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Interesse pelas corridas de rua dispara entre os brasileiros

A busca por um cotidiano saudável faz com que um número crescente de pessoas calce os tênis e pratique o esporte

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h18 - Publicado em 25 fev 2024, 08h00

Quando começou a treinar e se preparar para uma maratona, no início de 1993, o médico Drauzio Varella, hoje com 80 anos, foi tratado com espanto pela família e pelos amigos. “Lamentavam a falta de discernimento, riam, pediam que contasse outra piada, diziam que eu morreria no percurso e que 50 anos era idade precoce para as primeiras manifestações do mal de Alzheimer”, escreveu em Correr, livro em que passeia pela prática do exercício. “Eram reações previsíveis em uma época em que quase ninguém no Brasil praticava corrida com regularidade”. Trinta anos depois, o cenário é absolutamente diferente. No ano passado, a prova da São Silvestre, uma das mais populares do país, teve que encerrar as inscrições dez dias antes do prazo estipulado, pois já havia atingido o limite de 35 000 atletas. Apenas em 2023, foram realizadas mais de 150 000 disputas de rua, registradas pela Associação Brasileira de Corridas de Rua. O Brasil tem hoje 13 milhões de corredores, segundo a TicketSports, maior plataforma de venda de inscrições para eventos esportivos no país. E o interesse só cresce.

selo corridas

A simplicidade é um dos óbvios motivos para que tantas pessoas busquem a corrida como forma de manter a boa forma. Basta ter um bom par de tênis e roupas confortáveis. Se o cenário for bonito, melhor ainda. Não à toa, a Maratona do Rio de Janeiro, com as paisagens deslumbrantes da cidade maravilhosa, é uma das favoritas dos atletas amadores, que encaram o calor intenso para concluir os 42 quilômetros. Há, também, evidentes benefícios para a saúde. Cerca de 70% dos músculos do corpo são ativados já nos primeiros passos. A temperatura corporal aumenta, e a adrenalina começa a ser liberada. Cerca de vinte minutos depois, a endorfina dá as caras e o esforço inicial dá lugar ao prazer. Quem começa a praticar se apaixona pela sensação de euforia. E, é claro, as redes sociais são inundadas de cenas de pés no asfalto, medalhas e — por que não — pódios.

A professora de literatura Amanda Vieira é uma das novas atletas amadoras que descobriram o prazer de correr. Embora estivesse acostumada aos exercícios físicos e mantivesse um estilo de vida ativo, foi apenas em 2023 que ela decidiu arriscar algumas passadas mais rápidas. Começou na esteira, como forma de lidar com a ansiedade e o estresse, mas logo migrou para as ruas cariocas. “Senti vontade de experimentar o prazer que os corredores tanto falavam a respeito”, conta. Viajou do Rio de Janeiro para São Paulo para participar da São Silvestre e, agora, treina para superar o desafio de percorrer uma maratona. “Digo, com toda certeza, que a corrida me transformou em uma pessoa mais forte.”

PAIXÃO PELO ESPORTE - Embora já levasse uma vida ativa, a professora de literatura Amanda Vieira começou a correr somente no ano passado. Participou de provas como a São Silvestre e agora treina para encarar o desafio da maratona. “Me tornei mais forte”, conta ela.
PAIXÃO PELO ESPORTE – Embora já levasse uma vida ativa, a professora de literatura Amanda Vieira começou a correr somente no ano passado. Participou de provas como a São Silvestre e agora treina para encarar o desafio da maratona. “Me tornei mais forte”, conta ela. (./Arquivo pessoal)
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Nesse cenário aquecido, é natural que as empresas de materiais esportivos disputem a atenção e os recursos dos corredores amadores. É o caso da Vulcabras, que detém os direitos das marcas Olympikus e Mizuno. Com modelos como o Corre, escolhido pelos usuários do aplicativo Strava como um dos preferidos para correr, e do Supra, tênis leve, de alta performance, que deve chegar ao mercado no mês que vem, a empresa quer cativar esse nicho do mercado. “As corridas e os corredores são nosso objetivo número um”, diz Márcio Callage, diretor de marketing da companhia. O bom momento tem atraído até novas marcas, como a suíça On Running. “O Brasil é um dos mercados que mais crescem nessa categoria, deixando amplo espaço para crescermos ao lado dos consumidores”, diz Fiorella Palacios, gerente-geral da On Running para América Latina e Caribe. Além de lançamentos como o Cloudmonster 2, que chega agora ao país, a empresa tem se associado a personalidades do esporte, como a ultramaratonista Giovanna Martins.

Parte fundamental dessa estratégia envolve a realização e o patrocínio das provas de rua. O caso mais emblemático do momento é o da TFSports, braço de promoção de eventos esportivos da Track&Field, fabricante de vestuário próprio para a prática, que promove um circuito de corrida com 75 etapas espalhadas pelo Brasil. “Não há marketing melhor do que investir em estruturas de práticas esportivas”, diz Fred Wagner, diretor-­executivo da TFSports e fundador da marca. Quem se inscreve recebe camiseta do evento, medalha ao concluir a prova e brindes dos patrocinadores, além de ter acesso a massagens, cafés da manhã e outros mimos antes e depois das atividades. Na palavra da moda, um tanto vazia, participam de “experiências”, atreladas a um estilo de vida mais saudável. Costumam cruzar a linha de chegada sorrindo, em fotos que viralizam. Sorrir, no fim das contas, é o que importa.

Publicado em VEJA de 23 de fevereiro de 2024, edição nº 2881

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