Na Índia, atletas da luta livre denunciam assédio sexual no esporte
Populares no país, esportistas pedem investigação contra presidente da federação
Uma sequência de protestos liderados por atletas indianas de luta livre está trazendo à tona relatos de assédio no meio esportivo. As lutadoras pedem a prisão de Brij Bhushan Singh, chefe da Federação Indiana de Luta Livre (WFI, na sigla em inglês), acusado de má conduta sexual generalizada. Singh se declara inocente. No entanto, as esportistas reivindicam que investigações sejam iniciadas e ameaçam jogar suas medalhas no rio Ganges caso nenhuma atitude seja tomada. Os policiais usaram a força para conter as agitações. A União Mundial de Luta Livre (UWW, na sigla em inglês), condenou o tratamento dado às lutadoras e corroborou o pedido de investigação.
A UWW também cobrou da Associação Olímpica Indiana a realização de novas eleições para a chefia da WFI no prazo de 45 dias, respeitando um acordo firmado em abril. A União Mundial de Luta Livre alertou que o não cumprimento dessa prerrogativa pode resultar na suspensão de atletas indianos, o que os impede de competir usando a bandeira do país, obrigando-os a usar uma bandeira neutra. A decisão pode ter um grande impacto, dado que a luta livre é o esporte de maior sucesso na arena olímpica, com lutadores conquistando 6 das 21 medalhas conquistadas por atletas indianos.
A onda de denúncias começou em janeiro de 2023, quando a lutadora Vinesh Phogat, bicampeã mundial, disse ter recebido denúncias de assédio sexual contra Singh. Phogat disse que ao menos 10 mulheres comunicaram esse tipo de violência e alertou que casos anteriores relatados às autoridades desapareceram ou fizeram com que atletas fossem impedidas de competir novamente.
Outra lutadora, a medalhista olímpica Sakshi Malik, alegou que Singh também maltratou mulheres por anos, por meio de comportamento sexista, como envergonhar o corpo, chamando-as de “masculinas” e fazendo comentários sobre suas roupas. Desde então, vários campeões de luta livre, realizaram protestos em Delhi para exigir ação contra o dirigente. Eles também desistiram de campeonatos e torneios e ameaçaram se desfazer de suas medalhas e fazer greve de fome caso nada seja feito.
Singh, que esteve a frente do WFI por mais de 10 anos, nega as acusações e prometeu se enforcar ou aceitar qualquer tipo de punição caso alguma denúncia se confirme verdadeira. Ele foi suspenso do cargo em janeiro, depois que as primeiras acusações vieram a público. Em 25 de abril, o Ministério do Esporte da Índia disse que o WFI precisava de um comitê interno de reclamações mandatado por lei. No entanto, não abordou as acusações contra Singh, que desde então voltou a presidir os torneios de luta livre.
Em maio, as lutadoras levaram uma petição ao Supremo Tribunal Indiano acusando a polícia de não registrar acusações contra Singh, apesar do acúmulo de denúncias. O dirigente foi interrogado, mas ainda não foi feita uma acusação formal. Além das denúncias de assédio, existem outras quatro investigações criminais pendentes contra Singh, incluindo uma acusação de tentativa de homicídio.
Um recente pedido de acesso à informação revelou que 45 queixas de má conduta sexual foram apresentadas contra treinadores e dirigentes da Autoridade Esportiva da Índia (SAI) entre os anos de 2010 a 2020.