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O campeão do mundo antecipado: o dinheiro do Catar

Dono do PSG, um dos fundos de investimentos do país terá na final dois de seus garotos-propaganda, Messi e Mbappé. O terceiro ficou apenas nos outdoors

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 dez 2022, 06h00

DOHA – O sonho do governo do Catar, uma monarquia absolutista regada a petrodólares, era uma final de Copa do Mundo com Lionel Messi, Kylian Mbappé e Neymar em campo – diante da impossibilidade, ter dois deles amanhã no Lusail já seria espetacular. E então, pela primeira vez na história, haverá uma decisão em que os dois camisa 10 jogam no mesmo clube, o Paris Saint-Germain. O clube transformado em vitrine dos negócios cataris é a casa de alguns dos grandes nomes do futebol, embora não tenha ganhado nenhuma vez a Champions League, assunto para outra reportagem.

O que vale agora é mostrar o plano do Catar na compra do PSG, em 2011, e porque a ideia chegou ao ápice agora em 2022. Ter uma equipe forte na Europa era o objetivo inicial. Acrescentar na alquimia a realização da Copa, cuja escolha de sede foi também movida a dinheiro, por óbvio, era a segunda etapa.  O terceiro golaço exigiria alguma sorte – mas nem tanta assim – para que Argentina, França e Brasil, ao menos um deles e de preferência dois, disputasse a taça. Deu certo.

Em 2011, o clube francês foi adquirido pela Qatar Sports Investment (QSI), subsidiária da Autoridade de Investimento do Catar, o fundo de riqueza soberano do emirado. O acordo incluía o derrame de 1 bilhão de euros nas cinco primeiras temporadas e o negócio não parou de crescer. O mandachuva do time é Nasser Ghanim Al-Khelaifi, de 46 anos, um filho de pescadores que não nasceu rico mas soube navegar em contas bancárias. Ele iniciou sua aventura no esporte dentro das quadras, como um tenista medíocre. Representou o Catar em disputas da Copa da Davis e, segundo dados da Federação Internacional de Tênis, ganhou apenas 12 partidas e perdeu 39 em sua carreira profissional, encerrada em 2002.

Em seguida, iniciou sua trajetória de sucesso nas finanças. Próximo ao emir do país, Tamim ben Hamad Al Thani, Al-Khelaifi tornou-se político e depois empresário. Foi presidente do grupo de mídia beIN, canal esportivo que arrebatou os direitos de transmissão de grandes campeonatos, e um dos patrocinadores atuais do PSG. Nomeado presidente do clube francês logo depois da compra do clube pelo fundo catari, rapidamente ganhou a simpatia dos torcedores ao promover a volta das torcidas organizadas ao estádio Parque dos Príncipes e ao contratar grandes estrelas, como David Beckham e Zlatan Ibrahimovic. O definitivo pulo do gato foi a compra de Neymar em 2017 (222 milhões de euros) e Messi em 2021 (que tinha o contrato encerrado no Barcelona e recebe 41 milhões de euros anuais).

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“Estou orgulhoso por ter dois jogadores, os dois melhores jogadores do mundo, que disputam a final no meu país. É o melhor cenário”, declarou Al Khelaifi ao canal francês RMC, uma frase que talvez não deixe Neymar, o 10 do PSG, muito contente. O dono da grana ainda desconversou sobre sua torcida. “Somos um clube francês e meu segundo país é a França, mas por Messi, que talvez jogue última Copa do Mundo, fico dividido. […] Estou louco para estar nessa final porque é um grande prazer e um grande orgulho para mim como presidente do PSG. Se dependesse de mim, daria o título aos dois”, disse. Mais político, impossível.

O governo do Catar apostou no PSG e na Copa do Mundo para fazer valer o seu estilo de soft power do ponto de vista de diplomacia internacional – uma tentativa de esconder os problemas de desrespeito aos direitos humanos, misoginia e homofobia. Não é possível dizer que tudo funcionou, porque o Mundial acabou iluminando os problemas, divulgados pela imprensa do mundo inteiro.

Do ponto de vista da economia, contudo, ganharam na loteria. Os valores não foram divulgados, mas ter a turma do PSG na boca do povo, até o derradeiro segundo, é sinônimo de lucro. Pouco importa o resultado de Argentina e França – o Qatar saiu por cima. Com “Q” mesmo, e não “C”, de Catar. O campeão do mundo  é o Qatar Sports Investment (QSI) e o governo que o alimenta. E Neymar, que ficou de fora da festa? Não ficou. Ele circula em painéis nas estações de metrô, na entrada dos estádios, nos shoppings etc. como garoto-propaganda da principal operadora de celular do país, além de outros patrocinadores. Divide espaço com Messi e Mbappé. Não foi por boniteza, mas por necessidade de contrato, que o camisa 10 brasileiro disparou uma nota de agradecimento aos organizadores do torneio em suas redes sociais: “Obrigado Qatar, por tudo… a Copa estava linda e ela tinha que ser do BRASIL para coroar tudo, mas por destino de Deus não foi”.

O presidente do Paris Saint-Germain, Nasser Al Khelaifi dir), visita Neymar (centro), na casa do jogador, localizada em Mangaratiba, litoral sul do Rio de Janeiro
Nasser Al Khelaifi (dir), visita Neymar (centro), na casa do jogado em Mangaratiba: o brasileiro foi comprado em 2017 por 222 milhões de euros (Instagram/@neymarpai_/Reprodução)

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