Obrigado, Pelé: a bela despedida ao rei em Santos
Mais de 230.000 pessoas enfrentaram horas de fila para o adeus ao ídolo na Vila Belmiro. Depois, um cortejo pela orla arrastou multidões
A cidade de Santos viveu trinta horas ininterruptas de uma belíssima e singela celebração à vida de Edson Arantes do Nascimento, o eterno Rei Pelé, que morreu em 29 de dezembro, vítima de câncer no cólon, aos 82 anos. Mais de 230 000 pessoas enfrentaram de duas a três horas de fila para se despedir do ídolo no gramado da Vila Belmiro. Finalizado o velório, um cortejo pela orla arrastou multidões. As bandeiras do Brasil e do Santos cobriram o caixão. O momento de maior emoção se deu no Canal 6, em frente à casa de dona Celeste, a mãe do gênio, que vive acamada, aos 100 anos. Na sacada, Maria Lúcia, a irmã de Pelé, puxou uma reza e acenou aos súditos. Não houve lágrimas ou cantorias efusivas. O tom era de homenagem calma, com sussurros de “obrigado, Pelé”. No fim, quem realmente sempre importou, o povo, esteve ao lado de sua majestade até o fim. Foi lamentável, contudo, a ausência de personalidades do esporte que Pelé revolucionou. Entre os tricampeões de 1970, só Clodoaldo compareceu (há outros quinze ex-colegas vivos). Da campanha do tetra, apenas Mauro Silva, hoje dirigente, esteve na cerimônia. Do penta, nenhum. E Neymar? O menino da Vila, por quem Pelé sempre demonstrou enorme carinho, seguiu treinando no PSG. Foi representado pelo pai. Eis, portanto, a nova era em que as postagens no Instagram, geralmente escritas por assessores, substituíram os gestos reais de afeto. Durante a Copa do Catar, Kaká disse que o brasileiro não valoriza seus ídolos. Aparentemente, se tratava de uma autocrítica.
Publicado em VEJA de 11 de janeiro de 2023, edição nº 2823