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“O futuro do automobilismo precisa de mulheres”, diz executiva da Fórmula E

Em entrevista a VEJA, Beth Paretta, vice-presidente de Esportes da categoria, fala sobre a necessidade de ampliar o público das corridas de carros

Por Alessandro Giannini, de Madri
Atualizado em 3 dez 2024, 11h07 - Publicado em 3 dez 2024, 07h00

Reconhecida por seus esforços para aumentar a diversidade de gênero nas corridas, a executiva Beth Paretta é uma figura proeminente na indústria do automobilismo. Desde maio, ela atua como vice-presidente de Esportes da Fórmula E, onde supervisiona todas as atividades esportivas e de campeonatos da série.

Paretta ocupou cargos importantes em grandes empresas automotivas, incluindo Volkswagen Group, Aston Martin Lagonda e Fiat Chrysler Automobiles (agora Stellantis). Foi cofundadora da Women in Motorsports North America ao lado da lenda das corridas Lyn St. James, com o objetivo de promover oportunidades para mulheres em todas as disciplinas do automobilismo. Também foi proprietária da Paretta Autosport, uma equipe que fez história ao competir na Indianápolis 500 como um plantel predominantemente feminino. Anteriormente, liderou a Grace Autosport, que tentou competir na Indy 500, mas não se classificou.

A seguir, os principais trechos da conversa que Paretta teve com VEJA em Madri, durante a pré-temporada da Fórmula E no histórico Circuito de Jarama. Perguntas e respostas foram editadas para melhor compreensão.

Como você vê o futuro do automobilismo com as mulheres? O futuro do automobilismo precisa de mulheres. Para contextualizar, minha trajetória profissional se iniciou no ramo automotivo e depois migrei para o automobilismo, onde trabalhei na divisão de performance de uma grande montadora global. Com essa experiência, compreendi as razões pelas quais as empresas investem em corridas: desenvolvimento de engenharia e construção de fidelidade à marca para vender carros.

Como a inclusão do público feminino poderia impactar esse cenário? Há 15 anos, era possível notar a necessidade de mudança no automobilismo para evitar que a indústria entrasse em declínio. A mudança crucial era a expansão do público, pois a audiência do automobilismo era majoritariamente masculina. Essa necessidade de crescimento se dava pelo fato de que as mulheres influenciam as decisões de compra de carros nas famílias. Atrair um novo público, como o feminino, seria benéfico para todo o ecossistema do automobilismo.

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MADRID, SPAIN - NOVEMBER 07: Female drivers pose on the grid during day three of Formula E Pre-Season Testing at Circuito del Jarama on November 07, 2024 in Madrid, Spain. (Photo by Simon Galloway/LAT Images for Formula E)
Pilotas posam no grid durante o terceiro dia de testes de pré-temporada da Fórmula E no Circuito del Jarama, em Madri – (Simon Galloway/LAT Images/Divulgação)

Como fazer isso? Como fã de corridas, percebi a dificuldade em engajar amigas nesse mundo, o que reforçou a ideia de que era preciso buscar um novo público. Aumentar a audiência é uma solução para um problema de negócios, e isso pode ser alcançado convidando novas pessoas a se tornarem fãs.

Por que as mulheres não tiveram sucesso no automobilismo no passado, como a piloto italiana Giovanna Amati nos anos 1990? O sucesso no automobilismo é um jogo de números. No passado, o funil de entrada para mulheres era muito pequeno, mas está se expandindo. Resultados consistentes só serão alcançados quando tivermos mais mulheres nesse funil. Um exemplo claro é a diferença de tempo de volta entre as mulheres nesta sessão de testes [na pré-temporada da categoria em Madri] e a dos homens que treinaram por três dias e meio. O tempo de prática e a experiência são cruciais para melhorar o desempenho.

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Pode dar um exemplo concreto? Lewis Hamilton é um exemplo de piloto que foi lapidado desde jovem pela McLaren, ingressando no sistema aos 11 anos de idade. Ele obviamente tinha talento, mas foi a estrutura que o tornou um campeão. A falta de investimento e apoio para as mulheres se traduz em menos tempo de pilotagem. Historicamente, o automobilismo tem sido um esporte caro, acessível principalmente para filhos de famílias ricas.

A W Series, categoria exclusivamente feminina, não encontrou os patrocínios necessários para continuar. O que faltou para atrair os patrocinadores? A W Series tinha a intenção de ser um degrau na escalada do automobilismo feminino, mas esperava que outras categorias, em níveis mais altos, construíssem pontes com ela. Infelizmente, isso não aconteceu, e a responsabilidade recai sobre as outras organizações.

O que faltou, na sua opinião? A W Series poderia ter se beneficiado de um plano mais claro para o desenvolvimento das pilotos, garantindo mais tempo de treino e investimento em suas habilidades. Na terceira temporada, as pilotos enfrentaram novas pistas com apenas 30 minutos de treino, sob grande pressão. Mesmo pilotos experientes teriam dificuldades nessas circunstâncias.

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Qual seria uma solução? Investir em tempo de pilotagem é fundamental. As mulheres que participam dos testes da Fórmula E estão acumulando quilometragem e aprimorando suas habilidades, o que pode atrair a atenção de chefes de equipe e patrocinadores. É preciso ter uma visão de longo prazo, investindo por três a cinco anos para construir a próxima estrela do automobilismo.

Qual a melhor maneira de inserir as mulheres no automobilismo, com o objetivo de levá-las ao topo: categorias exclusivamente femininas ou mistas? Testes exclusivos para mulheres, como o da Fórmula E, são importantes para incentivar as equipes a darem oportunidades a elas. É preciso mostrar aos homens o potencial das mulheres no automobilismo, seja como piloto, engenheira ou mecânica. Criar oportunidades para demonstrar esse potencial é mais eficaz do que simplesmente falar sobre isso.

Idealmente, homens e mulheres deveriam competir juntos desde o início de suas carreiras. No entanto, enquanto a desigualdade persistir, é necessário criar oportunidades para que as mulheres alcancem o mesmo nível dos homens. Os testes da Fórmula E visam diminuir essa lacuna, proporcionando às mulheres a chance de se desenvolverem e competirem em igualdade de condições.

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Qual sua avaliação sobre os testes da Fórmula E com as mulheres? A profissionalização das pilotos é notável. Elas demonstram dedicação, preparo físico e nutricional impecáveis. Inicialmente, houve dúvidas sobre a viabilidade de encontrar mulheres qualificadas para os testes, mas as equipes se mobilizaram e encontraram talentos. A integração das pilotos às equipes tem sido positiva. A Fórmula E e seus parceiros, como a [fabricante de pneus] Hankook, forneceram todo o suporte necessário, incluindo carros e pneus novos, para garantir que as mulheres tivessem as melhores condições para demonstrar seu potencial.

Você prevê um futuro próximo com mulheres na Fórmula E? O objetivo é ter mulheres no grid da Fórmula E, especialmente na geração 4 dos carros. A entrada não acontecerá na temporada 11, pois todos os lugares estão ocupados. No entanto, com a aposentadoria natural de alguns pilotos, a oportunidade surgirá. A meta é ter pelo menos uma mulher na temporada 12, mas o ideal seria ter duas ou três na temporada 13. Para que elas possam alcançar o sucesso e vencer corridas, é fundamental que tenham contratos de longa duração, por múltiplas temporadas.

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