Depois de três meses de sumiço, Justiça enfim encontra Nelson Piquet
Citado para apresentar contestação à acusação de racismo contra Lewis Hamilton, brasileiro pede arquivamento de processo
Depois de mais de três meses de procura, a Justiça de Brasília conseguiu notificar o tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet para que ele apresente uma contestação judicial no processo em que é acusado de racismo e homofobia contra o heptacampeão inglês Lewis Hamilton. Em uma entrevista em 2021, Piquet descrevia a relação de rivalidade entre Hamilton e seu antigo companheiro de equipe Nico Rosberg quando se referiu ao inglês como “neguinho” que “devia estar dando o c…”. Com base nessas declarações, Piquet está sendo processado e, se condenado, pode ter de desembolsar 10 milhões de reais em danos morais coletivos e danos sociais.
Notificado no último dia 10 de novembro, Piquet apresentou sua versão dos fatos à Justiça na sexta-feira, 2, e pediu o arquivamento do caso, argumentando que, embora tenha utilizado palavras chulas e reprováveis em todos os aspectos, não é racista e tampouco proferiu discurso de ódio contra negros ou contra a comunidade LGBTQIA+. As declarações reverberaram na imprensa internacional e o Clube dos Pilotos Britânicos decidiu suspender a inscrição do brasileiro, e a Fórmula 1, banir o ex-atleta do paddock. Hamilton, por sua vez, disse em uma rede social que “essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e fui alvo por minha vida toda. Já houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação”.
Na resposta à Justiça, a defesa de Nelson Piquet afirmou que o tricampeão já se retratou pelas falas impróprias e pediu desculpas “de coração a todos que foram afetados, incluindo Lewis, um incrível piloto” e afirmou que a tradução do termo “neguinho” por “nigger”, palavra de cunho altamente agressivo, teria tirado suas declarações de contexto. Na peça, os advogados do ex-piloto também alegam que o fato de Lewis Hamilton ter sido avo de suas palavras não permite que se apresente um pedido de danos coletivos, já que, por não haver “ofensa à população negra ou à comunidade LGBTQIA+ em geral”, apenas o inglês poderia, se quisesse, abrir um processo contra o ex-atleta. “Além de Nelson Piquet ter se retratado e desculpado espontaneamente por suas palavras, não é possível transbordar eventuais danos que ficariam restritos à esfera individual de Hamilton a toda a população negra e comunidade LGBTQIA+, muito menos configurar o uso de palavras inadequadas e de baixo calão pelo Réu como discurso de ódio”, dizem os advogados de defesa do tricampeão.
O juiz Felipe Costa da Fonseca Gomes, da 20ª Vara Cível de Brasília, já havia decidido que não era cabível uma conciliação com o ex-piloto para o encerramento do processo e agora dará andamento ao caso.