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‘Ela enfrentou a incerteza e a dor’, diz a psicóloga de Rebeca Andrade

Aline Wolff vem acompanhando os altos e baixos da agora dona de um ouro na ginástica há mais de uma década

Por Monica Weinberg, de Paris
Atualizado em 8 ago 2024, 11h38 - Publicado em 8 ago 2024, 10h45

Quando conheceu Rebeca Andrade, a ginasta que ascendeu ao panteão das melhores e fechou a Olimpíada de Paris com um ouro inesperado, a psicóloga Aline Wolff encontrou uma menina de 13 anos que lidava com as asperezas de uma infância pobre, em pleno desenvolvimento. Nestes anos todos, houve muitos aclives e declives — a ponto de Rebeca achar que não daria mais para ela, tantas eram as lesões e a dor.

Na arena de Bercy também foi dura a vida. Lá estava, do outro lado do tablado, a multimedalhista Simone Biles, em busca de mais. Medo todo mundo tem, mas Rebeca, 25 anos, espantou os seus e acabou levando a medalha dourada no solo, que todo mundo apostava já ter destino certo: a coleção de Simone.

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Aline Wolff com George e André, do vôlei de praia, no circuito mundial, antes dos Jogos de Paris (@alinewolffpsi/Instagram)

Uma vez alçada ao topo do pódio e vivendo dias de celebridade, cercada de flashes e gente querendo saber o que veste e o que come, a ginasta segue sob o olhar de Aline, que, como integrante da equipe do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), cuida da cabeça de outros atletas ainda no páreo. Em Paris, ela falou a VEJA.

Em meio a uma competição tão difícil e rodeada de expectativas, Rebeca teve medo?

Medo todo mundo tem. A questão essencial é como lidamos com ele. E ela conseguiu muito bem, estava segura do que podia fazer.

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O fator Simone Biles a assustava?

Na verdade, fizemos um trabalho para que a Simone não fosse o foco. Nunca foi. Rebeca estava centrada no dela e deixa um bom exemplo neste terreno da saúde mental: ela mostrou como é possível ir longe, testar limites e sair inteira, com a cabeça no lugar.

Dos 13 anos, quando a conheceu, até hoje, quais momentos agudos da trajetória de Rebeca a senhora viu de perto?

Ela teve muitas lesões, o que lhe trouxe uma dor não só física, mas também psicológica, a dor da incerteza sobre se daria para seguir a vida de atleta.

De que modo isso a impactou? Quando seu corpo não respondia e achava que não poderia mais voltar às competições, sentia uma tristeza profunda, sem se deprimir. Muito bem cuidada pela equipe à sua volta, o interessante é que tudo pelo que passou a fortaleceu.

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Rebeca dá um passo e logo pipoca um flash. A mudança de patamar alcançada em Paris será combustível para as conversas entre vocês?

A situação toda que ela está vivendo é maravilhosa, mas sujeita a estresse, e aí é preciso ficar atento. O risco é a pessoa se descolar de seus valores e perder o contato com ela mesma. Mas Rebeca está muito bem. Vai voltar para casa com a cabeça feita.

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