O City venceu – mas quem perdeu foi a seleção brasileira
A derrota do Fluminense de Diniz fecha ainda mais as portas para o treinador no comando da Seleção - e sabe-se lá o que esperar dele nas Eliminatórias
Quem perdeu por 4 a 0 do Manchester City foi o Fluminense de Fernando Diniz – mas quem levou a pior na Arábia Saudita foi a Seleção brasileira. Diniz, é bom não esquecer, é hoje o treinador (interino? provisório? sabe-se lá o que…) da canarinho. E então, na final de hoje, o que se viu foi o domínio total de Pep Guardiola, técnico do clube inglês, contra o líder do tricolor das Laranjeiras, salvo alguns minutos inócuos. Se Diniz é o que resta para o escrete a caminho da Copa do Mundo de 2026, as coisas andam mal das pernas. Sim, ele é ótimo treinador, põe o time para a frente, levou o Flu ao título da Libertadores, diverte quem está nas arquibancadas ou diante da televisão. Mas, no embate contra outros selecionados – mais modernos, mais equilibrados –, talvez esteja no limite de suas possibilidades. Além, é evidente, de faltarem craques brasileiros que resolvam. Diniz, muito provavelmente, terá sido um interregno da Seleção, o que não significa a certeza de vir nome melhor para o lugar dele.
“Esperando Ancelotti…”
A CBF, em crise permanente, sem presidente, anunciou em meados do ano a contratação do italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid. Ele chegaria em julho de 2024 para o lugar de Diniz, que estaria apenas esquentando a cadeira. Tem jeito de conversa para boi dormir. A história poderia ter um nome inspirado em Samuel Beckett: “Esperando Ancelotti…”. A solução, mal ajambrada, ressalve-se, seria manter Diniz. Mas como, se ele fechou o ano nas Eliminatórias com o Brasil em péssimo quinto lugar, depois de derrota para an Argentina no Maracanã? Mas como, se em partida decisiva como a final do Mundial de Clubes ele nada conseguiu fazer contra Guardiola? Ok, há o aspecto financeiro – o embate entre um clube bilionário e outro não. O dinheiro explica quase tudo, e no futebol não seria diferente. Mas talvez seja o caso de sonharmos com o pé no chão – Diniz não é Guardiola, simples assim. Muito dirão ter sido apenas uma partida, uma única, em que tudo deu errado, desde o primeiro passe errado de Marcelo, aos 50 segundos. Mas não. A derrota é retrato do fosso entre o futebol europeu e o brasileiro. É triste, mas é assim.
Do ponto de vista técnico, de esquema de jogo, a final do Mundial de Clubes foi uma aula para quem acompanha o futebol como se fosse xadrez. Guardiola é adepto do chamado jogo “posicional”. Nele, todas as áreas do campo tem um atleta a rondá-la, fechando espaços, em posições razoavelmente fixas. A grosso modo: onde está a bola, ali está alguém de azul claro, ao menos um, muitas vezes dois ou três. Diniz é adepto do modelo “aposicional”, no qual os craques vão mudando de posição, se mexendo com desenvoltura – e muitas vezes, ao longo do ano, o lateral-esquerdo Marcelo foi visto lá no ataque. Ambos – o “posicional” e o “aposicional” – funcionam, e não por acaso o City é campeão europeu e o Fluminense, da Libertadores. Mas no embate entre um e outro, parece claro: a ideia de Guardiola, ainda que possa soar um tantinho mais burocrática, é melhor. Disse Guardiola ao defender seu estilo: “Sou fã do ataque posicional. Ou seja, de forçar a equipe adversária a permanecer na própria área, sem poder sair. São poucos os que jogam assim. Por que? Porque é preciso uma grande dose de humildade da parte dos atletas(…) o ataque posicional implica que, como jogador, eu não participe por bastante tempo, mas ainda assim estarei ajudando o time. Quando participar, estarei sozinho e serei decisivo”.