamento do posto de presidente do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016 e explica sua decisão: “Somente assim, entendo, poderei dedicar-me ao sagrado direito de defesa, trazendo a necessária tranquilidade para a correta administração do esporte olímpico brasileiro e, logicamente, não interferindo no aperfeiçoamento e desenvolvimento de seus atletas.“
Nuzman já havia sido suspenso pelo Comitê Olímpico Internacional na sexta-feira, o que acarreta no congelamento de todos os pagamentos feitos pelo COI a entidade que gere o esporte olímpico brasileiro. A decisão, porém, não afeta a participação de atletas do país em competições internacionais. Com a punição, Nuzman também foi excluído da Comissão de Coordenação dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.
Está marcada para a próxima quarta-feira uma reunião extraordinária na sede do Comitê para discutir a decisão do COI. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Nuzman deve renunciar à presidência do COB. O dirigente foi alvo central da Operação Unfair Play (Jogo Sujo, em tradução livre do inglês), um desdobramento da Lava-Jato conduzido pela Polícia Federal e Ministério Público que apura um esquema de propinas que garantiu a indicação do Rio como sede da Olimpíada do ano passado.
O agora presidente licenciado do COB já havia sido conduzido pela PF em setembro para prestar depoimento sobre seu envolvimento com Arthur Soares, empresário foragido e acusado de transferir somas milionárias de dinheiro a dois dirigentes senegaleses, Papa Massata e Lamine Diack, o último ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo e membro do comitê que escolheu a sede dos Jogos de 2016.
Confira a íntegra da carta:
Rio de Janeiro, 6 de outubro de 2017.
Aos Membros da Assembleia do Comitê Olímpico Brasileiro
(Aos Cuidados do Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro)
Prezados Senhores Membros:
Não posso deixar o esporte olímpico brasileiro, seus dirigentes e, especialmente, os atletas, serem atingidos, por qualquer forma, pelos acontecimentos e investigações que me envolvem injustamente.
Vou defender minha honra e provar minha inocência, diante das autoridades constituídas, nomeadamente perante o Poder Judiciário. Vou defender minha honra e provar minha inocência diante dos desportistas do mundo inteiro. Vou defender minha honra e provar minha inocência diante daqueles que me acusam e de outros que se omitem. Vou defender minha honra e provar minha inocência aos dirigentes do esporte olímpico mundial, inclusive aqueles integrantes do Comitê Olímpico Internacional.
Para exercer em sua plenitude o meu direito de defesa, até agora violado, afasto-me, a partir desta data, dos cargos de Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e de Membro Nato da Assembleia Geral do Comitê Olímpico Brasileiro. Afasto-me, também, do cargo de Presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
Meu afastamento perdurará pelo tempo que se fizer necessário para minha completa, inquestionável, exoneração de qualquer responsabilidade pela prática dos atos que, indevida e injustamente, me são imputados. Somente assim, entendo, poderei dedicar-me ao sagrado direito de defesa, trazendo a necessária tranquilidade para a correta administração do esporte olímpico brasileiro e, logicamente, não interferindo no aperfeiçoamento e desenvolvimento de seus atletas.
Cordialmente,
Carlos Arthur Nuzman
Presidente