Na Coreia do Norte, a eliminação da seleção ainda na primeira fase da Copa do Mundo da África do Sul custou aos jogadores muito mais do que críticas do público e da imprensa. No país do ditador Kim Jong-Il, a punição aos atletas e ao técnico, Kim Jong-hun, foi uma humilhação pública de seis horas comandada pelo ministro dos Esportes, Pak Myong-chol.
Em uma reunião no Palácio da Cultura, em Pyongyang, os jogadores e o técnico tiveram de se apresentar perante uma plateia de 400 integrantes do governo, estudantes e jornalistas para ouvir Pak falar por seis horas a respeito da fraca atuação do time na África do Sul. O discurso incluiu acusações de traição não só a Kim Jong-Il, mas também a seu futuro sucessor, Kim Jong-un, e a seu pai, Kim Il Sung – o fundador e oficialmente presidente eterno da Coreia do Norte, morto em 1994.
Em 2 de julho, os jogadores já haviam sido submetidos uma “conversa” por terem falhado na “luta ideológica” do país. Na ocasião, os atletas foram obrigados a acusar o técnico pelo fracasso. Como punição, Kim Jong-Hun foi excluído do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte.
O país não disputava uma Copa do Mundo desde 1966, e acabou perdendo todos os três jogos disputados na primeira fase, com direito a uma goleada de 7 a 0 para Portugal justamente no dia em que a televisão estatal do país realizava sua primeira transmissão ao vivo da história. Transmissões do tipo haviam sido censuradas justamente para evitar vergonha nacional diante de possível derrotas, mas foram liberadas pelo governo após a partida em que os norte-coreano perderam de 2 a 1 para o Brasil.
Na vizinha Coreia do Sul, a imprensa classifica como “branda” a punição aos jogadores – para os padrões norte-coreano, claro. “No passado, os atletas norte-coreanos e os treinadores que não conseguiam bons desempenhos em suas competições eram enviados para campos de prisioneiros”, disse uma fonte da inteligência sul-coreana ao jornal Chosun Ilbo.