O número “proibido” nos times brasileiros
Como o absurdo preconceito inspirado no jogo do bicho alimenta a homofobia nas quadras e gramados
O fato: dos 30 inscritos pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para a Liga das Nações, nenhum levará o número 24 às costas. Foi assim no ano passado – a lista de 25 inscritos pulava o 24. No feminino, contudo, a equipe ia do 1 ao 25, sem interrupção.
Evidentemente, ninguém dirá claramente o motivo da decisão, e não é difícil que alguém alegue ser coincidência. Não é. Trata-se de preconceito, de absurda homofobia impregnada no ambiente esportivo. No futebol é assim há muito tempo.
Na Libertadores, Atlético-MG, Fluminense e Athletico-PR tiraram o número do rol. No Flamengo, Palmeiras e Internacional, a camisa foi para o quinto goleiro, cuja chance de entrar em campo é quase nula.
Em 2020, o meia colombiano Cantillo, contratado pelo Corinthians, foi orientado pelos companheiros a não usar a camisa 24 que usava em seu país. Ao ser apresentado, o então diretor do clube, Duilio Monteiro Alves – hoje presidente – fez uma brincadeira homofóbica sem graça, para não perder a piada, mas perder a razão: “24 aqui não”.
No dia seguinte, teve de pedir desculpas. “Em primeiro lugar, quero me desculpar pela brincadeira infeliz e informal que fiz antes da apresentação do atleta Victor Cantillo.
“O Corinthians é o time do povo, o time das minorias, é o time de todos. E sempre usa sua marca a favor de campanhas contra qualquer tipo de preconceito. Não temos nenhum tipo de problema com o número 24. Em 2012, quando também era o diretor de futebol, fomos campeões invictos da Libertadores e nosso goleiro Cássio, um dos maiores ídolos de toda nossa história, usou essa camisa. Cantillo usará a camisa 8 em homenagem a Freddy Rincón, meio-campista, também colombiano, campeão do Mundo em 2000 e grande ídolo da nossa torcida. Quero deixar claro que tenho total respeito a tudo e a todos.”
Ressalve-se que a lição foi aprendida, e Cantillo agora usa a 24.
A relação do número 24 com o preconceito contra a homossexualidade é antiga no Brasil, influenciada pelo jogo do bicho. Ainda hoje se associa o número ao animal veado, que era o 24 no jogo criado por João Drummond, inspirado no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. Está mais do que na hora de mudar o rumo dessa prosa, em nome da diversidade.