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Pé à frente na defesa de pênalti melhora desempenho de goleiro, diz estudo

Liberado pela Fifa em 2019, movimento conferiu ganho aos porteiros, que saltam mais e com maior velocidade, segundo pesquisa conduzida por brasileiros

Por Ricardo Muniz, Agência Fapesp
20 dez 2022, 10h00

Em 2019, a Federação Internacional de Futebol (Fifa, na sigla em francês) rendeu-se à teimosia dos goleiros e ao receio de obrigar os juízes a repetir demais cobranças de pênalti e permitiu aos defensores colocar um pé à frente da linha do gol no momento mais tenso – gerador de glórias e frustrações – desse esporte. Antes, até o momento de o jogador tocar na bola, o goleiro tinha de manter os dois pés na linha do gol. Se tirasse um dos membros e avançasse, tocando a frente da linha do gol, o pênalti tinha de ser invalidado e batido de novo.

“Com a introdução do VAR isso ficou muito claro, porque todos os goleiros colocavam o pé à frente ou tiravam o pé da projeção da linha para tentar um melhor desempenho”, explica Paulo Roberto Pereira Santiago, professor da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EEFERP-USP). “Então o que a Fifa acabou fazendo em 2019 foi permitir que o goleiro, desde que um pé permaneça na linha, pudesse colocar o outro bem à frente, ou fizesse a famosa passada frontal para ter melhor propulsão e velocidade de saída”, diz Santiago, doutor em ciências da motricidade pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e engenheiro de computação formado pela Universidade Virtual de São Paulo (Univesp).

Estudo liderado pelo pesquisador e publicado na revista Scientific Reports demonstra que os goleiros saíram ganhando com a mudança. O trabalho resulta da pesquisa de iniciação científica de Rafael Luiz Martins Monteiro, apoiada pela Fapesp.

O experimento foi conduzido dentro do Laboratório de Biomecânica e Controle Motor da EEFERP-USP com seis goleiros de futebol profissional e quatro amadores. Eles realizaram 20 saltos, sendo dez para o lado preferido e dez para o lado não dominante, utilizando tanto a regra antiga quanto a regra nova de salto. Os resultados mostraram que os goleiros saltam mais e com maior velocidade com a norma atual. Foi considerada a “lateralidade” do atleta por meio de um questionário, em que o jogador informava sua preferência de salto à direita ou à esquerda.

“Esse dado poderia ter uma influência. Para membro inferior, na questão do salto, é invertido. E o que foi verificado é que o lado não dominante apresenta valores maiores quando comparado com o dominante do goleiro no salto, o que é comum porque, geralmente quando ele tem dominância para a direita, salta melhor com a perna esquerda, que é o membro de apoio ou impulsão.”

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Para fazer a análise o grupo de pesquisa mediu o desempenho de salto com técnica de reconstrução tridimensional do corpo do goleiro, utilizando o mesmo sistema de captura de movimento usado para programar jogos de computador e criar animação. “A gente fazia a reconstrução do goleiro saltando e depois tomava as medidas do ponto de vista da cinemática e da biomecânica para verificar desempenho de saída do goleiro, ângulo e velocidade”, detalha Santiago. Além disso, foram utilizadas duas plataformas de força, que são balanças no chão capazes de medir a força que o goleiro aplicava com a regra antiga e com a atual. Com esses dados foi possível fazer as análises estatísticas e constatar que a capitulação da Fifa à rebeldia dos defensores influenciou para melhor o desempenho dos atletas.

“Provavelmente, essa introdução em 2019 ocorreu porque quase todos faziam isso e era muito difícil retornar a batida do pênalti. O árbitro não tinha condição de verificar em tempo real ali, a olho nu, se o goleiro adiantava ou não o pé e, com o VAR, em praticamente todos os lances ia ter de ficar mandando voltar, porque agora há assistência do vídeo”, pondera Santiago, que atua principalmente nas áreas da biomecânica e engenharia de computação aplicadas ao esporte e exercício físico.

O grupo de Santiago trabalhou em outro estudo, em fase de submissão para publicação, em que a pergunta é se isso também acontece fora de um ambiente de laboratório. “Nesta pesquisa utilizamos técnicas de vídeo com inteligência artificial [aprendizado de máquina] e fizemos a medida dos movimentos do goleiro no campo de futebol.”

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